Apesar dos primeiros indícios começarem a surgir algumas semanas antes e terminarem semanas depois, Agosto é por tradição o mês de ouro da silly season. O mês em que tipicamente o país está a banhos, em que nada de muito importante se discute ou decide. O mês em que a actualidade é invadida por insólitos, catástrofes naturais e criminalidade q.b.
No entanto, como já tem sido notado por muitos, este ano não há direito a silly season. Pelo contrário, tudo o que se está a passar é de tal forma grave que não permite descanso. Um Verão tão Quente que não convida a banhos. Temos um Governo a aplicar a todo o gás uma série de medidas de austeridade, ora apoiando-se no compromisso assumido com a troika, ora supondo que é preciso ir ainda mais além do que o acordado. Temos o maior partido da oposição a dar o seu aval à onda reformadora e temos uma opinião pública anestesiada pelo estado de graça que os Executivos normalmente beneficiam nestes períodos. A este ritmo, não haja dúvida que em poucos meses poder-se-ão liquidar direitos que há muitos anos vinham sendo atacados, mas que bem ou mal iam sendo mantidos.
E mais aí vem. Aumentos previstos nos passes sociais, cortes nos direitos e eventuais despedimentos na função pública, revisão da lei laboral, privatizações, revisão do conceito de serviço público, entre outras medidas cujos efeitos nem necessitam de ser enumerados. No fundo, um pacote a que já estávamos habituados, mas não com a intensidade com que agora está a ser aplicado.
Este é um Verão que promete, infelizmente não pelos melhores motivos. Esperemos que a rentrée inicie um processo sério de resposta às políticas em curso. Porque está visto que a vergonha é uma cena que não lhes assiste.