De uma fase em que o país parecia estar quase sem reação perante a terrível austeridade imposta, parece agora finalmente ter-se chegado a um ponto de viragem. As pessoas sabem que os seus bolsos não suportam mais a austeridade, e é-lhes também cada vez mais evidente que a receita aplicada não está a levar a lado nenhum. Pelo contrário, o país está pior em todas as dimensões. Da dívida externa ao desemprego, do PIB ao consumo. E as perspetivas não são para melhorar. Só mesmo os mais burros podem achar que, com este caminho, chegaremos a um qualquer bom porto
O anúncio na semana passada do novo pacote de duras medidas surgiu como uma bomba nos mais variados setores. Rapidamente deixaram de ser apenas os sindicatos e a esquerda radical a indignar-se e a mobilizar-se contra o que aí vem. Das associações de empresas aos mais insuspeitos setores da direita política, da esquerda moderada ao eleitorado flutuante, todos começam a opor-se seriamente à receita que persiste em ser seguida.
Como é natural, para quem desde sempre ocupa o campo político anti-troika, e que há apenas uns meses atrás era simplesmente apelidado de “radical perigoso e irresponsável”, este súbito reposicionamento de alguns setores tem o seu quê de incoerente. Ou de oportunista até. E olhando até para as visões muito para lá da esquerda que ocupam agora o campo de oposição à política da troika e deste Governo, dos monárquicos a Ferreira Leite, dificilmente se encontra a coerência mínima que permita perspetivar algum tipo de entendimento sobre caminhos alternativos. De qualquer modo, importa ter presente que os momentos de viragem são feitos de confluências de vontades muito diversas, algumas inconciliáveis até. Mas é precisamente essa massa tão diferente que permite a agregação de força suficiente para proporcionar a mudança.
As manifestações que amanhã ocorrerão por todo o país têm todas as condições para ser um dos pontos altos da referida viragem. A mobilização adivinha-se grande, ganhando até algumas semelhanças com o que antecedeu no 12 de Março de 2011. O Congresso Democrático das Alternativas, agendado para o próximo 5 de Outubro, contribuirá, também, para dar coerência programática a esta onda anti-troika, fazendo as necessárias pontes entre setores diversos da esquerda e apresentando soluções alternativas concretas. Os dados estão lançados para que se comece a destroikar Portugal. Vamos a isto!
Artigo publicado na sexta-feira no Esquerda.net
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