quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Da Grande Trapalhada ao Governo Zombie


A "grande trapalhada" sobre a possibilidade de aplicar a Portugal as mesmas condições da Grécia veio mais uma vez demonstrar toda uma linha de atuação do presente Executivo: ser forte com os fracos e fraco com os fortes. Ou seja, o Governo age internamente como um leão, nem pestanejando em cortar nos salários, em reduzir o estado social, em implementar novos impostos, sempre com o argumento do memorando assinado. Curiosamente (ou não), nos palcos onde se decide de facto o futuro do país, o mesmo Governo atua como um cordeiro tonto e irresponsável. Demonstra estar sobretudo preocupado em parecer bem e em garantir a confiança de uma série de atores que não têm propriamente contribuído para o bom sucesso do país.

Este jogo de máscaras entre o que se quer apresentar interna e externamente é uma imagem de marca há muito assumida por este Governo, com todas as consequências desastrosas que estão à vista de todos. Basta, por exemplo, ter em conta o argumentário há muito utilizado para não se querer renegociar a dívida. Segundo Passos@friends, tal tentativa de mudança das regras seria uma violação do compromisso assumido perante os credores. Queremos portanto honrar os nossos compromissos custe o que custar. No entanto, tal atitude honrosa só se aplica externamente. Porque no que aos compromissos políticos, económicos e sociais com os portugueses diz respeito, aí parece já não haver problema em não os cumprir. Alterar idades de reforma, acabar com subsídios de férias e de natal, mudar regras das prestações sociais, são todos compromissos menores face à urgência de não desiludir os credores.

O que agora se passou sobre termos ou não acesso às condições mais vantajosas atribuídas à Grécia é perfeitamente coerente com esta linha de atuação. Depois de alguma descoordenação no discurso a este respeito, pelos vistos não queremos as condições mais benéficas da Grécia, porque não queremos ser comparados com a Grécia. (?!) Um argumento algo doentio, que não só revela uma miopia total sobre a inexistência de indicadores positivos em resultado da política de austeridade, como faz tábua rasa da tragédia social que a mesma tem vindo a provocar. 

Mas a grande trapalhada deve também mostrar aos portugueses qual a verdadeira vontade do atual Executivo. O que o move, como se move e por quem se move. Mesmo tendo em conta todos os prejuízos que a atual política tem gerado junto dos portugueses, o Governo de Passos Coelho demonstrou neste processo uma quase doentia falta de vontade de mudar. Tendo-lhe sido oferecida numa bandeja a possibilidade de suavizar a austeridade, conseguiu de forma quase criminosa rejeitar tal oportunidade. E embora comecem agora a aparecer as promessas de, algures no futuro, lutar devidamente pelos interesses nacionais, este episódio não deixa de ser elucidativo sobre a falta de lucidez a que estamos condenados neste tipo de situações. Uma falta de lucidez convicta porque se encontra perfeitamente em linha com as suas convicções políticas

A postura do "forte com os fracos, fraco com os fortes", esta espécie de cobardia política, é uma forma de estar do presente Executivo, que apenas subsiste porque parece que os seus efeitos nefastos não estão ainda a ser levados devidamente a sério. São cada vez mais as vozes que consideram estarmos perante um Governo Zombie. Apesar de morto politicamente, continua a vaguear por aí assustando tudo e todos. Tendo a concordar, sublinhando no entanto o perigo que representa. Sim, porque, zombie ou não, os estragos que provoca são cada vez maiores. 

Artigo ontem publicado no Açoriano Oriental

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