Até há apenas umas semanas atrás, era certo que Passos Coelho seria o próximo primeiro-ministro. Só não se sabia quando. O desgaste da governação PS era uma evidência que estendia uma passadeira vermelha ao jovem e dinâmico líder laranja. Mas eis que no espaço de poucas semanas o cenário começou a mudar. Passos está a conseguir a grandiosa façanha de descer nas sondagens perante um Governo que se encontra a tomar medidas de austeridade sem paralelo. Um feito, sem dúvida.
Sócrates, por seu turno, faz questão de contrariar mais uma vez o diagnóstico de poucos meses de vida política que lhe fora atribuído. A persistência e descaramento impressionantes com que continua em jogo dão-lhe um estatuto de animal político que o país tão cedo não esquecerá. A sua capacidade de se adaptar, dê por onde der, a novos cenários, de desdizer o que ontem disse, de defender o que anteontem criticava, garantem-lhe pelo menos 7 vidas. O que consegue ser entendido por algum eleitorado como esquizofrenia política, para outro é encarado como força e convicção.
É neste cenário que se processará a campanha eleitoral. E se é ingénuo acreditar-se em campanhas sem casos, não haja dúvidas que é nestes momentos de grande competitividade que eles mais tendem a aparecer. Esta será portanto uma campanha repleta de “lateralidades”. A forma como surgiu a questão do encontro de Sócrates e Passos Coelho é um exemplo de como, perante a ainda pouco oleada máquina do PSD, o PS mostra que vai jogar neste campeonato dos casos para ganhar.
Estamos assim perante um cenário em que as favas não estão contadas ao centro. E, por estranho que à primeira vista possa parecer, não vai ser fácil para os partidos à esquerda demonstrar que existe um caminho alternativo ao precipício para onde nos dirigimos. Vai ser necessário ser-se creativo, inteligente, claro e assertivo. Vai ser preciso evitar as soluções acabadas e os discursos feitos, ganhando a confiança de diversos actores políticos e sociais e mostrando diversidade e riqueza programática. Enfim, receitas batidas e lugares comuns cuja aplicação será de facto determinante no actual cenário. Porque cada fava fará a diferença no combate eleitoral em curso.
Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Os petiscos de Leonor)
2 comentários:
A procissão ainda vai no adro, mas não consigo ver, com pena, que à esquerda os dois partidos não conseguem descolar nas sondagens.
A Esquerda que se mexa, ou acontece como na Finländia, em que os populistas levaram-lhes os votos dos remediados descontentes e/ou desempregados!
Populistas de direita a comer eleitorado de esquerda? É que eles só säo de direita nos valores sociais, economicamente säo muito à esquerda e defendem o Estado Social! E como o que einteressa lá como cá é a Economia...
Sim, porque o Portas é o Soini português (ou vice-versa), e Jerónimo e Louçä já deveriam ter acordado, com um raio!
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