sexta-feira, 1 de abril de 2011

Para um liberal, o FMI não é uma catástrofe

No dia em que o PSD garantiu ajudar o Governo caso seja necessário pedir ajuda externa, importa constatar que a forma como o partido de Passos tem desdramatizado tal cenário faz grande sentido em termos ideológicos. Dado tratar-se da direcção mais liberal que o PSD alguma vez teve, o FMI ou a ajuda europeia seriam um apoio de peso na implementação da linha política preconizada pela actual direcção: emagrecimento e recuo do Estado, contenção nos salários da função pública, flexibilização do mercado de trabalho, baixas no IRC, etc.

Como é sabido, as reformas estruturais de tipo FMI correspondem na essência a uma abordagem liberal para o crescimento económico. Assim sendo, estranho seria que este PSD, que se assume como liberal, visse o FMI como uma catástrofe.

9 comentários:

Tiago Tibúrcio disse...

E a pergunta de sempre Ricardo: como é que o BE votou contra o PEC IV (espera, o que interessa vem a seguir...) quando isso significaria, com muita probabilidade: crise política e FMI? eu percebo o drama (estou a ser sincero) do BE - que tem de lidar com uma espécie de Escolha de Sofia ao contrário - mas a política é feita de escolhas e estas têm consequências. E estas estavam à vista de todos. Resumindo: evitaram o PEC IV mas, em contrapartida, virá aí algo bem pior. Um abraço

João Ricardo Vasconcelos disse...

Tiago, reconheço a essência da crítica que apontas (a política é feita de escolhas, compromissos, arte do possível, etc), mas julgo que o exemplo dado se calhar não o melhor para criticar o Bloco. Até porque a pergunta pode colocar-se noutro prisma: como é que o Governo apresenta o PEC4 como apresentou e ameaça demitir-se caso não seja aprovado?

Julgo que todos os partidos chegaram a um momento em que ceder traria grandes custos políticos. Assim sendo, o regresso às urnas era inevitável a curto/médio prazo. As perspectivas não são nada animadoras, estou contigo, mas a democracia também funciona assim. Abraço

mfc disse...

Há um ditado portuguÊS QUE DIZ: "PIMENTA NO CU DOS OUTROS... É REFRESCO!"

Eduardo disse...

Queria só dizer que tivemos o FMI em Portugal duas vezes na altura em que caminhávamos alegres e contentes para o socialismo, o sol da sociedade sem classes, no tempo dos neoliberais fascistas, como Mário Soares, Manuel Alegre e outros que tais. O que aconteceu a seguir? A última época de grande crescimento económico em Portugal. É por isso que há liberais que acham que o FMI não é catastrófico.

Anónimo disse...

Confesso que na conjuntura atual sem moeda próprio temo o FMI já o disse no meu blogue. Contudo também reconheço que foi com o PS que antes veiu o FMI e eu fui dos dos beneficiados pelo crescimento económico que se seguiu à segunda vinda.
Agora, como explica que sendo o BE o maior opositor à vinda do FMI fora do domínio de Sócrates, não pareça estar a atrair votantes nas sondagens?

Anónimo disse...

O Dr. Mário Soares que recebeu a vinda do FMI por duas vezes era liberal ??

João Ricardo Vasconcelos disse...

Cefaria: A meu ver, o Bloco não conseguiu ficar bem na fotografia após a apresentação da moção de censura. A jogada arriscada (como escrevi aqui no blogue) não resultou e esteve durante um mês a ser amplamente criticado em toda a comunicação social. Isso tem custos. De qualquer modo, faltam dois meses até às eleições. Ainda há muito para "jogar".

Anónimo: O que digo no post é que a concordância de um liberal com a vinda do FMI representa congruência ideológica. Assim sendo, a concordância de Mário Soares é uma incongruência ideológica. No entanto, como concordará, nem só de ideologia se faz política. Aliás, Soares até ficou conhecido por colocar o "socialismo na gaveta". :)

mfc disse...

Pois... para eles é ouro sobre azul!

Ana Paula Fitas disse...

Ricardo,
Fiz link.
Obrigado.
Abraço.