quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

The Dark Socrateside of the Force


Sócrates Strikes Back
Sócrates está de volta. Aliás, em linguagem “starwariana”, Sócrates contra-ataca. No espaço de uma semana, voltou à ribalta. Deu uma grande entrevista, visitou o estabelecimento prisional de Évora, jantou com os fiéis do movimento “José Sócrates, sempre”. E voltou bem ao seu estilo. Disparou em todas as direcções: acusou a justiça, atacou a oposição, deu recados ao seu partido. E conseguiu com este seu regresso voltar a abrir telejornais, a encher páginas de jornais e a ser o objecto de colunas de opinião um pouco por todo o lado. Aliás, este artigo enquadra-se bem nesta onda que varreu esta semana o país.

Your eyes can deceive you. Don’t trust them
E o que nos diz Sócrates? Depois de uma fase em que negava tudo, passou a admitir que afinal recebia empréstimos do amigo Santos Silva. Empréstimos generosos, necessários para fazer face às “dificuldades de liquidez” durante os seus anos de estudo em Paris. Mas desengane-se quem sequer considere que Sócrates não pagará ao seu amigo os simpáticos empréstimos. Desengane-se também quem possa achar que gastar centenas de milhares de euros em dois ou três anos significa levar uma vida de luxo. Nada disso. Tudo não passa de um terrível mal-entendido, de uma terrível campanha contra a sua pessoa. Quase citando Obi-Wan Kenobi, Sócrates lembra-nos que não devemos acreditar naquilo que vemos.

I find your lack of faith disturbing
Mas o animal político que há em Sócrates não se fica por aqui. Se à opinião pública em geral pede que não acredite no que lhe é servido, aos mais próximos pede naturalmente mais. Aos poucos começou a deixar escapar que esperava mais apoio do seu partido, aos poucos começou a saber-se não estava satisfeito com a descolagem de que estava a alvo por parte do PS. Porque estaria a vasta maioria dos responsáveis do seu partido a manter a distância? Estarão a perder a fé no ex-grande-lider? Os sinais de falta de fé de alguns camaradas seus tiram Sócrates do sério.

António, I am your father
E, como é evidente, foi desde sempre a figura de António Costa que esteve debaixo dos holofotes a este respeito. Desde que foi eleito secretário-geral, Costa teve de sempre de lidar com a grande sombra de Sócrates sobre a sua figura. E visto bem, não podia ser de outra maneira. Costa foi o braço direito de Sócrates. Foi durante bastante tempo o seu número 1. Estranho seria, portanto, que esta sombra não existisse. Estranho é aliás que esta sombra não se faça sentir com maior intensidade. Não sendo umbilical, a ligação política de António Costa a José Sócrates dificilmente pode ser ignorada.

I sense great fear in you, Skycosta
Se olharmos com alguma distância para o que de facto está a suceder – um ex-primeiro ministro sob fortes suspeitas de corrupção, sem que tal salpique qualquer dos seus ex-ministros, ex-secretários de estado ou membros de gabinete – percebemos claramente que estamos no domínio do pouco provável. É portanto natural que o caso Sócrates seja o maior pesadelo de António Costa. Sobretudo agora que o ex-primeiro-ministro parece decidido a não ficar quieto, a aproveitar todos os palcos disponíveis e a assumir-se novamente como ator político de pleno direito.

May the force be with us
Apesar de todos os contornos suspeitos neste caso, apesar da imprensa nos brindar com episódios que nos levam a crer já ter percebido o enredo do filme, importa que o Estado de Direito funcione de facto. Até prova em contrário, qualquer suspeito é inocente. Até prova em contrário, a justiça age em nome do bem público. Haja portanto discernimento na resolução deste caso. E que, acima de tudo, este não termine como muitos, i.e., sem qualquer resolução. May the force be with us.

Artigo ontem publicado no Açoriano Oriental

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Irrevogável?


Portas é um dado adquirido da política portuguesa há quase duas décadas. Pelo meio, vimo-lo chegar, vimo-lo sair, vimo-lo regressar, vimo-lo romper alianças, vimo-lo ameaçar romper alianças... Vimos de tudo. Esta é uma saída irrevogável? Claro que sim! Sem dúvida! Aquele irrevogável tão conhecido de Paulo Portas.
(Imagem: Aventar)

Os deuses não devem estar loucos


Facto: Sérgio Godinho e Jorge Palma são dois deuses da música Portuguesa. Quando ouvi que iam gravar um álbum juntos, simplesmente cantando músicas suas juntos, confesso que a primeira reacção foi algo do género: "Que previsível,.. Eis a receita que qualquer editora preconiza para inchar as receitas nesta época de Natal.

Ao ler a entrevista que hoje concedem, fiquei um pouco mais convencido que os deuses não devem estar loucos. Pelo sim, pelo não, o melhor é não falar ao concerto de Fevereiro no Coliseu de Lisboa.
Imagem: Público)

É bastante mais do que isso

Brasil: Rir para não Chorar


Quando a realidade política de um país começa a ser um gigantesco "Inimigo Público", nos primeiros tempos rimos, mas imediatamente a seguir começamos a ficar preocupados. Durante o Governo de Santana Lopes, Portugal viveu uns meses em que a realidade ultrapassou claramente a ficção (humorística). O Governo mudou depois, a realidade transformou-se e ficaram as memórias. 

No caso do Brasil, este tipo de estado de sítio humorístico assume já contornos preocupantes há demasiado tempo. Ver o artigo do Público a este respeito. Que 2016 ajude o país a ultrapassar este seu estado anedótico. Os brasileitos (e o mundo) agradecem.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Sonhos de Criança


Vale a pena ler a peça de hoje na Revista 2, do Público, sobre as crianças que vêm de África ou da América Latina para Portugal, em busca do sonho do futebol europeu. Não sendo trágicas, as histórias contadas na primeira pessoa demonstram, de forma crua, o lado negro dos sonhos que trazem centenas de crianças para a Europa em busca do seu lugar no mundo dourado da bola. 

O Gilberto Gil de Cabo Verde


"Mas na política a inacção não é possível.
Com certeza que é possível. Oxalá todos os políticos soubessem o momento da inacção. Grandes catástrofes da humanidade têm derivado desses momentos de acção não adequada. De acção obsessiva. Do perpetuar da acção.

Já teve oportunidade de promover momentos de inacção no Conselho de Ministros de Cabo Verde?
Só um dia. Estávamos a discutir um assunto candente e de repente eu disse: “Está a chover.” Nem sequer pedi a palavra ao senhor primeiro-ministro. Todo o mundo ficou espantado. Ficou tudo um momento quieto. De repente, a senhora ministra do Desenvolvimento Rural, que reza todos os dias para que chova, deu um pulo, afastou a cortina e disse: “Está a chover.” E pronto, foi um desanuviamento importante. Talvez fosse o momento exacto da inacção, do silêncio, para depois se retomar com um pouquinho mais de discernimento."

Excerto da entrevista de Carlos Vaz Marques a Mário Lúcio Sousa, Ministro da Cultura de Cabo Verde. Revista 2, 27 de dezembro de 2015

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Fragilidade ou maturidade?


Os votos contra do Bloco e PCP ao Orçamento Rectificativo hoje apresentado pelo PS deixam, sem dúvida, a nu uma fragilidade na maioria parlamentar que apoia o atual Executivo. Não haja dúvidas a este respeito. 

Mas o que se passou está em linha com o que desde o princípio cada uma das forças políticas à esquerda deixou bem claro: uma coisa é garantir que o Governo não cai, outra coisa é aprovar todas as políticas que saem do mesmo.

Pode esta fragilidade ser transformada numa força? Terá o atual entendimento à esquerda maturidade para resistir a múltiplos embates como este que se advinham ao longo de uma legislatura? Esperemos que sim. Mas no momento atual, é impossível prever.

Luís Amado? Essa cara não me é estranha...


"Os accionistas do Banif elegeram hoje os órgãos sociais que vão "conduzir os destinos do banco" nos próximos três anos, reconduzindo Jorge Tomé e Luís Amado à frente da administração." in Diário Económico, 26 de agosto de 2015

Luís Amado?... Luís Amado?... Recordem-me lá quem é esse tal de Luís Amado...

Nas malhas da Incompetência

~
O caso do David, que morreu nas malhas de reduções cegas e de um sistema cego que não é capaz de desatar os seu próprios nós. É uma situação trágica. Mas é mais lamentável ainda pensar que este é um caso com um rosto, e que tragicamente muitos outros sucedem sem conseguir uma manchete no Expresso.

Como é evidente, o mais fácil é culpar o anterior Governo, o Paulo Macedo e companhia, por terem cortado na "situação que existia antes dos cortes de 50% nas horas fora do horário normal".

Pessoalmente, pergunto-me como é possível ter-se chegado ao ponto em que um Governo deixa que dois dos principais hospitais do país (S. José e S. Maria) não tenham determinada especialidade médica ao fim-de-semana.

Mas, por outro lado, como é possível que profissionais de saúde deixem pessoas morrer devido aos cortes de 50% nas horas extraordinárias?

Aliás, melhor dizendo, porque raio temos um sistema dependente de horas extraordinárias?

É tudo demasiado mau em toda esta história. Bem, vou ali dar cabeçadas na parede e já venho.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

The Correio da Manhã Approach


Todo sentimos que se está a viver um déjà vu. Um banco implode e nacionalizam-se de imediato os prejuízos. No meio do choque, apontam-se responsabilidades ao Banco de Portugal (sim, porque a culpa da patifaria financeira que por aí anda apenas pode ser do regulador). As regras da Europa surgem também como o grande mal.

No que ao debate político diz respeito, a oposição já arranjou maneira de dizer que tem "dúvidas sobre a solução encontrada". Do lado do Governo, assim como do Bloco e do PCP, atiram-se culpas para Maria Luís Albuquerque e ao anterior Executivo por ter escondido a situação

Acho interessante as culpas do Banco de Portugal, da Europa e da Maria Luís. Mas num cenário em que já se falam em montantes na ordem dos 4 mil milhões de euros de despesa para os cofres do Estado, prefiro uma abordagem um pouco mais à Correio da Manhã: mas afinal, quem vai para a cadeia por tudo isto? Exijo ver cabeças a rolar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Nas malhas da modernização

Boa reportagem na revista 2 sobre o reverso da eficiência da máquina fiscal. Os avanços têm sido mais do que muitos nos últimos anos. Mas multiplicam-se também os casos em que os contribuintes são apanhados nas malhas do sistema. 

Eis um claro exemplo sobre os efeitos perversos de uma modernização administrativa mal feita, mal testada, que funciona de costas voltadas para os cidadãos. Um exemplo do que não pode acontecer.

RIP Scott Weiland


Bandas há muitas. Mas existem aquelas que têm um lugar muito especial. Aquelas que nunca saíram das nossas playlists. Não apenas porque o seu som parece intemporal, mas porque nos consegue remeter para momentos diferentes das nossas vidas. Teletransportam-nos para tempos que não queremos deixar para traz, 

Os Stone Temple Pilots fazem parte da minha pequena prateleira de bandas do outro mundo. Das que ouvimos em repeat sem nos fartarmos. Das que estão bem lá em cima. Não consigo sequer arriscar o número de vezes que já ouvi o Unplugged acima... RIP Scott Weiland.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Aos Jornalistas do i e do Sol


Há muito sabemos que o jornalismo atravessa um período turbulento. Há muito sabemos que a sustentabilidade da imprensa escrita está a ser posta em causa, não se vislumbrando ainda um ovo de Colombo que consiga dar a volta à situação.

Os despedimentos e a reestruturação agora anunciados no Jornal i e no Sol vem empobrecer o panorama jornalístico nacional, colocando em causa a situação profissional de muitas dezenas de jornalistas. É mais um sinal dos tempos que, infelizmente, começa a ser regular.

Porque pouco mais posso fazer do que mostrar a minha solidariedade e respeito pelos profissionais do Jornal i e Sol, aqui deixo esta humilde manifestação cidadã de apreço, reconhecimento e votos de coragem.