"Mas na política a inacção não é possível.
Com certeza que é possível. Oxalá todos os políticos soubessem o momento da inacção. Grandes catástrofes da humanidade têm derivado desses momentos de acção não adequada. De acção obsessiva. Do perpetuar da acção.
Já teve oportunidade de promover momentos de inacção no Conselho de Ministros de Cabo Verde?
Só um dia. Estávamos a discutir um assunto candente e de repente eu disse: “Está a chover.” Nem sequer pedi a palavra ao senhor primeiro-ministro. Todo o mundo ficou espantado. Ficou tudo um momento quieto. De repente, a senhora ministra do Desenvolvimento Rural, que reza todos os dias para que chova, deu um pulo, afastou a cortina e disse: “Está a chover.” E pronto, foi um desanuviamento importante. Talvez fosse o momento exacto da inacção, do silêncio, para depois se retomar com um pouquinho mais de discernimento."
Excerto da entrevista de Carlos Vaz Marques a Mário Lúcio Sousa, Ministro da Cultura de Cabo Verde. Revista 2, 27 de dezembro de 2015
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