Quando achamos que a situação não pode piorar, infelizmente a realidade supera-nos. A coisa pode sempre ficar pior, é um facto. E se há muito temos a certeza de estar a ser governados por um bando de loucos, o que já era mau por si só, agora sabemos que estamos a ser governados por um bando de loucos que, como é evidente, não se entende no meio da sua loucura. Todos os dias somos brindados com sinais de que o país está à deriva, de que quem está ao seu leme está totalmente desorientado, está totalmente a leste da realidade.
O triste braço de ferro público entre Passos e Portas sobre a questão da contribuição dos pensionistas é aliás elucidativo do desgoverno que aí anda. Quando Portas agendou uma conferência de imprensa para fazer declarações sobre as medidas aprovadas pelo seu Governo, achámos estranho. Depois, Portas faz uma declaração ao país em pose de autêntico estadísta, apresentando um ultimato ao (seu) Governo, jurando bater-se pelos seus pensionistas. Boquiabertos ficámos. Hesitámos e pensámos que se trataria de um teatro combinado com o seu parceiro de coligação para sair bem na fotografia após um recuo governamental. Mas não. Era teatro por conta e risco de Portas. Agora, uma vez que o (seu) Governo não recuou na medida anunciada, o líder do CDS ficou numa posição totalmente desacreditada.
Tal como alguns sublinharam, este episódio revela uma de duas coisas preocupantes. Ou o Governo anda em jogadas teatrais, o que demonstra que não tem vontade de dizer a verdade aos portugueses. Ou, pelo contrário, existe mesmo uma total desarticulação interna, uma vez que um dos parceiros de coligação vem a público colocar-se de fora das decisões governamentais. Esta segundo cenário não é menos preocupante. Escusado será sublinhar que um Governo tem de ser uno, sob pena de se tornar num corpo de governação sem rumo, incoerente e imprevisível. Por outro lado, a não-unidade do governo dificulta também a sua responsabilização pelos cidadãos. Como atribuir responsabilidades a um Governo que não está unido? Atribuímo-las a Passos Coelho, a Paulo Portas ou a ambos?
Mas este episódio de desentendimentos governamentais surge ao mesmo tempo que novos números do desemprego surgem e, tal como seria de esperar, a sangria teima em não estancar. Temos agora uma taxa de 17,7% de desemprego em Portugal. Sendo um pouco mais concretos, temos 952 200 pessoas desempregadas. E começam a não existir palavras para descrever este flagelo social que é a maior demonstração de que assim não vamos lá.
No entanto, para o Governo, se a austeridade não está a resultar, nada como intensificar a austeridade. Se a receita não está a resultar, aumente-se a dose. Mesmo que o doente esteja a dar claros sinais de que se prepara para morrer da cura, nada como uma boa dose de otimismo do médico para acompanhar mais uma injeção letal. Eis o espírito deste novo pacote de austeridade., que ataca funcionários públicos e pensionistas sem misericórdia. Acrescentará crise a uma economia já totalmente afogada na crise. Acrescentará desemprego a um panorama social que já atingiu níveis explosivos.
O presente Governo encontra-se totalmente à deriva. E infelizmente tal não se trata apenas de uma percepção dos comentadores da praça ou da oposição. Infelizmente, e para mal do país, os resultados falam por si. Quase dois anos depois de ter chegado ao poder, não há indicador que lhe consiga salvar a face. E a forma como justifica os seus sucessivos falhanços é paradigmática. Antes a culpa era do Sócrates. Agora a culpa é do Tribunal Constitucional. E amanhã, de quem será?
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Público)
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