A greve é um tira-teimas à capacidade das pessoas agirem coletivamente. Ou seja, de se unirem e fazerem um statement conjunto de discordância perante uma determinada medida, uma determinada política. É duro fazê-lo. Logo à cabeça, porque se perde um dia de salário. E nno contexto atual, isso é muito duro. Mas também porque implica dizer publicamente “basta”, e isso gera sempre desconforto à nossa volta. É sempre mais confortável não se ter este tipo de firmeza.
Como é evidente, aderir a uma greve é uma escolha profundamente individual, mas que demonstra a nossa capacidade de adesão ao coletivo. Por isso confesso-me sempre boquiaberto com o argumentário que encontro em setores com emprego relativamente seguro, relativamente bem-remunerado. No fundo, posturas do tipo “concordo, mas não vou aderir porque…” e logo aí surgem aos quilos os motivos auto-centrados. Ora porque nem todos vão aderir, ora porque duvido na capacidade desta greve mudar alguma coisa, ora porque eu nem acredito nas centrais sindicais, ora porque não me dá jeito perder um dia de salário, ora porque tenho umas reuniões agendadas, ora porque os partidos depois aproveitam-se, ora porque os políticos são todos iguais, ora porque não trabalhar um dia e voltar ao trabalho no dia seguinte não faz sentido, ora porque muitas carreiras especiais na função pública são uma vergonha, ora porque os maquinistas da CP ganham muita bem, , etc.
O que leva estas pessoas a crer que quem faz greve concorda com tudo o que a mesma envolve? Vou voltar à primeira frase deste post: “A greve é um tira-teimas à capacidade das pessoas agirem coletivamente”. Se calhar muitos gostariam de ter uma “grevezinha à sua medida”, mas aí não seria uma coisa coletiva, pois não?
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