Já chegámos a pelo menos um grande consenso nacional: o espetáculo político que nos tem sido oferecido nas últimas semanas está a bater todos os recordes de parvalheira. Quando pensávamos que a coisa não podia piorar, que tínhamos batido no fundo, eis um panorama de total estupidificação nacional. Com contornos inacreditáveis, difíceis até de explicar ao comum dos mortais
Ora temos dois parceiros de coligação que, depois de se desentenderem tristemente em praça pública, com irrevogabilidades e fatalidades, surgem de repente profundamente empenhados na salvação nacional. Procuram agora ativamente os consensos, assumindo-se como campeões do patriotismo e fiéis guardiões dos sacrifícios que os portugueses fizeram até agora. Surgem agora fortemente empenhados em salvar o país de uma crise económica que o seu Governo intensificou e de uma crise política que os seus líderes provocaram.
Do outro lado, temos um PS profundamente indignado com a crise económica em que o país foi mergulhado. Explica-nos diariamente com toda a convicção porque não faz sentido a política da troika que veio para Portugal a seu convite, aplicar um programa por si validado. É aliás por tudo isto que votou favoravelmente a moção de censura do PEV, ao mesmo tempo que dialoga com PSD e CDS em busca de uma solução a pedido do Presidente que não suporta, ao mesmo tempo que acusa os partidos à sua esquerda de manobras partidárias. Portanto, o PS tem tido uma atitude muito séria.
Por último, e para compor o ramalhete, um Presidente da República que, após tristes silêncios, revelou-se novamente especialista na arte de “a emissão segue dentro de momentos”, criando problemas em cima dos problemas. De repente, a solução que tinha de ser resolvida rapidamente e a todo o custo, passou a ser ainda mais complicada de resolver. A salvação nacional, esse remédio cujos milagres a nossa história política comprova, passou a ser o grande objetivo do país. E subitamente, quando a todos são pedidos esforços hercúleos para salvar o país, o Presidente antecipa a sua viagem para… as ilhas Selvagens! O Inimigo Público não se teria lembrado de algo melhor…
O espetáculo político-mediático nunca foi conhecido pela sua seriedade, é um facto. Mas desta vez estamos a superar-nos. E viva Portugal…
Artigo hoje publicado no Esquerda.net
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