Durará mais seis meses ou mais um ano? Neste momento, muito poucos poderão achar que a presente legislatura chegará ao fim. As opiniões parecem dividir-se apenas sobre se o Governo de Passos Coelho aguentará até às autárquicas e à votação do orçamento de Estado no final do próximo ano ou se cairá ainda antes. Ou seja, pouco mais de um ano depois de ter sido eleito um novo Governo em Portugal, o país começa a dar sério sinais de estar pronto para uma nova mudança de ciclo político, o que demonstra bem o grau de rejeição que a presente linha política tem originado.
Os Executivos e as maiorias que os suportam possuem um ciclo de vida. Este inicia-se tipicamente com um “estado de graça” após a eleição, onde os novos governos beneficiam de todo o espaço do mundo para estruturarem aquela que será a sua linha politica. A sua popularidade aumenta e as intenções de voto na maioria atingem inclusive níveis superiores às que resultaram do último eleitoral. Como segunda fase, diria que temos a “maturidade”, momento do ciclo político em que legitimidade do Executivo encontra-se estável. Existem obstáculos, mas reina uma relativa tranquilidade e segurança na governação. Em terceiro lugar, temos a fase “descendente”, em que o Executivo começa a acusar um sério desgaste, acumulando erros e concedendo à oposição a oportunidade de se mostrar como alternativa. A quarta e última fase podemos designar como “decadente”, momento em que o Executivo já está totalmente à deriva e é alvo de chacota, aguardando apenas a estocada final. O atual executivo encontra-se já na fase descendente, caminhando a passos largos para a fase decadente.
É sabido o desgaste acelerado que todos os governos europeus têm sofrido desde que a crise económico-financeira se instalou. Mais do proporcionar alternâncias para a esquerda ou para a direita, o atual panorama tem acelerado dramaticamente os ciclos de vida dos Governos, originando assim que o poder caia no colo das respetivas oposições um pouco por toda a Europa. Em Portugal, o cenário não é diferente. A crise económica derrubou há pouco mais de um ano o Governo de Sócrates e, como tudo parece indicar, parece determinada a dar uma esperança média de vida extraordinariamente curta a este governo de Passos Coelho.
Poder-se-á sempre pensar que, apesar dos muitos sinais de debilidade, este Executivo está cá para durar. Mas um olhar mais atento revela existir já uma espécie alinhamento cósmico-político contra o qual nenhum Executivo pode sobreviver. Temos uma situação económica que não melhora apesar de todos os sacrifícios pedidos; temos as sondagens a dar maioria ao principal partido da oposição; temos contestação de rua crescente, com uma regularidade demolidora e com uma dimensão que não pode deixar ninguém indiferente; temos praticamente todos os opinion makers da praça, incluindo os da área política do Executivo, a criticar abertamente a linha governativa seguida; temos um Presidente da República que já não consegue disfarçar o seu desconforto; temos o parceiro mais pequeno da coligação a querer saltar fora porque o barco está a afundar-se a pique, e; last but not least, no seio do principal partido da maioria, são cada vez mais sonantes as críticas e os distanciamentos quanto ao rumo seguido.
No atual cenário, uma remodelação governamental poderá aliviar um pouco a pressão, mas dificilmente representará mais do que um pequeno balão de oxigénio. E as alterações minimamente profundas da linha política, em forma de “refundação” ou outro qualquer similar, não conseguirão inverter o rumo das coisas. Dure seis meses ou um ano, o presente Executivo está condenado a cair. Importa, por isso, começar a pensar no que se pretende para o dia seguinte. Importa pensar seriamente na alternativa.
Artigo publicado na terça-feira no Açoriano Oriental
Imagem: Barbearia do Senhor Luís
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