"Os dicionários lêem-se, os livros consultam-se." Eis uma das frases de Sottomayor Cardia que ainda hoje recordo frequentemente.
Não é fácil vermos partir um dos rostos da transição e consolidação da democracia em Poltugal Possuindo um percurso que foi desde uma oposição activa na ditadura, um envolvimento significativo na transição, e um papel de destaque na consolidação da democracia, Sottomayor Cardia parte, mas deixa atrás de si uma vida em pleno.
Não vou falar da sua carreira política, até porque esta pode ser descoberta com uma simples pesquisa no Google. Posso sim falar da experiência que tive enquanto aluno em 1998/1999 na Universidade Nova de Lisboa.
Apesar de naturalmente um pouco mais velho do que nas imagens que hoje podemos recordar do período da revolução, notávamos claramente em Cardia um conhecimento, e sobretudo uma força, de quem teve uma vida repleta de política. Os seus olhos, o seu sorriso, as suas expressões a expor e discutir teoria do Estado e sistemas políticos eram os de alguém para quem a política sempre fora algo muito próximo. Algo praticado, algo analisado, algo estudado.
Com a partida de Sottomayor Cardia, a Ciência Política e a Filosofia Política em Portugal perdem um dos seus mais reconhecidos estudiosos. Fica, no entanto, a memória de alguém que deixou uma marca na forma de se fazer e também estudar a política.
1 comentário:
Peço imensa desculpa, mas não me posso esquecer que foi com ele, enquanto ministro da Educação (com Mário Soares como 1º ministro), que as aulas das Escolas do Magistério Primário (hoje ESE) foram suspensas, de Set/1976 a finais de Jan/1977 (sob o olhar do FMI), para se proceder à contra-reforma dos programas de formação dos Professores do 1º Ciclo (apesar da oposição quase unânime dos estudantes)...
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