O Tiago Tibúrcio escreveu um comentário a este meu post sobre as hesitações do PS no apoio a Alegre. Prometi que lhe respondia no sábado, mas às vezes é mortífero interromper o fim-de-semana para estas coisas da política. Por isso, aqui vai a resposta, segunda-feira pela fresquinha.
Tiago, ainda bem que tendes a concordar. E antes de mais deixa-me dizer que é a minha espécie de anti-cavaquismo primário que me impulsiona tão fortemente para este tipo de apelos pragmáticos. Porque, regra geral, tendo a ter um pouco mais de cuidado na utilização de argumentos a coberto do pragmatismo. Compreendo a questão do nosso sistema possibilitar que a convergência possa ser guardada para a segunda volta. O problema, Tiago, é que ambos nos lembramos do que sucedeu há 5 anos. E se há 5 anos Cavaco não deu hipóteses, a dificuldade de derrotar uma recandidatura presidencial é tendencialmente ainda maior. Daí a forte necessidade de convergência.
Quanto à transposição da lógica da convergência para a governação, julgo que tentarmos aqui aferir se a culpa é mais do PS ou do Bloco, os nossos argumentos sairão certamente enviesados. Dir-te-ia, por exemplo, que não é PS o principal adversário do Bloco, quando muito poderá serão sim diversos aspectos da linha política da presente governação. E continuaríamos assim com uma discussão quase infindável.
De qualquer modo, sim, não acho positiva qualquer tendência que preconize que ambos os partidos se olhem mutuamente como principais adversários, não haja dúvidas a este respeito. Não considero que grandes entendimentos sejam possíveis entre o Bloco e a actual liderança socialista. Mas veremos se, com uma próxima liderança que certamente já não estará muito distante, tal cenário de entendimentos se apresenta mais viável.
(Imagem: Douglas Wilson)
Tiago, ainda bem que tendes a concordar. E antes de mais deixa-me dizer que é a minha espécie de anti-cavaquismo primário que me impulsiona tão fortemente para este tipo de apelos pragmáticos. Porque, regra geral, tendo a ter um pouco mais de cuidado na utilização de argumentos a coberto do pragmatismo. Compreendo a questão do nosso sistema possibilitar que a convergência possa ser guardada para a segunda volta. O problema, Tiago, é que ambos nos lembramos do que sucedeu há 5 anos. E se há 5 anos Cavaco não deu hipóteses, a dificuldade de derrotar uma recandidatura presidencial é tendencialmente ainda maior. Daí a forte necessidade de convergência.
Quanto à transposição da lógica da convergência para a governação, julgo que tentarmos aqui aferir se a culpa é mais do PS ou do Bloco, os nossos argumentos sairão certamente enviesados. Dir-te-ia, por exemplo, que não é PS o principal adversário do Bloco, quando muito poderá serão sim diversos aspectos da linha política da presente governação. E continuaríamos assim com uma discussão quase infindável.
De qualquer modo, sim, não acho positiva qualquer tendência que preconize que ambos os partidos se olhem mutuamente como principais adversários, não haja dúvidas a este respeito. Não considero que grandes entendimentos sejam possíveis entre o Bloco e a actual liderança socialista. Mas veremos se, com uma próxima liderança que certamente já não estará muito distante, tal cenário de entendimentos se apresenta mais viável.
(Imagem: Douglas Wilson)
4 comentários:
Obrigado pela resposta. comentarei mal tenha oportunidade. E tem boas coisas para comentar. Um abraço
O que nasce sendo do contra tem poucas hipóteses de sucesso, a não ser que o objectivo seja destrutivo e não construtivo.
Legenda:
Uma união da esquerda motivada apenas para ser contra Cavaco está condenada.
Uma desunião do PS motivada para ser contra Alegre tem todas as condições para o sucesso.
Ricardo, agradeço o comentário. Em jeito de tréplica, aqui vai o meu, que, devido à pressa (mas não queria deixar passar mais dias) deu nesta algo prolixa confusão de caracteres.
Imaginei que não fosses particularmente sensível aos argumentos de ordem pragmática. Por isso mesmo achei graça fazer-te a provocação. De todo o modo, se o PS não apoiasse Alegre isso não seria igual ao que se passou há 5 anos, onde havia, além do candidato apoiado pelo BE, dois candidatos da área do PS, o que fragilizou muito a candidatura do candidato apoiado pelo PS. Se hoje o PS não apoiasse Alegre teríamos um candidato apoiado pelo BE, outro pelo PS, situação para todos os efeitos normal em eleições presidenciais. Daí ter achado engraçado o apelo ao voto útil. Mas, como disse, concordo contigo acerca da necessidade de a esquerda se unir para fazer face à candidatura de Cavaco.
Falas de o principal adversário do BE não ser o PS mas talvez “diversos aspectos da linha política da presente governação”. O problema é que se o problema são alguns aspectos da governação não se nota e fica a impressão de a parte dar lugar ao todo. Compreendo o me parece ser o cuidado que tens de sinalizar que nem tudo o que o governo PS fez é mau (julgo que concordamos que, do recente casamento gay, à lei da paridade, procriação medicamente assistida, o complemento solidário para idosos, lei da IVG, entre tantos, tantos [lei do divórcio, da nacionalidade…] outros, existem muitas áreas de afinidades possíveis). Mas é aqui que divergimos inexoravelmente. A governação com um mínimo de esquerda (para facilitar) apenas é possível com o PS no governo. Com a direita terias uma versão muito, mas muito pior do já achas mau no governo PS, e sem o que acharás positivo. Ser-te-á isto indiferente? Compreendo que é de certa forma injusto colocar as coisas nestes termos e que, numas eleições legislativas, além de se escolher uma composição parlamentar de onde sairá um Governo, elegem-se deputados que representam a diversidade de sensibilidades políticas da sociedade. Só que, contrariamente a ti, suponho, vejo que essa representação será tão mais interessante quanto esteja disposta a entender-se com quem está no Governo (e, à esquerda, só o PS, insisto) e, assim, influenciar políticas. Se assim não for, fica um papel (que também tem interesse, naturalmente) de fiscalização mas que desperdiça uma oportunidade de ouro para contribuir para uma governação mais à esquerda. E a democracia tem regras e se um governo minoritário não se entende à esquerda, tem de fazê-lo, inevitavelmente, à direita. Não há volta a dar. Mas já estou a repetir-me. Um abraço
Rui: É uma boa observação. E pegando então na minha espécie de confissão de "anti-cavaquismo primário", é uma observação mortífera (no bom sentido, claro).
Concordo que é preciso um projecto mobilizador e unificador, para que o projecto alegre possa ter sucesso. Mas antes disso, antes do tal projecto, pode ser necessário algo muito forte que exija convergências e a celebração de tréguas em determinados domínios. Um sério adversário é um bom motivo para o efeito. Depois de existir a predisposição para a convergência é que por vezes surgem os projectos mobilizadores.
Tiago: Vou-te pedir um dia ou dois para responder porque as questões levantadas são muitas e interessantes.
Enviar um comentário