Em poucos dias, o Expresso, o DN, a TSF e a TVI24 juntaram-se ao Público, ao Jornal de Negócios, à Visão e à Exame no domínio das aplicações para o iPad. Tenho sérias dúvidas que compense para todos estes órgãos de comunicação todo este investimento para já. De qualquer modo, sabem que têm de lá estar, não querendo arriscar ficar para trás. A corrida a meios diversificados para chegar aos leitores assim o exige.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Eh pá, já chega
Nunca achei que a mudança de treinador fosse a solução para os males de uma equipa. Aliás, sempre me pareceu algo ridícula a pedida imediata da cabeça do treinador após dois ou três maus resultados. Mas caramba, o Sporting desta época ainda não passou duas semanas seguidas sem desaires, sem perdas de pontos inexplicáveis. Andamos nisto desde que a época começou. Entretanto já saiu o presidente, já saiu o melhor jogador e o treinador lá continua, desaire após desaire. Ó Paulo Sérgio, ó homem, já chega. Deixa-nos por favor virar a página. Deixa-nos sair deste filme.
(Imagem: O Indesmentível)
As empresas, as ditaduras e as eventualidades
Até se tem falado pouco das empresas portuguesas presentes no mundo islâmico agora em ebulição. É natural o seu nervosismo. Mas, não querendo radicalizar, é bom que este panorama sirva pelo menos para se tirar uma lição: quem investe em ditaduras, pode sempre ser surpreendido por este tipo de “eventualidades”.
(Imagem: Diário da Princesa Dayanne)
(Imagem: Diário da Princesa Dayanne)
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
O poder da Simplicidade
O currículo de Armando Vara é mais do que duvidoso. Toda a gente o sabe. Entre faces ocultas, ascensões meteóricas na política e na banca, parece existir pouca coisa que o recomende. O problema é que o seu envolvimento é sempre em coisas complicadas, em operações faces ocultas que já ninguém sabe onde começaram, em transferências da CGD para o Millenium demasiado complexas para poderem ser debatidas no café de cada bairro, numa qualquer conversa de circunstância no local de trabalho ou naqueles programas da manhã dos canais generalistas.
Eis então que surge o incidente que, apesar de pequeno, rapidamente provoca a indignação do mais simples dos portugueses: numa de VIP, Armando Vara passou à frente numa fila de um centro de saúde. O incidente já saiu em diversos jornais, na televisão, já circula nas redes sociais, em correntes de e-mail e hoje, por exemplo, dá direito a dois artigos de opinião no Expresso (aqui e aqui). Um episódio ultra-simples, mas com um imenso potencial de revelação do carácter de alguém, pode ter efeitos bem mais poderosos em termos de percepção pública do que o maior dos cambalachos. Temos pena…
(Imagem: Lemma)
Deolindemos um pouco sobre o assunto
Confesso que não tenho dedicado grandes palavras ao mais recente sucesso dos Deolinda – Parva que sou - por considerar, numa primeira fase, que se tratava de algo absolutamente consensual. Ou seja, assumia que a precariedade era um drama tão evidente, afectando tão desastrosamente todo uma geração que procura entrar no mercado de trabalho, que a música dos Deolinda não precisava de grandes comentários. Apenas aplausos de reconhecimento. O grupo que já se ensaiava nas lides da música de intervenção com o seu “Movimento Perpétuo Associativo”, tinha agora a canção certa no momento certo.
E de facto o fenómeno espalhou-se de forma impressionante pelas redes sociais e chegou pouco depois à comunicação social e até ao parlamento. Em poucos dias foi entendido como o grito de uma geração que, sobretudo num momento de crise como o actual, vê ainda mais dificultada a sua entrada no mundo do trabalho com direitos. A obtenção de um situação minimamente estável que lhe permita entrar definitivamente na vida adulta, emancipando-se da casa dos pais, contituindo família, tornou-se uma missão possível cada vez mais tarde. Daí o natural desespero tão bem expresso pelos Deolinda. O desespero da geração mais qualificada que o país alguma vez teve, mas que encontra inúmeros obstáculos para construir o seu futuro.
Mas tão ou mais curioso que a rápida disseminação da mensagem e o natural destaque que mereceu por parte das forças políticas à esquerda que tipicamente denunciam a precariedade, tem sido a arrojada tentativa de apropriação por algumas forças mais à direita. Num lápice começaram a ouvir-se vozes de apoio vindos do referido quadrante, assumindo que tal apenas acontece porque a actual lei laboral é demasiado inflexivel, impossibilitando assim que o mercado absorva com facilidade novos trabalhadores. Neste sentido, defende-se que a precariedade apenas existe nesta geração porque a geração dos seus pais beneficia de uma estabilidade fora do normal.
O segundo tipo de reacção à direita, que se calhar até seria de esperar, é a crítica ao queixume desta nova geração. Uma geração que, segundo alguns, é constituida por meninas e meninos privilegiados que queixam-se muito, mas que sabem pouco o que custa a vida. A música dos Deolinda é assim vista como um drama manifestamente exagerado de uma geração de super-protegidos que sonha muito e trabalha pouco.
Tudo isto sucede num momento de profunda crise económica em que os dados que vão saindo sobre a situação socio-económica do país são deveras preocupantes. O desemprego atinge valores nunca vistos: 11,1%, cerca de 620 mil pessoas. Entre os jovens até aos 25 anos, o desemprego situa-se nos 22,4%, ou seja, cerca de 95 mil cidadãos sem trabalho.
Pode parecer quase sarcástico dizê-lo, mas os momentos de crise são óptimos laboratórios de observação de posicionamentos ideológicos. Na esquerda, a reacção tem sido relativamente normal, apoiando sem hesitações o movimento em curso. À direita, a resposta tem variado entre uma postura liberal, que considera que o desemprego e a precariedade existem porque há demasiados constrangimentos para o mercado funcionar, e um posicionamento conservador que acha que se tratam de lamechices. Uma vez que a música dos Deolinda termina garantindo que a “geração parva” não é parva nenhuma, resta-nos esperar que a mesma tenha o discernimento de perceber se é na esquerda ou na direita que melhor encontrará quem se bate de facto pelos seus direitos. Aqui fica uma pista naturalmente parcial, claro: gosta de tonalidades vermelhas e é canhota…
E de facto o fenómeno espalhou-se de forma impressionante pelas redes sociais e chegou pouco depois à comunicação social e até ao parlamento. Em poucos dias foi entendido como o grito de uma geração que, sobretudo num momento de crise como o actual, vê ainda mais dificultada a sua entrada no mundo do trabalho com direitos. A obtenção de um situação minimamente estável que lhe permita entrar definitivamente na vida adulta, emancipando-se da casa dos pais, contituindo família, tornou-se uma missão possível cada vez mais tarde. Daí o natural desespero tão bem expresso pelos Deolinda. O desespero da geração mais qualificada que o país alguma vez teve, mas que encontra inúmeros obstáculos para construir o seu futuro.
Mas tão ou mais curioso que a rápida disseminação da mensagem e o natural destaque que mereceu por parte das forças políticas à esquerda que tipicamente denunciam a precariedade, tem sido a arrojada tentativa de apropriação por algumas forças mais à direita. Num lápice começaram a ouvir-se vozes de apoio vindos do referido quadrante, assumindo que tal apenas acontece porque a actual lei laboral é demasiado inflexivel, impossibilitando assim que o mercado absorva com facilidade novos trabalhadores. Neste sentido, defende-se que a precariedade apenas existe nesta geração porque a geração dos seus pais beneficia de uma estabilidade fora do normal.
O segundo tipo de reacção à direita, que se calhar até seria de esperar, é a crítica ao queixume desta nova geração. Uma geração que, segundo alguns, é constituida por meninas e meninos privilegiados que queixam-se muito, mas que sabem pouco o que custa a vida. A música dos Deolinda é assim vista como um drama manifestamente exagerado de uma geração de super-protegidos que sonha muito e trabalha pouco.
Tudo isto sucede num momento de profunda crise económica em que os dados que vão saindo sobre a situação socio-económica do país são deveras preocupantes. O desemprego atinge valores nunca vistos: 11,1%, cerca de 620 mil pessoas. Entre os jovens até aos 25 anos, o desemprego situa-se nos 22,4%, ou seja, cerca de 95 mil cidadãos sem trabalho.
Pode parecer quase sarcástico dizê-lo, mas os momentos de crise são óptimos laboratórios de observação de posicionamentos ideológicos. Na esquerda, a reacção tem sido relativamente normal, apoiando sem hesitações o movimento em curso. À direita, a resposta tem variado entre uma postura liberal, que considera que o desemprego e a precariedade existem porque há demasiados constrangimentos para o mercado funcionar, e um posicionamento conservador que acha que se tratam de lamechices. Uma vez que a música dos Deolinda termina garantindo que a “geração parva” não é parva nenhuma, resta-nos esperar que a mesma tenha o discernimento de perceber se é na esquerda ou na direita que melhor encontrará quem se bate de facto pelos seus direitos. Aqui fica uma pista naturalmente parcial, claro: gosta de tonalidades vermelhas e é canhota…
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Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Filho da mãe...
O que hoje se passou na Líbia é de uma barbarie impar. O regime de Khadafi tem mesmo de ter os dias contados, sendo alvo de um imediato isolamento internacional. O que hoje se passou foi um verdadeiro crime contra a humanidade.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Proles Wall na Casa das Histórias Paula Rego
Fui lá para ver a exposição My Choice, mas acabei por apreciar bastante mais a mini-exposição em torno da obra Proles Wall, dedicada ao 1984 de Orwell. Os dez enormes painéis que constituem a obra afiguram-se como uma espécie de Guernica "Paulareguiano". Muito bom.
(Imagem: Casa das Histórias Paula Rego)
Retratos de Mulheres na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva
Para quem ainda não teve oportunidade, vale a pena passar pela Fundação Arpad Zenes - Vieira da Silva e visitar a exposição Retratos de Mulheres, de Manray, Jorge Martins e Julião Sarmento. Mesmo para aqueles que não são particulares apreciadores de fotografia (meu caso), a exposição consegue ser de uma qualidade cativante. Destaque para os eros cromáticos de Jorge Martins. Algumas das obras expostas aqui.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
A Liberdade paga-se com Precariedade
O glorioso autor da expressão "Geração Rasca" saiu-se há pouco com a frase acima a propósito da música dos Deolinda. Devo dizer que. apesar de não ouvir Vicente Jorge Silva há muito tempo, até lhe concedia alguma lucidez nos comentários. Mas a sua intervenção de hoje no Expresso da Meia Noite foi de um reacionarismo atroz. Até fiquei tonto...
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
O PS é igual ao PSD?
Num momento em que é consensual o aproximar do fim de ciclo político, o rotativismo do poder do PS para o PSD parece ser o passo que se segue. Apenas não sabemos quando. As sondagens já o antevêem, a tradição o assegura e os comentadores o garantem. Não sendo um fenómeno novo, importa ter em conta que o rotativismo é uma tendência típica das democracias consolidadas. Dois partidos hegemónicos, ideologicamente moderados, vão-se revezando no exercício do poder. Tais partidos podem exercer o poder isoladamente ou em coligação e os ciclos políticos podem ser mais ou menos longos, mas regra geral este é o panorama a que se assiste na generalidade das democracias ocidentais. Portugal não tem sido excepção nestes domínios. Desde 1987, com as primeiras maiorias absolutas de Cavaco Silva, o rotativismo tem acontecido sem grande sobressaltos.
Normalmente é associado a este fenómeno a questão da ausência de alternativas na governação, da indiferenciação de políticas que permita ao cidadão escolher racionalmente entre a alternativa A e a alternativa B. Importa sublinhar que, em bom rigor, tal relação de causalidade não é linear, devendo até ter-se uma abordagem distinta quanto aos dois fenómenos. No fundo, uma coisa é o rotativismo e outra coisa diferente é a ausência de diferenciação ideológica. O rotativismo não tem de estar necessariamente associado a uma falta de diferenciação ideológica entre os dois principais partidos que se revezam no poder.
E é precisamente nesta última questão que o caso português se distingue. A falta de diferenciação ideológica entre PS e PSD não é algo apenas de senso comum. Também não se resume a uma peça do argumentário dos restantes partidos quando criticam o “centrão”. Tal falta de diferenciação já foi estudada e comprovada academicamente (André Freire, Esquerda e Direita na Política Europeia, 2006), encontrando-se assim uma especificidade portuguesa tendo como referência o panorama das mais antigas democracias europeias. As razões para tal especificidade nacional podem ser encontradas, entre outras dimensões, no período de transição para a democracia e nas correntes políticas que integraram desde logo cada uma das forças políticas.
Posto isto, chegamos a uma das questões que mais são colocadas no momento actual: podemos assumir que é indiferente para o país uma maioria PS ou uma maioria PSD. Bem, o rotativismo é uma coisa, a falta de diferenciação ideológica é outra e a não distinção ideológica é ainda outra. Apesar de não serem tantas quanto seria desejável, diria que existem diferenças nas governações PS e PSD (a identificação das mesmas posso guardar para um próximo artigo). Como é evidente, as diversas forças políticas encontram as formas que consideram mais convenientes para se posicionar sobre esta questão. Fazem o seu papel, portanto. O eleitorado também faz o seu ao comprar ou não tais posicionamentos. É o mercado da oferta e procura política e eleitoral no seu melhor.
Normalmente é associado a este fenómeno a questão da ausência de alternativas na governação, da indiferenciação de políticas que permita ao cidadão escolher racionalmente entre a alternativa A e a alternativa B. Importa sublinhar que, em bom rigor, tal relação de causalidade não é linear, devendo até ter-se uma abordagem distinta quanto aos dois fenómenos. No fundo, uma coisa é o rotativismo e outra coisa diferente é a ausência de diferenciação ideológica. O rotativismo não tem de estar necessariamente associado a uma falta de diferenciação ideológica entre os dois principais partidos que se revezam no poder.
E é precisamente nesta última questão que o caso português se distingue. A falta de diferenciação ideológica entre PS e PSD não é algo apenas de senso comum. Também não se resume a uma peça do argumentário dos restantes partidos quando criticam o “centrão”. Tal falta de diferenciação já foi estudada e comprovada academicamente (André Freire, Esquerda e Direita na Política Europeia, 2006), encontrando-se assim uma especificidade portuguesa tendo como referência o panorama das mais antigas democracias europeias. As razões para tal especificidade nacional podem ser encontradas, entre outras dimensões, no período de transição para a democracia e nas correntes políticas que integraram desde logo cada uma das forças políticas.
Posto isto, chegamos a uma das questões que mais são colocadas no momento actual: podemos assumir que é indiferente para o país uma maioria PS ou uma maioria PSD. Bem, o rotativismo é uma coisa, a falta de diferenciação ideológica é outra e a não distinção ideológica é ainda outra. Apesar de não serem tantas quanto seria desejável, diria que existem diferenças nas governações PS e PSD (a identificação das mesmas posso guardar para um próximo artigo). Como é evidente, as diversas forças políticas encontram as formas que consideram mais convenientes para se posicionar sobre esta questão. Fazem o seu papel, portanto. O eleitorado também faz o seu ao comprar ou não tais posicionamentos. É o mercado da oferta e procura política e eleitoral no seu melhor.
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Artigo hoje publicado no Esquerda.net
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
A cobrar é que a gente se entende
Hoje, por uma dívida de 30 euros (desleixo no pagamento, confesso), cortaram-me a água. Cortaram a meio da tarde, com gente em casa, sem sequer bater à porta, sem dar a cara. Como se cortar a água numa casa pudesse ser feito com a mesma leveza com que se corta o telefone ou a TV Cabo. A EPAL está pouco preocupada em saber os danos que tal corte pode provocar numa casa com duas crianças, por exemplo.
É impressionante a implacabilidade destas máquinas de cobrança. O caso da idosa encontrada morta no seu apartamento oito anos depois foi um exemplo máximo neste sentido. Certamente que a EPAL também foi lá pouco tempo depois cortar-lhe a água por falta de pagamento, a EDP idem, a PT idem... E a senhora lá continuou, tendo sido apenas descoberta quando a sua casa foi penhorada. Dá que pensar. Para quem ainda não leu, o Daniel Oliveira descreveu bem este fenómeno na semana passada no Expresso.
(Imagem: Blogue do Xico Branco)quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Só pode...
Observando a "lucidez", "nobreza" e "arejamento de ideias" com que Emídio Rangel participa no Directo ao Assunto, é difícil não se ficar com a sensação que quem lá o colocou apenas procurou prejudicar o PS e o Governo. Só pode... É que, com amigos destes, quem necessita de inimigos?
(Imagem: e-Clique)
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Alguém se lembra do CDS sem Paulo Portas?
Gostando-se ou não da personagem, julgo que vale a pena ler esta peça que saiu sexta-feira no P2 sobre Paulo Portas. O artigo relembra que Portas é líder do CDS desde 1998, apenas com uma pequena interrupção no período de Ribeiro e Castro. É líder há 11 anos. Curiosamente, tendo em conta que já é difícil lembrar o CDS sem Portas como líder, diria que até parecem mais.
(Imagem: RTP Blog)
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Jogada Arriscada
A moção do Bloco é, sem dúvida, uma surpresa e uma jogada de grande risco. O partido coloca-se a jeito de ser responsabilizado por abrir o caminho à direita, de ser considerado irresponsável e radical, indigno da governação, de incongruência face à convergência recente com o PS e de incoerência dada a critica também muito recente à possibilidade de uma moção de censura do PCP. Os riscos são inúmeros.
A meu ver, destacaria até como principal risco a possibilidade do Bloco alienar, com esta guinada à esquerda, uma fatia importante do eleitorado que tem vindo a ganhar ao centro. Um eleitorado tendencialmente jovem, urbano, instruído e tipicamente de centro esquerda, que gosta de causas fracturantes, mas não fala a linguagem da “luta contra o neopliberalismo, em defesa da classe trabalhadora”. Um eleitorado que vota no Bloco porque o PS está demasiado ao centro. Um eleitorado que, com um PS de rastos como se adivinha que esteja quando este Governo cair, com certeza votaria Bloco.
No entanto, como tem vindo a demonstrar-se com o baixar da poeira, a estratégia do Bloco não é tão lunática quanto à partida podia parecer. Aliás, não deixa de ser indicativo o nervosismo criado por uma moção que, afinal de contas, está condenada à partida. Para além de colocar o PSD numa situação bem complicada de gerir, exige clarificação ao PS. E, sobretudo, coloca o Bloco no centro da contestação às políticas governamentais pelo menos durante os próximos meses. No próximo mês, muito pode acontecer que faça com que a legitimidade da moção ganhe força. Por outro lado, nos meses seguintes, o Bloco ficará sempre como o partido que foi o primeiro a formalmente querer colocar fim a esta legislatura que todos reconhecem estar condenada.
Importa ainda acrescentar que, durante estes próximos tempos, o Bloco colocou-se em condições de ser a força política que mais poderá capitalizar o descontentamento social. O descontentamento que virá de forças à esquerda, como os sindicatos, que têm já intensa actividade para os próximos tempos. Mas também o descontentamento social que não está alinhado politicamente, mas que está a sentir o desemprego, a redução dos salários, os cortes nas prestações sociais e que tem grande vontade de punir os responsáveis por tal calamidade.
Em suma, e fazendo justiça ao título, a moção de censura é uma estratégia arriscada do Bloco. Poderá ser um tremendo tiro no pé, mas também poderá significar um importante salto. É precisamente esta incerteza que caracteriza o risco. Veremos o que nos reservam as próximas semanas.
(Imagem: Caroolzitcha)
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Com direito a cravos e tudo
E o regime caiu, abrindo assim a porta à transição para a democracia. Apesar de tudo, tem sido formidável verificar que a violência não alastrou durante estes 18 dias. O movimento da oposição conseguiu conter-se, sendo a via pacífica uma das suas forças. E os resultados aí estão.
Com Mubarak fora de cena, naturalmente que a pergunta que se coloca é que caminho seguirá agora a revolução no país. Sem dúvida que os grandes desafios surgem agora e não podemos prever o futuro. Mas até agora os sinais são bons.
Por último, não querendo contornar a festa que se vive nas ruas do Egipto, resta agora saber para que país da região se dirige agora esta onda revolucionária. Quem será a próxima vítima?
(Imagem: Sky)
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
O líder é magnânimo e responsável. O trabalho sujo é feito por outros...
Aquando da vitória de Cavaco, alguns surpreenderam-se com o facto de Passos Coelho não ter tirado imediatamente proveito na noite eleitoral para atacar o Governo. Em vez disso fez um discurso calmo, sereno, garantindo não se dever tirar ilações do que se passou para efeitos de mudança do Executivo. Um discurso responsável, no fundo.
No entanto, passadas duas semanas, o PSD não está sequer a disfarçar a vontade mudança de ciclo político, emitindo sucessivos sinais neste sentido. Com é evidente, não é Passos que o anda a fazer. Isso seria pouco elegante para um líder, que se quer magnânimo e responsável. O trabalho corrosivo vai sendo feito pelos seus próximos. Enfim, um truquesito que vem em todos os manuais...
(Imagem: Câmara Corporativa)
Revoluções 2.0
De um momento para o outro, e sem que nada o fizesse prever, um amplo descontentamento popular tomou conta da Tunísia. E em pouco tempo, após fortíssima contestação nas ruas, o ditador que governava o país há 23 anos abandonou-o apressadamente. O efeito de contágio não se fez esperar. Os holofotes viraram-se então para o Egipto e, também em pouco tempo, um movimento popular nunca visto tomou as ruas exigindo a demissão do ditador que há três décadas governa o país. A insatisfação já se começou a fazer sentir noutros países da região, crescendo as expectativas sobre se poderá estar em curso uma onda de mudança no Norte de África e Médio Oriente.
Todo este fenómeno tem sido amplamente noticiado em todo o mundo e, como seria de esperar, é também este intenso acompanhamento que tem apoiado o avançar dos acontecimentos. Ou seja, a comunicação assume um papel central neste tipo de processos. Os actores sabem que é também na luta pela comunicação que se ganham e perdem estas batalhas. Nestes domínios, as revoluções tunisina e egípcia têm reflectido dinâmicas muito inovadoras.
Por um lado, importa destacar a cobertura televisiva impressionante que está a ser feita pela Al Jazeera. Disfarçando pouco o seu apoio às movimentações de protesto, a estação de televisão tem conseguido furar constantemente as diversas barreiras à comunicação que têm sido impostas pelos governos. Com correspondentes omnipresentes e com directos permanentes a acompanhar tudo o que se passa nas ruas, a Al Jazeera tem fornecido ao mundo a evolução dos acontecimentos passo a passo. Transformou de facto o que se passa no Cairo numa revolução em directo, onde pudemos assistir em tempo real ao que se passa no terreno.
Mas os media sociais trouxeram também grandes novidades. Uma vez que estas revoluções têm sido despoletadas sobretudo por jovens qualificados das grandes cidades em situação de desemprego, é nas redes sociais que estes encontram o meio privilegiado de contornar a censura governamental. À semelhança do que aconteceu no Irão em 2009, as revoluções tunisina e egípcia têm-se apoiado fortemente no Twitter, no Facebook e no You Tube. Tais ferramentas servem não só para os movimentos contestatários comunicarem entre si, reportando mutuamente o que vão encontrando no terreno, mas sobretudo para mostrar ao mundo o que se está a passar. Os relatos chegam em tempo real e na primeira pessoa, tornando um indivíduo com um telemóvel ou com um computador com acesso à Internet num poderoso actor do processo em curso.
A projecção que as tecnologias conseguem dar ao que se vai passando nos quatro cantos do globo não é uma problemática nova. No século XX, primeiro com a rádio e depois com a televisão, os meios de comunicação permitiram coberturas cada vez mais em cima do acontecimento. A evolução foi progressiva neste sentido, culminando com a cobertura exaustiva da guerra do Golfo pela CNN. A guerra em directo permitiu que todo o mundo experimentasse um imediatismo até então desconhecido na cobertura de conflitos.
Nos últimos anos, tal imediatismo não tem deixado de se aprofundar, suportado naturalmente por novos meios que se têm feito sentir noutras esferas do social. É isso que explica, se calhar sem surpresa, que estas revoluções sejam já apelidadas de revoluções Twitter, Facebook, You Tube e Al Jazeera. O papel que tais meios de comunicação têm tido no desenrolar dos acontecimentos é praticamente inquestionável. Como é evidente, não são eles que fazem as revoluções. Mas passou a ser quase impossível fazer revoluções sem eles.
Todo este fenómeno tem sido amplamente noticiado em todo o mundo e, como seria de esperar, é também este intenso acompanhamento que tem apoiado o avançar dos acontecimentos. Ou seja, a comunicação assume um papel central neste tipo de processos. Os actores sabem que é também na luta pela comunicação que se ganham e perdem estas batalhas. Nestes domínios, as revoluções tunisina e egípcia têm reflectido dinâmicas muito inovadoras.
Por um lado, importa destacar a cobertura televisiva impressionante que está a ser feita pela Al Jazeera. Disfarçando pouco o seu apoio às movimentações de protesto, a estação de televisão tem conseguido furar constantemente as diversas barreiras à comunicação que têm sido impostas pelos governos. Com correspondentes omnipresentes e com directos permanentes a acompanhar tudo o que se passa nas ruas, a Al Jazeera tem fornecido ao mundo a evolução dos acontecimentos passo a passo. Transformou de facto o que se passa no Cairo numa revolução em directo, onde pudemos assistir em tempo real ao que se passa no terreno.
Mas os media sociais trouxeram também grandes novidades. Uma vez que estas revoluções têm sido despoletadas sobretudo por jovens qualificados das grandes cidades em situação de desemprego, é nas redes sociais que estes encontram o meio privilegiado de contornar a censura governamental. À semelhança do que aconteceu no Irão em 2009, as revoluções tunisina e egípcia têm-se apoiado fortemente no Twitter, no Facebook e no You Tube. Tais ferramentas servem não só para os movimentos contestatários comunicarem entre si, reportando mutuamente o que vão encontrando no terreno, mas sobretudo para mostrar ao mundo o que se está a passar. Os relatos chegam em tempo real e na primeira pessoa, tornando um indivíduo com um telemóvel ou com um computador com acesso à Internet num poderoso actor do processo em curso.
A projecção que as tecnologias conseguem dar ao que se vai passando nos quatro cantos do globo não é uma problemática nova. No século XX, primeiro com a rádio e depois com a televisão, os meios de comunicação permitiram coberturas cada vez mais em cima do acontecimento. A evolução foi progressiva neste sentido, culminando com a cobertura exaustiva da guerra do Golfo pela CNN. A guerra em directo permitiu que todo o mundo experimentasse um imediatismo até então desconhecido na cobertura de conflitos.
Nos últimos anos, tal imediatismo não tem deixado de se aprofundar, suportado naturalmente por novos meios que se têm feito sentir noutras esferas do social. É isso que explica, se calhar sem surpresa, que estas revoluções sejam já apelidadas de revoluções Twitter, Facebook, You Tube e Al Jazeera. O papel que tais meios de comunicação têm tido no desenrolar dos acontecimentos é praticamente inquestionável. Como é evidente, não são eles que fazem as revoluções. Mas passou a ser quase impossível fazer revoluções sem eles.
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Como cai um Governo
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ontem que o presente Governo está morto, só faltando passar a certidão de óbito. O eleitorado pode não ter ainda a opinião de Marcelo, mas quando outros opinion makers/opinion leaders começarem a defender tal perspectiva em massa (algo que deverá acontecer a curto prazo), tal opinião começará a disseminar-se pela sociedade. Chegar-se-á então a um ponto em que as sondagens demonstrarão que o eleitorado deixou de estar tão preocupado com a estabilidade, assumindo a mudança como algo necessário. Quando tal acontecer, os restantes partidos ou o Presidente da República deixarão de temer o ónus de fazer cair um governo, esperando apenas a gota de água para o mandar abaixo.
(Imagem: Buzzle)
(Imagem: Buzzle)
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Às Artes, Cidadãos!
Um fim-de-semana passado na Porto permitiu-me ver esta exposição em Serralves que há muito se ouve falar. Não é novidade que na segunda metade do século XX a arte se cruzou muito com a política. A exposição está longe de ser doutrinária. Pelo contrário, refugia-se na conhecida postura de "fazer sobretudo perguntas, não sendo sua intenção dar resposta às mesmas". Para quem puder lá passar, vale bastante a pena. Poderá fazê-lo até 13 de Março.
(Imagem: Galerias de Arte em Portugal)
A 4ª vaga de Democratização?
No momento em que escrevo este artigo, Mubarak ainda se mantém no poder. De qualquer modo, os acontecimentos no Egipto têm-se precipitado de tal forma que não seria de estranhar que hoje, sexta-feira, alterações grandes já tivessem ocorrido. A impressionante pressão popular a que está a ser sujeito o regime autoritário com mais de 30 anos promete não deixar nada como dantes. O regime até pode sobreviver a curto prazo, mas as suas bases parecem seriamente danificadas para resistir ao tempo que passa.
As expectativas e holofotes internacionais que agora estão centrados no Cairo não acontecem por acaso. A queda de ditaduras e a tentativa de implantação de democracias pode de facto ser algo muito contagioso.A forma como a revolução tunisina se fez sentir na região envolvente, mas não só, demonstra isso mesmo. Esta propagação, contágio ou efeito dominó (como preferirem) é um dos factores que está na base das chamadas vagas de democratização, fenómeno significativamente estudado no âmbito da Ciência Política.
A título de exemplo, a conhecida terceira vaga de democratização teorizada por Samuel Huntington começou em 1974 em Portugal e alastrou-se nos anos seguintes a Espanha, Grécia, América Latina e Europa Central e de Leste. O último quarto do século XX foi nitidamente marcado pela referida vaga. Segundo Huntington (TheThird Wave, 1993: 26), existiam 30 Estados democráticos em 1973. Em 1990, passaram a ser 59. Claro que podemos discutir o grau de consolidação das referidas democracias, mas o que é facto é que em poucos anos o número de regimes democráticos ou com fortes contornos democráticos duplicou.
Importa igualmente distinguir duas dimensões centrais. A queda de um regime autoritário é apenas a primeira fase necessária para se dar início a um processo de transição para a democracia. O sucesso deste processo, que envolve uma série de outros desafios (primazia do Estado de Direito, respeito pelas liberdades fundamentais, realização de eleições livres), é naturalmente incerto.
Tal como já tem sido bastante discutido nos últimos dias, a queda de Mubarak assumiria um simbolismo gigantesco em toda a região, podendo impulsionar um formidável efeito dominó de colapso de regimes autoritários. Por outro lado, afastados alguns fantasmas do fundamentalismo islâmico, parece claro que é sobretudo o desejo de democracia que está a mover a onda de oposição ao regime. É certo que profetizar que uma 4ª vaga de democratização poderá nos próximos anos varrer o Magrebe e o Médio Oriente não passa disso mesmo, de um misto de desejo e futurologia. De qualquer modo, são também estranhas misturas como esta que ajudam as coisas a acontecer.
Artigo publicado ontem no Esquerda.net
(Imagem: UDFL)
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Adeus Liedson
Fico com um grande problema: "Liedson" é único jogador do Sporting que o meu filho sabe apontar. Esta saída pode colocar em causa todo o esforço de evangelização que tenho levado a cabo lá em casa...
(Imagem: Notícias do Corinthians)
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Pressão Internacional, sff
Apesar de decadente e de observado em directo em todo o mundo, o regime de Mubarak não se coibiu de impulsionar a onda de violência que hoje varreu o país. Resta esperar que a pressão internacional faça agora o seu papel, apoiando fortemente as forças pró-democracia. Mubarak tem de perceber que se encontra num beco sem saída.
Google Art Project
Já há algum tempo que se ouvia falar deste projecto que foi ontem finalmente lançado. O Art Project do Google (http://www.googleartproject.com/) possibilita com tecnologia street view a visita a 17 dos mais importantes museus do mundo. É formidável. E as obras podem ser observadas em altíssima resolução. Escusado será sublinhar o potencial e mais valia criada por um projecto como este. Para além do seu carácter lúdico, nos domínios da educação, por exemplo, é fantástico um estudante poder visitar em pouco tempo e com poucos cliques o MoMA, o Reina Sofia e o Hermitage. Revolucionário, sem dúvida.
(Imagem: Google Art Project)
(Imagem: Google Art Project)
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Vaga de Democratização?
As expectativas internacionais que agora estão depositadas no Cairo não acontecem por acaso. A queda de ditaduras e a tentativa de implantação de democracias pode de facto ser algo muito contagioso. São as chamadas vagas de democratização, fenómeno significativamente estudado no âmbito da Ciência Política.
A título de exemplo, a conhecida terceira vaga de democratização teorizada por Samuel Huntington começou em 1974 em Portugal e alastrou-se nos anos seguintes para a Espanha, Grécia, América Latina e Europa Central e de Leste. Seria portanto formidável que uma 4ª vaga se iniciasse agora com base no que se está a passar na Tunísia e no Egipto.
(Imagem: Neoavatara)
A título de exemplo, a conhecida terceira vaga de democratização teorizada por Samuel Huntington começou em 1974 em Portugal e alastrou-se nos anos seguintes para a Espanha, Grécia, América Latina e Europa Central e de Leste. Seria portanto formidável que uma 4ª vaga se iniciasse agora com base no que se está a passar na Tunísia e no Egipto.
(Imagem: Neoavatara)
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