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Estas tendências, estão a ocorrer sobretudo devido a um desempenho comunicacional brilhante de José Sócrates e Paulo Portas. Os líderes do PS e CDS quase não têm cometido erros na sua comunicação política. Este seu elevado desempenho, esta sua capacidade de dar a volta às situações, de renascerem das cinzas, de possuirem 7 vidas, tem merecido a admiração e aplauso de diversos sectores. São considerados “animais políticos” e admirados como tal. Se calhar vale a pena esmiuçar um pouco melhor os traços políticos de José Sócrates e Paulo Portas.
No que ao primeiro-ministro diz respeito, não haja dúvidas que é um sobrevivente político como nunca se viu na democracia portuguesa. Depois de lhe terem sido passadas ínúmeras certidões de óbito político, Sócrates surpreende e dá a volta. Ora temos um Sócrates defensor do investimento público, ora temos um apologista do aperto do cinto; ora temos um defensor do papel do Estado na economia, ora temos um apologista das privatizações; ora temos um defensor do Estado Social, ora temos um responsável por inúmeros cortes nas prestações sociais; ora temos o primeiro-ministro que não governava com o FMI, ora temos um primeiro-ministro que anunciou um “bom acordo” com o FMI. Alguns apelidam-no de persistente, outros simplesmente de sobrevivente. De qualquer modo, parece certo que José Sócrates ganhou já um lugar no pódio dos políticos marcantes da democracia portuguesa.
E se consideramos Sócrates um comunicador impar e um sobrevivente impressionante, o que dizer de Paulo Portas? Neste aspecto, o currículo do líder do CDS é no mínimo invejável. Já trouxe grandes vitórias ao seu partido, mas também alguns dissabores. Já o levou ao governo, mas também já teve de conviver com sondagens que diziam que o partido desapareceria. Pelo meio, Portas ora defende menos Estado, ora defende apoios aos agricultores; ora critica o Estado social, ora defende pensões para os mais idosos; ora coloca a boina da lavoura, ora confessa-se fã de sushi, de cinema e de Corte Maltese.
Para além de serem grandes comunicadores e de possuirem um instinto de sobrevivência impressionante, Sócrates e Portas têm em comum a facilidade com que alteram de perfil, como se adaptam às situações e meios que os envolvem, como mudam de discurso e de prioridades. È o conjunto destas habilidades impares que lhes confere o estatuto de animais políticos.
Mas se estas características até podem ser aplaudidas pelos apreciadores do marketing e da comunicação política, estranho é quando são encaradas como qualidades pelo eleitorado. Fará sentido depositar o voto em alguém com uma incrível capacidade de mudar de perfil, de discurso, com uma habilidade grande para se adaptar, para dar a volta e até ludibriar aqueles que o rodeiam? O voto assumido em animais políticos é, a meu ver, um dos fenómenos mais intrigantes do estudo dos comportamentos eleitorais. Se calhar chegámos a uma variante do mitico slogan político brasileiro: “aldraba, mas faz!”
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Riskici)
1 comentário:
O famoso slogan da política brasileira não é o citado, nasceu referido a Ademar de Barros e é «rouba, mas faz...» que também se pode aplicar em Portugal. Quanto à admiração do articulista com os referidos personagens, Sócrates e Portas, tem um nome à milénios, desde a Grécia: demagogos! Desde então dizem que o Povo (qual Povo? Uma parte do Povo)gosta. Pior para o Povo.
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