sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dar a volta ao resultado

Inaugurar o marcador
Há dois anos, o défice estava controlado em Portugal. Abaixo dos 3%, depois de fortes sacrificios. Veio a crise (parte I) e um grande esforço de investimento público para a atenuar. Os Estados endividaram-se para socorrer o sistema financeiro que se encontrava em colapso. Parecia o fim do neoliberalismo, o fim dos selváticos mercados desregulados. 1-0 para os defensores da regulação e de um maior papel do Estado na economia.

O Empate
Quase nada foi feito em termos de regulação. Eis então que os juros da dívida pública (que cresceu devido ao investimento estatal para atenuar o colapso dos mercados) começam a ser alvo de ataques especulativos, deixando diversas economias em situação deveras fragilizada. Paradoxalmente, em vez de prevalecer a crítica estrutural a tais ataques e à sua razão de ser, surge em força o discurso do “andamos a viver acima das nossas possibilidades” e da crítica à dívida pública (?!?). 1-1 para os defensores da desregulação e de um modelo económico de matriz neoliberal.
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A reviravolta
O discurso acima é então assumido de forma tão inquestionável por determinados líderes políticos, por instituições internacionais e pela comunicação social que a própria opinião pública quase o aceita serenamente. Ao ponto dos governos que há dois anos anunciaram o fim da desregulação e o regresso do Estado, assumirem agora como inevitabilidade o aperto do cinto e a cortar em todo o lado, com particular destaque nos salários e nas prestações sociais. Agora a palavra de ordem é que o Estado tem de recuar. 1-2 para os defensores da desregulação e de um modelo económico de matriz neoliberal.

A isto se chama uma verdadeira reviravolta no marcador. Um case study de como transformar uma situação desvantajosa numa oportunidade de ouro. Os defensores da desregulação e de um modelo económico de matriz neoliberal têm razões para andar muito felizes por estes dias.

2 comentários:

Nuno Martins de Pina disse...

Adorava saber o que é Neoliberal...andastes a ler Lenine ou MARX??? Há.... Mas a Música em tua casa deve ser...deixa-me vêr se adivinho...Grandôla Vila Morena.

João Ricardo Vasconcelos disse...

Aquele que preconiza a "doutrina económica que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em sectores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo" in Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo)

Pelo comentário deduzo que passa há pouco tempo por este sofá. Está sempre a tempo de colmatar tão grande lacuna na sua vida.