terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Duas considerações a propósito do Crespogate

1) Como sublinha o post abaixo, Sócrates mais uma vez parece ter um feitio pequeno, irritadiço, pouco tolerante, pouco estadista no fundo. Como é evidente, o feitio de um primeiro-ministro é uma questão lateral à avaliação da sua governação. Mas não é uma questão lateral à confiança que inspira e, logo, à popularidade de que goza.

2) O Crespogate demonstra que o ambiente de pressão sobre a comunicação social não ocorre por via de telefonemas ou censuras directas. Mas sim pela criação de um clima de tensão que proporciona excessos de zelos como o que foi originado pelo director do JN
(Imagem: Núcleo de Ambiente da Universidade do Algarve)

2 comentários:

Anónimo disse...

Aqui vai outro artigo do mesmo jornalista da velha guarda... do Index,

«Portugal (e não só) vive saturado de (des)informação e não há nada que lhe valha. E não há porque aos fazedores de informação, outrora chamavam-se jornalistas, (sejam, ou não, amigos do José ou do Joaquim) restam duas opções: serem domados e manter o emprego ou o inverso.

É claro que, no meio desta enorme teia de corrupção, há lugares para todos, mas sobretudo para os invertebrados, quase todos amigos do José e do Joaquim. Do primeiro para agradar ao soba, do segundo para não perderem o emprego.

Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até vemos os josés e os joaquins do reino a recordar, comovidos, os jornalistas assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.

Aliás, já se começaram a ver muitos dos josés e dos joaquins que amordaçam os jornalistas, aí pela ribalta com a bandeira da liberdade de expressão, forma mais ou menos eficaz de ninguém reparar na sua face oculta.

Durante muitos anos o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu um notório e inédito contributo: os despedimentos. Isto, é claro, para além de haver um outro instrumento de medição que se chama corrupção.

Até já estamos a ver alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Há quatro anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.

Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos dos jornalistas nem ao dos donos dos donos dos jornalistas.

E a resposta não se fez esperar: Jornalista só é bom se for amigo do José e do Joaquim.

Nos últimos cinco anos, por exemplo, pelo menos 181 jornalistas que não eram amigos do José nem do Joaquim e que trabalhavam nas redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).»

Orlando Castro.
http://altohama.blogspot.com/

Patricia Dias da Silva disse...

A auto-censura sempre foi a forma mais perniciosa e danosa de censura. Eu também não sou adepta de teorias da conspiração, e algumas destas histórias (especialmente Crespo e MM Guedes) não me convencem na totalidade, mas que se começa a gerar esse tal ambiente de excesso de zelo, começa...