segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Do Crespogate ao Pressõesgate

Mário Crespo afirma-se agora vítima de ataque governamental (ver artigo aqui). É mais um episódio da novela das pressões que se iniciou assim que Sócrates subiu ao poder. Mas afinal qual é o grau de veracidade desta novela? Eis a questão de um milhão de dólares.

Do mesmo modo que não acredito em listas negras de jornalistas/comentadores a “abater” e telefonemas a solicitar que fulano x ou y seja silenciado, também não acredito que tanto fumo exista por nada. Acredito sim em cenários nem pretos, nem brancos, mas sim cinzentos. Cenários onde as conversas dúbias existem de facto, onde as tensões fazem-se sentir, onde os amigos do poder acabam por ser mais zelosos que o próprio poder, onde as vitimizações, por seu turno, também acabam por ser excessivas e muito úteis.
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É verdade que estas tensões sempre existiram e que quem fala de mais sempre se colocou a jeito. Mas também é certo que, com o amadurecimento democrático, estas tensões devem atenuar-se e não o contrário.
(Imagem: Novono)

3 comentários:

Rogério Paulo Pereira disse...

O que se está a passar é muito grave, em minha opinião.
Se os nossos líderes políticos ainda não amdureceram são pessoas perigosas e colocam o próprio regime em causa.

Carlos Faria disse...

A verdade é que com tanta frequência e de uma forma progressiva, nunca vi o constrangimento aos jornalistas incómodos de forma são marcante como com sócrates... já agora julgo que a este apenas lhe falta alguma dose de frontalidade para assumir as pressões como faz Chavez.

Anónimo disse...

JRV,
Amadurecimento democrático?! ahhahahaha então tome lá um artigo de um jornalista da lista negra, na qual não acredita... pelo menos vê até onde vai esse amadurecimento Democrático ahhahhahahaha

«Diz-me quem é o director, dir-te-ei
em que prostíbulo luso és jornalista
"Sem imprensa livre nenhum combate pode ser ouvido". Quem o diz é a organização internacional não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), fundada em 1985 pelo francês Robert Ménard. Exemplos onde existe imprensa livre são cada vez menos, como convém aos donos do poder.

Mas será, desculpem a dúvida, liberdade de imprensa ver a esmagadora maioria dos media a dizer que o rei vai elegantemente vestido quando, no país real, todo o povo diz que ele vai nu? Será liberdade de imprensa um director de jornal proibir um artigo de opinião?

A RSF luta permanente contra a censura e todas as leis que restrinjam a liberdade de imprensa, não lhe faltando casos para análise, situações para debate e exemplos que levem a pensar que se trata de uma guerra em que os jornalistas usam fisgas e os donos do poder, político e económico, mísseis quase sempre disparados pelos mercenários que têm nas direcções.

Mísseis que, aliás, têm a especial qualidade técnica de transformar jornalistas em produtores de conteúdos de linha branca que, ainda por cima, podem ser vendidos nos mesmos suportes (jornais, televisões e rádios), conferindo-lhes assim um rótulo de informação, de imprensa.

E se em muitos países da América Latina e de África a situação até é considerada normal, na Europa (continente que tem a mania de ser bom exemplo em tudo e para tudo) a coisa está também negra e os jornalistas estão a perder a guerra... mesmo quando tentam apenas escrever a sua opinião. E sendo eles derrotados, também a democracia e a liberdade vão ao fundo. Mas isso pouco interessa aos mercenários e a quem os contratou.

O presidente da Roménia, Traian Basescu, determinou que os jornais da televisão pública devem ter 50% de notícias porque, à antiga maneira comunista, ou à nova maneira socialista liberal, a informação quando feita à medidade e por medida é uma excelente e eficaz forma de manipulação.

Em Itália, de forma descarada, Berlusconi e os seus servos (alguns ditos jornalistas) controla os melhores horários em que na RAI 1 e RAI 2 passam as notícias de propaganda do Governo. Não são notícias, são anúncios publicitários. Mas como são supostamente feitos por jornalistas...

Em França, com outra substileza. o presidente Nicolas Sarkozy é quem manda em muitas redacções, usando para isso os favores dos seus apaniguados nos meios de comunicação social ou, é claro, os poderosos amigos que mandam nos grupos económicos proprietários desses meios.

E Portugal? Segundo a RSF, a liberdade de imprensa diminuiu, registando uma queda do 16º para o 30º lugar na lista dos países que mais respeitam o trabalho dos jornalistas.

Portugal ainda não está, hoje ficou mias próximo, ao nível do Brasil (71º), Moçambique (83º), Guiné-Bissau (92º), Angola (119º) ou Timor-Leste (74º).

E hoje ficou mais próximo porque essa coisa de contratar mercenários que, para além de terem coluna vertebral amovível e de gostarem de estar de pé perante os seus súbditos e de joelhos perante o poder, não sabem ler nem escrever para dirigir jornais só mostra que país é Portugal.

Por outras palavras, como diria o Mário Crespo, o poder quer que os jornalistas perguntem não o que o Estado/país/bordel pode fazer por eles, mas sim o que eles podem fazer pelo bordel/país/Estado.

E o que melhor podem fazer é aceitar que para serem um dia directores de um jornal tiveram de ser criados do poder. A bem da nação, está bem de ver.»

Publicada por Orlando Castro