quarta-feira, 31 de março de 2010

Prognósticos no fim do jogo

Em Maio de 2008, Manuela Ferreira Leite foi eleita sob a bandeira da autenticidade. Contra a plasticidade de Sócrates, era preciso alguém que personificasse a política séria e crua à antiga, sem grandes subterfúrgios mediáticos. A aposta em tal crueza originou os resultados que todos conhecemos. E eis que o PSD parece agora converter-se, com a eleição de Passos Coelho, às maravilhas da nova política. A política onde importa não só ter razão, mas sobretudo parecer ter razão. A política onde a comunicação e a imagem assumem um papel centralíssimo, Neste aspecto, Portugal possui agora um primeiro-ministro e um líder do maior partido da oposição que incorporam paradigmas muito semelhantes.

Esses ares de nova política, essa aura de mudança e modernidade que rodeou Passos Coelho (alguns até já o comparam a Obama) são alguns dos traços que parecem ter-lhe retirado a bênção da maioria dos barões sociais-democratas. A ala cavaquista tanto o desprezou que acabou mesmo por o substimar bastante. Não só adiou fatalmente a apresentação de uma alternativa, como a apresentou de forma fragmentada. Rangel, a grande promessa, foi uma desilusão por si só. Como se tal não bastasse, foi constantemente acossado por um Aguiar Branco que não lhe perdoou a rasteira aquando da apresentação das candidaturas. Passos agradeceu tanta desorientação e desentendimento entre comadres e rumou tranquilamente à vitória.

O percurso de Passos Coelho até à liderança foi longo. Foram dois anos de prepararação intensiva, dois anos a formar equipa, a sedimentar alianças, dois anos no conhecido circuito da carne assada. Foi um percurso meticuloso, sem grandes pressas. Evitou cometer erros e não procurou conflitos. Foi passando uma mensagem, foi transmitindo persistência, foi mostrando determinação e corporizando a vontade de mudança. Conseguiu trazer para junto de si muitos sectores insatisfeitos e foi criando clubes de fãs aqui e ali. Foi mordendo aos poucos a liderança de Ferreira Leite, embora nunca lhe dando qualquer pretexto para respostas hostis. Antes pelo contrário. Permaneceu sempre com uma postura de irritante lealdade, algo que foi tirando do sério muitos dos apoiantes da anterior líder.

A nível de projecto político, Passos assumiu-se como representante do novo centro-direita, ou da direita liberal se preferirem. Liberal nos costumes, mas sobretudo a nível económico, propondo o recuo do Estado mesmo em sectores chave como a educação, a saúde ou a segurança social. Tentou assim representar uma lufada de ar fresco num PSD com pruridos históricos em ocupar tal espaço no sistema partidário português. E embora tal discurso tenha apresentado algumas fragilidades com o eclodir da crise financeira internacional, originou também que diversos sectores que há muito se mostram cansados da costela social-democrata do partido laranja, tenham começado a escutar com mais atenção o que o ex-líder da JSD vinha dizendo.

Quando olhado agora, o percurso de Passos Coelho parece talhado desde o primeiro momento para ser um percurso vencedor. Possui todos os ingredientes para sobre ele poder ser feito um magnífico “prognóstico no fim do jogo”. No fundo, a sua vitória parece uma evidência quando olhada a posteriori. Resta agora saber se não será um feliz contemplado da lei Durão Barroso – será primeiro-ministro, não se sabe é quando. Muitos já arriscam tal prognóstico. E eu também estou inclinado a não esperar até ao fim do jogo para o fazer. Mas se as evidências a posteriori convencem pouco, em política as evidências a priori também são de desconfiar.
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Artigo publico ontem no Açoriano Oriental

PEC? Eu é mais PAC…

O caso dos submarinos é apenas mais um exemplo que demonstra o quão endémico é o problema da corrupção em Portugal. Não seria tempo do combate à corrupção entrar a sério na agenda política e as diversas forças trabalharem num amplo Programa Anti-Corrupção (PAC).

Um programa global, acolhendo medidas em diversas áreas de actividade e dimensões variadas (desde o sigilo bancário às regras de nomeações políticas na Administração Pública, passando por um mais claro relacionamento entre público e privado, por melhores regras de incompatibilidades profissionais aquando do exercício de cargos públicos, por períodos de nojo obrigatórios entre o exercício de funções públicas e o privado, entre muitas outras).

Tal implicaria naturalmente amplos consensos entre os diversos partidos, algo complicado, é certo. Mas algo que uma ampla cobertura mediática e que a consequente atenção e expectativas da opinião pública poderiam impulsionar. Fica a ideia: PEC? Eu é mais PAC…
(Imagem: yahyasheikho 786)

terça-feira, 30 de março de 2010

Já cá faltava este tipo de discurso

Os sucessivos casos de pedofilia agora divulgados têm naturalmente gerado uma série de críticas à Igreja Católica. Muitas destas criticas são mais do que justas, apontando o encobrimento que a Igreja fez ao longo dos anos deste tipo de casos. Mas algumas destas criticas até vão mais além, apontando a necessidade de reformismo no seio da Igreja, levantando questões já tão antigas como a questão do celibato dos padres, o impedimento das mulheres no sacerdócio ou o arcaísmo da Igreja sobre qualquer temática que verse a sexualidade.

Muitos destas últimas críticas surgem de sectores distantes da Igreja, não-católicos ou ateus. Estranho seria se assim não acontecesse. É então que surge o discurso que já cá faltava: “se não és católico, não tens nada que opinar sobre questões da Igreja Católica”… Que grandioso argumento, não é? Nesta linha de raciocínio, se não és americano, não tens nada que opinar sobre os EUA, se não és benfiquista, não tens nada que opinar sobre o Benfica, se não és mulher, não tens de opinar sobre os problemas das mulheres, and so on, and so on

O João Miranda habituou-nos a muito melhor do que a este tipo de discurso. Mas enfim, apeteceu-lhe hoje de forma provocatória utilizar esta linha que, apesar de absurda, serve sempre para arregimentar algumas mentes menos iluminadas, ganhar uns comentários a mais e merecer alguns posts noutros blogs a criticar o que escreveu. Enfim, todos temos direito a este tipo de posts de vez em quando...
(Imagem: Graphics Soft)

Para lá dos notáveis

Com o anúncio do PEC, diversas personalidades mais ou menos associadas à ala esquerda do PS tem vindo a público distanciar-se e criticar tal programa. De Ana Gomes a Paulo Pedroso, passando por João Cravinho, Ferro Rodrigues (ver artigo no Expresso desta semana), Vera Jardim, Maria de Belém, Pedro Adão e Silva, Mário Soares e, claro, Manuel Alegre, muitos têm sublinhado o quanto tal programa afasta o PS das linhas programáticas que se esperam de um partido de centro esquerda.

O distanciamento da maioria destes notáveis está longe de constituir uma surpresa. Não raras vezes criticaram a linha política excessivamente centrista da actual direcção socialista. Resta agora saber como está a situação no partido para lá destes notáveis. Serão só eles os insatisfeitos com o rumo tomado pela actual direcção? Até quando as bases e corpos intermédios aguentarão a solidariedade política com a linha Sócrates?
(Imagem: Pedro Azevedo - Sojormedia)

segunda-feira, 29 de março de 2010

E o prémio de melhor anedota do ano vai para…

E num maravilhoso reino no meio da Atlântico…

O PSD rejeitou, na semana passada um debate de urgência na Assembleia Legislativa da Madeira sobre a liberdade de expressão e apoios à comunicação social na região, proposto pelo BE. E prepara-se para "chumbar" uma comissão de inquérito, que o PS vai requerer hoje, para avaliar a interferência do Governo Regional na comunicação social.” (Público, 29/03/2010)

Lindo, não é? Se eu fosse jornalista, ia já hoje dar as boas-vindas ao Dr. Pedro Passos Coelho no seu novo local de trabalho e perguntava-lhe o que ele tem a dizer a este respeito.
(Imagem: Box-M)

domingo, 28 de março de 2010

É daquelas coincidências...

O Público de ontem apresentou uma peça interessante sobre as aquisições de armamento a nível internacional. A Grécia, o tal país à beira da bancarrota, é o quinto comprador mundial de armamento. E adivinhem quem é o seu principal fornecedor? A Alemanha, o tal Estado-membro que anda tão irritado com a irresponsabilidade despesista grega. É uma curiosidade que vale o que vale, mas que não deixa de ser interessante.
(Imagem: Hells Angels)

sábado, 27 de março de 2010

Chegou o tempo da direita liberal no PSD?

Confirmada a vitória, a principal curiosidade que tenho é saber se Passos Coelho conseguirá imprimir um rumo verdadeiramente liberal ao PSD. Será que é desta que o PSD consegue ocupar sem pruridos o lugar da direita liberal no sistema partidário português?

sexta-feira, 26 de março de 2010

O regresso aos relvados

No mesmo dia em que é anunciado o novo líder do PSD, Cavaco volta aos níveis de popularidade do Verão passado. Volta, no fundo, aos bons velhos tempos que antecederam o hilariante caso das escutas. Cavaco parece perfeitamente recuperado da lesão, tendo agora todas as condições para voltar em grande aos relvados.

O esperado dia finalmente chegou

Seis meses depois da derrota nas legislativas, o PSD elegerá hoje finalmente o seu novo líder. Tanto tempo em gestão deixou o partido muito mal colocado nas sondagens, mas também permitiu salvaguardar esta nova liderança do natural mini-estado de graça de que Sócrates poderá ter beneficiado após a reeleição.
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Com o desgaste em que se encontra o actual Executivo, o novo líder do PSD beneficia das melhores condições para chegar ao poder desde que os laranjas se encontra na oposição. Veremos a partir de amanhã como as aproveitará.
(Imagem: AH Fashion)

E porque hoje é sexta-feira


Beck - Timebomb

quinta-feira, 25 de março de 2010

Não é a mesma coisa

É positivo que o Executivo tenha dado um passo atrás no congelamento das pensões. E é positivo que tenha optado agora pelo congelamento dos bónus dos gestores de empresas públicas. A isto se chama reagir. Não confundir com agir, sff. É que não é a mesma coisa.
(Imagem: Scottboms)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Entrevista de Manuel João Vieira

Grande entrevista de Manuel João Vieira na Pública deste Domingo. Uma entrevista longa, com direito a todos os heterónimos e ao próprio. Um texto para saborear com tempo.
(Imagem: Contra Cultura)

Desorientação Ideológica

Apesar das recorrentes teorias que preconizam o enfraquecimento ou o fim da dicotomia esquerda-direita, continua a existir um relativo consenso de que tal oposição subsiste e que continua a fazer grande sentido nos dias de hoje. A política existe porque existem campos opostos, opções diversas, escolhas alternativas. Estas são agrupadas em campos dicotómicos mais ou menos coerentes, dos quais a oposição esquerda-direita se afirma como a historicamente mais reconhecida.

O posicionamento das forças políticas a nível de esquerda-direita não se faz de forma simplesmente dicotómica, mas sim num continuum que vai de um extremo ao outro extremo. É no centro político, zona onde se situa a maioria dos partidos com experiência de governabilidade, que maiores dificuldades de definição ideológica podem ser encontradas. Mas apesar do afastamento dos extremos implicar alguma nebulosidade ideológica, as qualificações de centro-direita e centro-esquerda utilizam-se precisamente para sublinhar ancoragens em determinado “lado da barricada”.

Em Portugal possuímos um centro político conhecido por ser excessivamente centrista. Ou seja, o partido de centro-direita (PSD) está demasiado à esquerda e o partido de centro-esquerda encontra-se demasiado à direita. A clivagem ideologica entre PS e PSD é reduzida quando comparada com outros sistemas partidários de referência a nível europeu. No fundo, trocado por miúdos, podemos dizer que há uma preocupante dose de verdade quando correntemente se afirma que “PS e PSD são iguais e defendem o mesmo”.

As raizes de tal fenómeno encontram-se sobretudo na transição para a democracia (1974-1976) e na forma como se estruturou o sistema de partidos. No caso do PS, o facto de se ter afirmado sobretudo por oposição às forças à sua esquerda pode ser apontado como um dos motivos para a sua limitada propensão de ancoragem à esquerda. Ao mesmo tempo que foi o partido responsável por algumas das medidas mais emblemáticas para a criação do Estado-providência em Portugal, não tem resistido a assumir um papel de destaque no desmantelamento do mesmo (p/ex: reforma das leis laborais, diminuição da presença do Estado na economia, abertura progressiva da educação e saúde ao sector privado).

O polémico Programa de Estabilidade e Crescimento agora apresentado é um exemplo paradigmático a este respeito. Os portugueses são hoje brindados com um suposto partido de centro-esquerda a concentrar a maior parte dos esforços de equilibrio das contas públicas na limitação das prestações sociais, no congelamento dos salários, na limitação das deduções fiscais e num amplo programa de privatizações. No fundo, um partido de centro-esquerda a actuar com uma linha indistinta da direita política. O PEC não só deixou naturalmente perplexos e incomodados alguns sectores no seio do próprio PS, como conseguiu o magnifico feito de colocar os partidos à direita a criticarem pela esquerda os socialistas.

Podemos sempre relativizar a importância dos conceitos de esquerda e direita tendo em conta os desafios da governação. E podemos até pensar que as dificuldades dos tempos actuais não se compadecem com pruridos ideológicos. Mas se considerarmos que, apenas seis meses depois de ter sido eleito, Sócrates propõe-se aplicar receitas diametralmente opostas às que prometeu aos seus eleitores, não possuindo desta vez sequer o álibi do desconhecimento da situação para justificar a sua actuação, percebemos então que a desorientação ideológica é “um bocadinho” mais grave em termos democráticos do que à partida pode parecer. .
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Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental

A poucos Passos da vitória

Tudo parece correr bem a Passos Coelho. Após ter conseguido desembaraçar-se bem no debate de segunda-feira na RTP, continua a dirigir-se ao país e a gerir a vantagem. Por seu turno, Aguiar Branco parece ter como lema “Moche ao Rangel!”. Este último lá se vai tentando defender da fúria do Zé Pedro e Passos, de forma magnânima, até já faz apelos à “unidade” dentro do partido. A três dias da eleição, tudo indica que não existirão mais surpresas. A ver vamos.
(Imagem: Flickr Passos Coelho)

terça-feira, 23 de março de 2010

Os macacos e seus galhos

Uma coincidência levou-me hoje ao Hospital dos Lusiadas de manhã e ao Dona Estefânia ao fim da tarde. E tal coincidência levou-me mais uma vez a confirmar algo que é evidente à vista de todos e não apenas à daquela “malta da esquerda que está sempre a protestar e tal”: é impressionante constatar a verdadeira separação de classes existente na frequência dos sistemas públicos e privados de saúde.

À vista desarmada, quando nos deslocamos à CUF Descobertas, ao Hospital dos Lusiadas, ao Hospital da Luz ou a outros bem conhecidos da capital, estramos no maravilhoso mundo da classe média e classe média-alta. As pessoas são bonitas, arranjadas, cheirosas, escolarizadas. De repente parece que estamos num Portugal onde qualquer pessoa pode ter uma carrinha ou um carro de gama alta. Os espaços são limpos, tudo é novo e high tech e saimos de lá com a sensação que este país está no bom caminho.

Pelo contrário, quando vamos a qualquer hospital público da capital, caimos subitamente no mundo real. Ena, afinal há tantas pessoas que passam dificuldades... Ena, tantos velhotes... Ena, tantos imigrantes... Ena, há pessoas que não têm seguros de saúde... Ena, há pessoas que têm carros com mais de dez anos ou não têm carro de todo... Fogo, estas instalações estão mesmo velhas... Caramba, as pessoas têm um ar tão triste...

A frequência dos sistemas de saúde é apenas um exemplo mundano do sistema de dois mundos que existe cada vez mais em Portugal. Mundos que parecem cruzar-se cada vez menos e, naturalmente, ignorar-se progressivamente. Desculpem este desabafo que roça o lugar comum, mas será assim tão idealista não concordar e, por consequência, combater activamente esta lógica crescente do cada macaco em seu galho?
(Imagem: Donraja)

Jantar-Convívio da ATTAC

Esta Quinta-Feira - 25 Março, pelas 20 horas

A ATTAC co-organiza com o GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental) o Jantar Popular. A ementa será vegana e sempre saborosa. A sobremesa será servida com uma conversa sobre a experiência da participação no Cop 15 (Conferência das Partes sobre o Clima) em Copenhaga por activistas do projecto 270. E ainda será apresentado o “Dia Internacional de Subir às Árvores!

Finalmente, o nosso companheiro Vitor Sarmento, da Direcção da ATTAC, tocará ainda umas musicas enquanto bebemos o café ou uma ginginha. Haverá uma banca da ATTAC, com novos materiais!


Como chegar ao Centro Social da Mouraria?
No Martim Moniz, subir a mouraria conforme o mapa, o centro social localiza-se no portão nº 21 da Travessa da Nazaré.

O que é o Jantar Popular?
- Um Jantar comunitário vegano e LIVRE DE OGMs que se realiza todas as Quintas-feiras no Grupo Desportivo da Mouraria
- Uma iniciativa inteiramente auto-gerida por voluntários do Centro Social do Jantar. Para colaborar, cozinhar, montar a sala basta aparecer a uma Quinta-feira a partir das 16h30.
- Um projecto autónomo e auto-sustentável. As receitas do Jantar Popular representam o fundo de maneio do Centro Social do GAIA que mantém assim a sua autonomia.
- Um jantar onde ninguém fica sem comer por não ter moedas e onde quem ajuda não paga. O preço normal são 3 euros.
- Um exemplo de consumo responsável, com ingredientes que respeitam o ambiente, a economia local e os animais.
- Uma oportunidade para criar redes, trocar conhecimentos e pensar criticamente


Aparece, e traz um amigo/a também!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dois coelhos de um cajadada só

Depois do Governo ter tentado que fosse o sucessor de José Penedos na REN (proposta recusada pelos accionistas privados), Mário Lino é agora apontado como possível próximo chairman da Cimpor. O seu nome foi proposto pela Caixa Geral de Depósitos.
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A cúpula socialista procura, deste modo, conseguir dois coelhos de uma cajadada só. Por um lado, depois de ter sido deixado de fora neste novo Governo, é tempo de recompensar Mário Lino pelos serviços prestados. Por outro lado, firmar golden shares socialistas em grandes empresas é um objectivo pelo qual vale sempre a pena lutar. E a verdade é que tais empresas normalmente agradecem...
(Imagem: Caverna Obscura)

Sobre a Reforma da Saúde conseguida por Obama

Está muito longe de ser a reforma perfeita, sobretudo quando observada por olhos europeus habituados a serviços nacionais de saúde. De qualquer modo, tendo em conta o historial americano, tudo parece indicar que se deu um passo muito importante, sobretudo no domínio da universalização do acesso.
(Imagem: Brand Channel)

Há por aí algum psicanalista?

Às vezes fico com a nítida sensação que grande parte das lideranças da Administração Pública fazem esforços hercúleos para a descredibilizar. Eis apenas um exemplo. Curiosamente, são também estas lideranças que mais se queixam do regabofe que reina nas instituições do Estado. É um fenómeno digno de estudos psicanalíticos…

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pai de um, pai de dois

Evito partilhar questões pessoais neste espaço. Mas não há regra sem excepção. Ser-se pai de um neste dia é uma maravilha. Pensar que no próximo ano já serão dois é brutal! ;)
(Imagem: Ilpastaio)

Bora pagar a crise?

De facto, é uma chatice mas as contas públicas chegaram a um ponto em que todos vamos ter de nos sacrificar um pouco, todos vamos ter de apertar o cinto. É chato que tal venha a acontecer, mas não existe alternativa. Vai ser necessário emagrecer as despesas do Estado, vai ser necessário reduzir algumas prestações sociais, vai ser preciso aumentar alguns impostos e limitar as deduções fiscais. Terá de se cortar no investimento público e não há como escapar a algumas privatizações. São medidas inconvenientes, mas que têm de ser tomadas e infelizmente cada português vai ter de contribuir para tal esforço. Os tempos assim o exigem e o Estado tem de ser gerido como uma casa: em tempos de aperto, tem de se cortar, cortar e cortar. Que remédio, não é?

O parágrafo acima, provocatório q.b., procura sintetizar o tipo de pensamento fatalista que tende a hegemonizar o espaço público em tempos de crise. Não é um pensamento novo, antes pelo contrário. Baseado em duas ou três ideias simples, pretende sempre passar para o senso comum algo profundamente ideológico, algo que longe de ser um fatalismo, é sobretudo uma escolha política.

Ao mesmo tempo que assume algumas das premissas acima expostas como fazendo algum sentido à partida (e.g. em tempo de crise, há que poupar, há que fazer sacrifícios), a maioria da opinião pública também sabe que faz pouco sentido que o esforço se faça sentir sobretudo em quem tem menos rendimentos, faz pouco sentido que se cortem prestações sociais precisamente nos momentos em que elas são mais necessárias, faz pouco sentido privatizar bens que dão lucro e sobretudo fazê-lo em tempo de crise.

É normalmente algures no meio deste tipo de compreensão nebulosa e concordância contraditória que surge a descrença, a insatisfação contida, o conformismo e, para rematar, a tradicional afirmação de que "são todos iguais, defendem todos o mesmo". E mesmo aqueles fulanos dos partidos mais à esquerda que parecem simpáticos e nunca dispostos a desistir, tendem a ser olhados como idealistas demasiado encerrados em cassetes interessantes para alguns, mas que dizem pouco à maioria. Por isso, não raras vezes essa maioria não têm como escapar ao caminho do comer e calar. E, para não variar, acaba por esperar pacientemente que todo este temporal passe depressa, rezando para não estar entre os tristes contemplados com o desemprego.

É por isso que, em momentos como o presente em que ataques cerradíssimos estão a ser levados a cabo contra a justiça social, a esquerda não pode deixar de se reinventar permanentemente. Inovando na forma como chega às pessoas, no envolvimento e mobilização da população para as causas que defende, inovando nas mensagens que transmite, no discurso que a vincula. Como é sabido, não basta ter razão. É preciso demonstrar diariamente, como se fosse sempre a primeira vez, que se possui tal vantagem. Procurar novos meios e novos caminhos para se chegar às pessoas assume-se como esforço permanente e a fuga da cristalização tem de ser um objectivo quotidiano.

O momento presente é demasiado sério para que apenas as receitas conhecidas possam ser mobilizadas. A esquerda tem de, sobretudo nestes períodos, ser exigente, ser inteligente, ser criativa. É tempo de dar tudo por tudo. É tempo de arriscar. E é tempo de agir. Bora cobrar a crise. Bora mostrar a alternativa.
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Artigo publicado hoje no Esquerda.net
(Imagem: Earthlingsoft)

quinta-feira, 18 de março de 2010

E porque amanhã é sexta-feira

Legendary Tigerman feat. Maria de Medeiros - These Boots are made for Walkin

quarta-feira, 17 de março de 2010

Paradoxal, mas pouco

É consensual constatar-se que José Sócrates atravessa hoje o pior momento desde a sua ascensão em 2005. Com os casos que continuam a somar-se em seu redor, com a demonstração de que mentiu perante o parlamento, com uma comissão de inquérito a caminho e com o aumento do esforço fiscal da maioria dos portugueses inscrito no Programa de Estabilidade e Crescimento (depois de se ter garantido que tal não viria a acontecer), Sócrates tem todas as razões para estar preocupado. Os tempos estão mais complicados do que nunca.

Paradoxalmente, em total contramão com o forte desgaste de que tem sido alvo o Executivo, algumas sondagens nos últimos dias continuam a dar uma folgado score aos socialistas (ver DN da passada sexta-feira ou o Expresso desta semana). Algumas apontam até que, se existissem hoje eleições, os socialistas teriam um resultado muito próximo da maioria absoluta. Mas como é possível que, num momento de tamanho desgaste, as intenções de voto continuem a ser tão favoráveis ao PS? Como é possível que no pior momento do seu percurso, as sondagens continuem a pintar um cenário cor-de-rosa?

Podem ser diversas as explicações para tal fenómeno. Comecemos por uma com contornos exóticos e que se reflectiu particularmente numa sondagem publicada no Público de 5 de Março. Apesar da maioria dos portugueses estar convencida que o primeiro-ministro mentiu quando afirmou o seu desconhecimento sobre o negócio da TVI, e da maioria considerar injustificável tal mentira, a maioria continua a desejar a sua continuidade. No fundo, a estabilidade governativa afirma-se como valor primordial, sobrepondo-se a valores como a credibilidade ou a confiança. Um posicionamento que nos faz recordar o fenómeno berlusconiano. Apesar dos sucessivos escândalos e de reconhecerem a seriedade duvidosa do seu primeiro-ministro, os italianos continuam a preferir que continue no cargo.

Por outro lado, não menos importante para os resultados ainda tão favoráveis ao PS é o estado debilitado em que se encontra o seu principal adversário. O PSD está decapitado desde Outubro. Há cinco meses que não possui um rosto que se apresente como alternativa ao actual primeiro-ministro. Há cinco meses que tem estado centrado em si próprio. Deste ponto de vista, se calhar os resultados que lhe vêm sendo atribuidos até nem são tão maus quanto isso. Pelo contrário, podem ser indicativos de que o PSD está muito mal, mas os socialistas não podem respirar de alívio.

E assim acontece porque os dois pressupostos acima apontados para justificar os bons scores do PS nas sondagens – desejo de estabilidade governativa e estado lastimável do PSD – poder-se-ão alterar muito rapidamente. É sabido que o poder em democracia normalmente não se ganha, perde-se. Mas para que tal se verifique, para que o forte desgaste de quem governa se torne fatal e para que outros valores se sobreponham à estabilidade governativa, é obviamente necessário que o partido que costuma alternar no poder dê alguns sinais de vida.

Ora, depois de tantos anos de travessia no deserto, parece difícil acreditar que o PSD possa já constituir-se como alternativa aos olhos do eleitorado. Mas elegendo agora um líder que consiga obter o mínimo de respeito por parte das diversas tendências internas, é fortemente provável que tal venha a acontecer. E mais: se apenas conseguir permanecer de braços estendidos, não é de excluir que o poder lhe possa cair nas mãos a curto/médio prazo. Paradoxal? Sim, mas não tanto quanto à primeira vista podia parecer.
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Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental
(Imagem: Paradoxal.net)

Sobre a pedofilia na Igreja

De repente começaram a ser revelados inúmeros casos de pedofilia na Igreja Católica. Tal frenesim mediático pode levar rapidamente a opinião pública a procurar em cada padre um potencial pedófilo. Como é evidente, a pedofilia é um problema social e não um problema da Igreja Católica. A última coisa desejável neste momento seria o surgimento de qualquer tipo de caça às bruxas.

Mas, no momento presente, a Igreja arrisca-se a pagar com juros o facto de sempre ter abafado o que de mal se passa no seu seio. Arrisca-se a pagar com juros o facto de defender que no seu interior impera o “reino dos céus”. A Igreja pecou, pecou muito mesmo e continua a pecar.

Se calhar devia confessar-se, pedir o perdão e assumir que é uma organização terrena não imune aos problemas da sociedade em geral. E já sobretudo, umas vez que as desculpas não se pedem, evitam-se, deveria mostrar mais claramente em que é que pretende mudar de hoje em diante. É que, dizem “os manuais”, só assim faz sentido pedir o perdão.

terça-feira, 16 de março de 2010

Menos teatro, sff

A "lei da rolha" é uma anedota. Mas o facto do PS querer discutir tal norma do PSD em plenário da Assembleia da República só pode ser uma piada de mau gosto. Não só porque os socialistas possuem algo semelhante nos seus estatutos, mas sobretudo por se tratar de uma manobra de aproveitamento teatral e que roça a infantilidade de um fait diver infeliz do seu principal adversário.
(Imagem: In-Direita)

Pensavam que se escapavam, não?

Santana Lopes esteve ontem na SIC Notícias a explicar a “lei da rolha” a Mário Crespo. Para além da sua já tradicional postura calimeresca tentando justificar o injustificável, mostrou que não tenciona ficar com as responsabilidades de aprovação de tal norma só para si.

Um Santana como há muito não víamos mostrou então que vai, de forma solidária e fraternal, partilhar o ónus com todos os seus companheiros, nomeadamente com os candidatos. Sim, porque tal norma não foi aprovada sozinha, mas sim por mais de 350 delegados. Tamanho espírito de partilha do ex-primeiro-ministro foi bonito de se ver.

Eureka

Ainda bem que há quem critique e defenda debate interno no PS em torno das medidas apresentadas no Programa de Estabilidade e Crescimento. É sinal de que a massa crítica à esquerda no PS está atenta e de que a solidariedade partidária não pode justificar tudo. Esperemos agora que tais críticas consigam ser mais do que uma manifestação conveniente de distanciamento. No momento presente, exige-se mais do que isso.
(Imagem: Aimore)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Mayday Lisboa 2010

Pelo quarto ano consecutivo, a organização do Mayday Lisboa está já em curso. Para mais informações sobre o 1º de Maio do precariado, consultar o site do movimento em www.maydaylisboa.net.

O esforço do Paulo Artur

Com o esbatimento de Aguiar Branco este fim-de-semana, foi como se uma segunda volta tivesse sido antecipada. Passos Coelho continua favorito mas, nestas duas semanas, Rangel dará tudo por tudo para reunir os anti-passistas. Veremos como se sairá este nosso Paulo Artur...

domingo, 14 de março de 2010

A melhor notícia do fim-de-semana

Uma sondagem publicada no Expresso dá 36,9% a Cavaco Silva, 25% a Manuel Alegre e 9,6% a Fernando Nobre. Cavaco tem assim um score muito baixo (mais baixo do que Sampaio alguma vez teve). Tal como referi em posts anteriores, é claro que a ressurreição de Cavaco agora é que se está a processar. Ou seja, muita água correrá debaixo do moinho até às presidenciais.

Mas não deixa de ser animador verificar que, a um ano das eleições, as pontuações de Alegre e Nobre estão apenas a dois pontos de Cavaco e a possibilidade de uma segunda volta está claramente em cima da mesa. Não está mau.
(Imagem: Fórum Defesa)

A Forma Justa

A Forma Justa não é um blog novo e assume-se como "eventualmente - e pontualmente - altamente alinhado", mas é um espaço que vale a pena ir acompanhando. A título de curiosidade, fui colega de mestrado do seu autor - Tiago Tibúrcio. Trata-se, portanto, de um espaço com uma veia politológica significativa. Se isso é bom ou mau, já é uma outra conversa. ;)

sexta-feira, 12 de março de 2010

O Favorito

A sondagem para a SIC, Expresso e Rádio Renascença é arrebatadora para Passos Coelho, de longe o preferido dos inquiridos para liderar o PSD (47% para Passos, Rangel com 20% e Aguiar Branco com 18%). Como parece evidente, esta será uma daquelas sondagens que muito peso deverá ter no rumo dos acontecimentos quer este fim-de-semana no Congresso, quer naturalmente nas directas que se seguirão.

Sobre a sondagem da U. Católica

À primeira vista, a sondagem da U. Católica apresenta resultados surpreendentes: como é possível que, apesar de tudo o que se está a passar, o PS continue com uma margem tão grande?
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No entanto, uma segunda leitura dos resultados poderá levar a uma visão um pouco diferente: apesar de estar decapitado há meses e em profundas lutas internas, o PSD consegue mesmo assim obter 33%.
(Imagem: Tabuleiro Político)

Figurinha de Boi

Não quero aqui fazer a exaltação angelical dos presidentes de Junta de todo o país. Mas chamar-lhes boys é claramente um delírio de Teixeira dos Santos. Ainda por cima num momento em que o país ficou a conhecer apenas uma amostra dos “golden boys” do PS. Enfim… O ministro queria ser perspicaz, mas acabou por fazer figurinha de… boi.
(Imagem: Laboratório do Papel)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Isto está tudo ligado

É impressionante como o CDS é capaz de aproveitar as matérias mais improváveis para atacar as prestações sociais. A propósito da atenção agora dada ao bullying nas escolas, os populares vão propor que as famílias dos "delinquentes" sejam responsabilizadas com cortes em prestações sociais, como o abono de família. Ainda não referiram o rendimento social de inserção (RSI), mas certamente vão lá chegar.
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Os populares brindam-nos assim com um raciocínio brilhante. Dado que estas práticas serão certamente mais frequentes por parte de miúdos de famílias desfavorecidas, vítimas de exclusão social, bora lá cortar-lhe o abono e o RSI que é para eles aprenderem. As famílias ficarão ainda mais desfavorecidas e mais excluídas, mas não faz mal, pá. Aliás, vendo bem, se calhar por isso, tais miúdos vão-se por a roubar, o que é perfeito, porque assim aproveitamos e mandamo-los todos para a cadeia. É brilhante, sem dúvida!
(Imagem: Help Bullying School)

Um Congresso com direito a fantasmas e tudo

E eis que, a dois dias do Congresso, o fantasma de Marcelo continua a pairar no ar (ver aqui e aqui). Se as notícias têm fundamento ou não, será sempre complicado aferir. De qualquer modo, todos os dados estão lançados para que o Congresso do PSD cumpra a tradição de espectacularidade com que sempre nos habituou.
(Imagem: Foto da Hora)

quarta-feira, 10 de março de 2010

A Semana da Ressurreição

O quarto aniversário em Belém não correu mal, beneficiando de amplo destaque na comunicação social. A entrevista de hoje na RTP foi fraquita, mas Cavaco nunca se mostrou especialista neste tipo de momentos. Depois de meses de recolhimento dando tempo ao tempo, tudo indica que esta foi a semana do regresso de Cavaco.

A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém

A acusação de Henrique Granadeiro de que Morais Sarmento também o pressionou procura indicar, como parece evidente, que as pressões acontecem independentemente da força política no poder. Mas qual a consequência imediata do sublinhar desta evidência? Levar a opinião pública ao discurso de que todos pressionam, de que “são todos iguais”. Até é bem possível que assim seja, mas o efeito imediato deste discurso é acabar por não responsabilizar ninguém, algo que convém a muita gente no momento actual.
(Imagem: Guy David)

Sem Rede – Joana Vasconcelos no Museu Berardo

A grande velocidade, Joana Vasconcelos tem-se vindo a afirmar muito bem no panorama artístico português. E a exposição presente no Museu Berardo é uma consagração disso mesmo. Vale a pena visitar.

Não sendo grande entendido em questões artísticas, diria que uma das grandes vantagens das peças de Joana Vasconcelos é o facto de poderem ser apreciadas por qualquer tipo de público, dos pequenos aos graúdos, dos art freaks aos simples curiosos.

Por exemplo, um lindíssimo sapato feminino gigante feito de tachos (Cinderela) é tão interessante para um simples curioso, como para quem está sobretudo focado nas técnicas utilizadas pela artista ou para quem procura um significado conceptual profundo em tal obra. Aqui ficam algumas fotos da exposição que encontrei online.
(Imagem: Infinimar)

terça-feira, 9 de março de 2010

Vias de Facto - Novo Blog

A maioria dos autores do Vias de Facto não é nova na blogosfera , antes pelo contrário. Alguns vêm do 5 dias, outros de blogs individuais. Pegando só em alguns nomes de quem tenho maiores referências, um blog que junta a Diana Andringa, a Joana Lopes, o Ricardo Noronha e o Zé Neves só pode ser um bom blog.

Inteligência Rara II

Se se fala em aumento de impostos, a direita logo decreta o horror: “Um atentado para as famílias portuguesas!”. Pelo contrário, se se fala em congelamento de salários, aí já é diferente: “é o esforço necessário que todos temos de fazer neste momento de crise”.

Inteligência Rara

O pensamento liberal defende que o Estado não intervenha na economia porque gere naturalmente mal os recursos, levando a défices que depois resultam em mais impostos. É preciso, portanto, privatizar. Mas privatiza-se o quê? As empresas públicas que dão lucro, claro. Que espertalhaços, não é?

segunda-feira, 8 de março de 2010

PEC-MAN

Keynesianismo regressa à gaveta

Ainda antes da economia regressar ao crescimento, o keynesianismo já foi abruptamente arrumado. Diminuição do investimento público, cortes na despesa (sobretudo nos salários) e privatizações são o mote do Programa de Estabilidade e Crescimento que hoje começou a ser apresentado.
(Imagem: Maturidade)

Igualdade e Dignidade

É difícil mostrar grande apreço pelo Dia Mundial da Mulher sem se cair em banalidades. De qualquer modo, destacava três aspectos:

1) Apesar de alguns estranhos optimismos, estamos ainda muito longe de atingir a igualdade nas esferas económicas, sociais e políticas. Este é, portanto, um dia que continua a fazer todo o sentido.

2) Assim como continua a fazer sentido o feminismo, não tanto com a exaltação da mulher como ser especial, com uma sensibilidade especial, e todo esse discurso que roça o paternalismo, mas sim encarando a mulher como sujeito forte e activo que tem de merecer um tratamento igual.

3) Por último, a luta pela igualdade está longe de poder acabar à porta de casa. Nem sequer tocando em questões graves como a violência doméstica, importa não esquecer que ainda estamos a gerações de distância de uma plena igualdade entre homem e mulher na repartição de papeis nos núcleos familiares. Importa, por isso, continuar a lutar seriamente para que esta balança se equilibre.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Invejai os professores

A greve de ontem foi uma importante manifestação de desagrado dos trabalhadores da Administração Pública perante inexistência de actualizações salariais. Os trabalhadores protestam e bem por serem sempre os bodes espiatórios dos gastos da máquina estatal. O congelamento é uma decisão cega que não olha ao poder de compra perdido nos últimos anos e que tenta esquecer as consequências dramáticas que acarreta para todos os que possuem salários mais baixos. E é também uma decisão facilitista, procurando a poupança no sítio do costume e não nos locais onde é mais do que sabido que o desperdício acontece. Atacar os salários é sempre mais fácil.

No entanto, o congelamento de salários até pode ser relativizado quando comparado com o segundo grande motivo desta greve da Administração Pública. Os obstáculos à progressão na carreira criados pelo SIADAP (Sistema Integrado de Gestão e Avaliação de Desempenho da Administração Pública) roçam o inacreditável. Com este sistema de avaliação, que prevê apertadíssimas quotas para a concessão das classificações de avaliação mais elevadas, a maioria dos funcionários públicos vê-se sujeita à forte possibilidade de apenas progredir um escalão na carreira de dez em dez anos.

Ou seja, para contrariar o antigamente em que todos os funcionários eram avaliados com muito bom, encontrou-se a brilhante solução de impor quotas. O modelo de avaliação previsto é burocrático e pouco adaptado à realidade dos organismos, contribuindo para um generalizado baixar de braços ao invés de promover a tão badalada meritocracia. No fundo, "para quê esforçar-me muito se sei que quem papará os muito bons e os excelentes será o amigo X ou o bajulador Y do chefe".

Se a isto adicionarmos o facto de muitos organismos não estarem a avaliar os seus funcionários, sendo tal incompetência dos dirigentes premiada com decretos extraordinários do Ministério das Finanças que os protegem e correm todos os funcionários a bom (o equivalente ao medíocre "satisfaz"), logo percebemos o quão mau é o actual sistema.

É curioso verificar que foram questões de avaliação muito semelhantes às acima expostas, que vinham abalar fortemente a possibilidade de progressão na carreira, e não questões de actualizações salariais, que tão bem conseguiram mobilizar os professores há pouco tempo atrás. Foi a persistência e união que demonstraram que fez com que o seu sistema fosse revogado. É pena que os funcionários públicos e seus sindicatos não estejam a conseguir uma união com tal dimensão perante injustiças tão semelhantes. Deviam, por isso, invejar bastante os professores. Invejá-los forte e abertamente, tendo presente o seu exemplo. Uma boa dose de inveja mobilizadora parece estar a fazer falta em todo este processo.

Artigo publicado hoje no Esquerda.net
(Imagem: Blog do Eduardo Dantas)

quinta-feira, 4 de março de 2010

E porque amanhã é sexta-feira


Gorillaz ft. Mos Def & Bobby Womack - Stylo

V Congresso da APCP

Bem sei que há muita gente cansada com o boom de politólogos. Mas para quem ainda tolera e suporta essa malta ;), se calhar terá interesse em saber que está a decorrer o V Congresso da Associação Portuguesa de Ciência Política. Eis o programa.
(Imagem: APCP)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ressureições Políticas

Não são poucos os mistérios que circundam o fenómeno político. E assim é pela capacidade que este, através dos seus actores e do rumo seguido pelos acontecimentos, tem de nos surpreender. A inquietude da balança política, a mudança permanente no jogo de forças e a mutabilidade da opinião pública determinam que o que hoje é certo, amanhã estará longe de o ser. A maior das evidências no presente facilmente será relativizada num futuro próximo. Neste contexto, a morte política tantas vezes decretada a alguns actores e a posterior capacidade que estes demonstram em ressuscitar é um fenómeno muito ilustrativo a este respeito.

Focando-nos apenas na política portuguesa mais recente, quem não se recorda da morte política sentenciada a António Guterres após ter deixado o país entregue ao pântano? Quem não se lembra da forma cabisbaixa como Marcelo Rebelo de Sousa abandonou a liderança do PSD em 1999? Quem consegue esquecer as saídas e reentradas triunfantes na cena política de Paulo Portas? E por último, pegando no caso que até deve constar em todos os manuais, quem não se lembra da quantidade de vezes que já foi decretado o fim da carreira política de Santana Lopes? O dinamismo constante do panorama político e a memória curta do eleitorado garantem que a ressurreição em política seja um fenómeno relativamente normal.

Cavaco Silva há alguns meses atrás atravessou um momento negro que parecia não ter retorno. O caso Público e a sua desastrosa comunicação ao país fizeram-no bater bem no fundo. Foi alvo de paródia e muitos à direita não deixaram de lhe atribuir responsabilidades pelo fraco desempenho do PSD nas últimas legislativas. Seguiu-se um período de forte recolhimento e descrição por parte do Presidente da República. Havia que dar tempo ao tempo. Eis que, passados poucos meses, o seu calvário parece ter chegado ao fim.

O Governo atravessa hoje o seu pior momento, muito ferido na sua credibilidade, pressionado por toda a oposição e bastante debilitado perante a opinião pública. A Justiça continua sem se conseguir assumir como pilar inabalável do regime e mesmo a comunicação social está a ver o seu papel no sistema democrático enfraquecido com o role de audições na Assembleia da República. Se a isto somarmos as probabilidades de divisão à esquerda que a candidatura de Fernando Nobre veio trazer, verificamos que Cavaco tem agora todas as condições para apresentar-se serenamente como grande garante da estabilidade do país e das suas instituições.

Por outro lado, importa ter em conta que o PSD deverá renascer das cinzas já em Março com a sua nova liderança. É então fortemente provável que se constitua como alternativa perante um Governo visivelmente enfraquecido. Cavaco assumirá assim o papel de grande árbitro, de grande juiz do destino político do país. Será a figura patriarcal e providencial para onde todos os rostos se virarão assim que qualquer caso estalar, assim que qualquer ameaça de crise surgir.

A forma como a situação política de Cavaco Silva se alterou nos últimos meses é reveladora da facilidade como se ressuscita politicamente nos dias que correm. Como é evidente, nada garante que o panorama não se volte a alterar subitamente. Nada é garantido e o cenário traçado acima não passa disso mesmo: de um cenário. No entanto, é sobretudo com base em cenários e perspectivas futuras que os actores políticos se posicionam no presente. Assim sendo, parece ser indiscutível que Cavaco tem hoje muitas razões para sorrir.
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Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental

Sobre a vitória de Passos sobre Rangel

Confesso-me surpreendido com o facto de Passos Coelho ter aparentemente derrotado Rangel no debate de ontem na SIC Notícias (ver debate integral aqui). Pelos vistos, o killer instint atribuído ao segundo não foi suficiente para bater a serenidade preparada do primeiro.

Os militantes do PSD não se basearão somente em debates quando tiverem de fazer a sua escolha. Para lá da sua vinculação a tendências internas (dimensão fundamental em todo este processo), estarão também a escolher a figura que considerarão mais capaz de levar o seu partido ao poder.

Apesar de Passos ter vencido o debate, os militantes poderão continuar a achar que o seu oponente terá mais hipóteses de convencer os portugueses. De qualquer modo, a derrota de ontem certamente criou mossas nas fortes expectativas em torno de Rangel.
(Imagem: SIC)

terça-feira, 2 de março de 2010

Solidariedade blogosférica

Bem sei que o título do post é foleiro à brava, mas tenta apenas demonstrar solidariedade com o autor do blogue Jumento. De um dia para o outro, foi alvo de uma estranha manchete no Jornal i. O artigo desarquiva um caso há muito arquivado, aproveitando para acabar com o anonimato do autor do blog e referindo, sem grande sentido, o apoio a Sócrates nas últimas eleições.

Até sou daqueles que considera que o i foi uma interessante lufada de ar fresco, mas não esteve de facto nada bem com a manchete e notícia hoje publicada.
(Imagem: Silabas)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Que conveniente...

Ainda bem que finalmente se decidiu avançar com uma comissão de inquérito. Mas fica o senão de a mesma não ter sido aceite pelo PSD há poucas semanas atrás. Os sociais-democratas demonstram assim que só agora, depois da sangria incípida, mas espectável, verificada nas audições da Comissão de Ética, é que consideraram bem avançar-se com este mecanismo de apuramento da verdade. Que conveniente, não é?
(Imagem: RS Urgente)