Em Maio de 2008, Manuela Ferreira Leite foi eleita sob a bandeira da autenticidade. Contra a plasticidade de Sócrates, era preciso alguém que personificasse a política séria e crua à antiga, sem grandes subterfúrgios mediáticos. A aposta em tal crueza originou os resultados que todos conhecemos. E eis que o PSD parece agora converter-se, com a eleição de Passos Coelho, às maravilhas da nova política. A política onde importa não só ter razão, mas sobretudo parecer ter razão. A política onde a comunicação e a imagem assumem um papel centralíssimo, Neste aspecto, Portugal possui agora um primeiro-ministro e um líder do maior partido da oposição que incorporam paradigmas muito semelhantes.
Esses ares de nova política, essa aura de mudança e modernidade que rodeou Passos Coelho (alguns até já o comparam a Obama) são alguns dos traços que parecem ter-lhe retirado a bênção da maioria dos barões sociais-democratas. A ala cavaquista tanto o desprezou que acabou mesmo por o substimar bastante. Não só adiou fatalmente a apresentação de uma alternativa, como a apresentou de forma fragmentada. Rangel, a grande promessa, foi uma desilusão por si só. Como se tal não bastasse, foi constantemente acossado por um Aguiar Branco que não lhe perdoou a rasteira aquando da apresentação das candidaturas. Passos agradeceu tanta desorientação e desentendimento entre comadres e rumou tranquilamente à vitória.
O percurso de Passos Coelho até à liderança foi longo. Foram dois anos de prepararação intensiva, dois anos a formar equipa, a sedimentar alianças, dois anos no conhecido circuito da carne assada. Foi um percurso meticuloso, sem grandes pressas. Evitou cometer erros e não procurou conflitos. Foi passando uma mensagem, foi transmitindo persistência, foi mostrando determinação e corporizando a vontade de mudança. Conseguiu trazer para junto de si muitos sectores insatisfeitos e foi criando clubes de fãs aqui e ali. Foi mordendo aos poucos a liderança de Ferreira Leite, embora nunca lhe dando qualquer pretexto para respostas hostis. Antes pelo contrário. Permaneceu sempre com uma postura de irritante lealdade, algo que foi tirando do sério muitos dos apoiantes da anterior líder.
A nível de projecto político, Passos assumiu-se como representante do novo centro-direita, ou da direita liberal se preferirem. Liberal nos costumes, mas sobretudo a nível económico, propondo o recuo do Estado mesmo em sectores chave como a educação, a saúde ou a segurança social. Tentou assim representar uma lufada de ar fresco num PSD com pruridos históricos em ocupar tal espaço no sistema partidário português. E embora tal discurso tenha apresentado algumas fragilidades com o eclodir da crise financeira internacional, originou também que diversos sectores que há muito se mostram cansados da costela social-democrata do partido laranja, tenham começado a escutar com mais atenção o que o ex-líder da JSD vinha dizendo.
Quando olhado agora, o percurso de Passos Coelho parece talhado desde o primeiro momento para ser um percurso vencedor. Possui todos os ingredientes para sobre ele poder ser feito um magnífico “prognóstico no fim do jogo”. No fundo, a sua vitória parece uma evidência quando olhada a posteriori. Resta agora saber se não será um feliz contemplado da lei Durão Barroso – será primeiro-ministro, não se sabe é quando. Muitos já arriscam tal prognóstico. E eu também estou inclinado a não esperar até ao fim do jogo para o fazer. Mas se as evidências a posteriori convencem pouco, em política as evidências a priori também são de desconfiar.
Esses ares de nova política, essa aura de mudança e modernidade que rodeou Passos Coelho (alguns até já o comparam a Obama) são alguns dos traços que parecem ter-lhe retirado a bênção da maioria dos barões sociais-democratas. A ala cavaquista tanto o desprezou que acabou mesmo por o substimar bastante. Não só adiou fatalmente a apresentação de uma alternativa, como a apresentou de forma fragmentada. Rangel, a grande promessa, foi uma desilusão por si só. Como se tal não bastasse, foi constantemente acossado por um Aguiar Branco que não lhe perdoou a rasteira aquando da apresentação das candidaturas. Passos agradeceu tanta desorientação e desentendimento entre comadres e rumou tranquilamente à vitória.
O percurso de Passos Coelho até à liderança foi longo. Foram dois anos de prepararação intensiva, dois anos a formar equipa, a sedimentar alianças, dois anos no conhecido circuito da carne assada. Foi um percurso meticuloso, sem grandes pressas. Evitou cometer erros e não procurou conflitos. Foi passando uma mensagem, foi transmitindo persistência, foi mostrando determinação e corporizando a vontade de mudança. Conseguiu trazer para junto de si muitos sectores insatisfeitos e foi criando clubes de fãs aqui e ali. Foi mordendo aos poucos a liderança de Ferreira Leite, embora nunca lhe dando qualquer pretexto para respostas hostis. Antes pelo contrário. Permaneceu sempre com uma postura de irritante lealdade, algo que foi tirando do sério muitos dos apoiantes da anterior líder.
A nível de projecto político, Passos assumiu-se como representante do novo centro-direita, ou da direita liberal se preferirem. Liberal nos costumes, mas sobretudo a nível económico, propondo o recuo do Estado mesmo em sectores chave como a educação, a saúde ou a segurança social. Tentou assim representar uma lufada de ar fresco num PSD com pruridos históricos em ocupar tal espaço no sistema partidário português. E embora tal discurso tenha apresentado algumas fragilidades com o eclodir da crise financeira internacional, originou também que diversos sectores que há muito se mostram cansados da costela social-democrata do partido laranja, tenham começado a escutar com mais atenção o que o ex-líder da JSD vinha dizendo.
Quando olhado agora, o percurso de Passos Coelho parece talhado desde o primeiro momento para ser um percurso vencedor. Possui todos os ingredientes para sobre ele poder ser feito um magnífico “prognóstico no fim do jogo”. No fundo, a sua vitória parece uma evidência quando olhada a posteriori. Resta agora saber se não será um feliz contemplado da lei Durão Barroso – será primeiro-ministro, não se sabe é quando. Muitos já arriscam tal prognóstico. E eu também estou inclinado a não esperar até ao fim do jogo para o fazer. Mas se as evidências a posteriori convencem pouco, em política as evidências a priori também são de desconfiar.
.
Artigo publico ontem no Açoriano Oriental
(Imagem: Blog do Raul Marinho)