quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não faz muito sentido

Vemos muita gente clamar uma vitória estrondosa pelo facto da Justiça não ter acusado Sócrates de nada. Vemos também alguns opinion makers (aqui e aqui) a defender que Sócrates merece um pedido de desculpas. Ambos acrescentam depois que a Justiça em Portugal funciona muito mal… Há qualquer coisa neste argumentário que não faz muito sentido, pois não? Aplaude-se e usa-se como fundamentação uma decisão judicial e depois acrescenta-se que a Justiça funciona mal?

Pode-se sempre esclarecer que, quando se critica o mau funcionamento da Justiça, aponta-se apenas a morosidade inacreditável dos processos e as cirúrgicas fugas de informação. Ou seja, criticam-se tais aspectos, mas confia-se no entanto na capacidade do sistema produzir Justiça. Humm… Mas esta não é mesma justiça que ilibou Isaltinos, Fátimas Felgueiras, Domingos Névoas e outros que tais?

Moral da história: como é evidente, pode-se e deve-se acreditar na inocência de Sócrates. Não haja dúvidas a este respeito. E é normal que o facto de não ter sido acusado de nada sirva para reforçar seriamente tal convicção. Mas utilizar como tira teimas uma decisão da Justiça portuguesa não é a melhor das estratégias.
(Imagem: Xafarica)

5 comentários:

Carlos Faria disse...

"Pode-se" acreditar na inocência de Sócrates, o "deve-se" já não estou tão seguro e convictamente prefiro nem dizer o que penso

João Ricardo Vasconcelos disse...

Só para que conste, o "deve-se" inscrito no post refere-se ao princípio da presunção da inocência.

João Pedro Lopes disse...

Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, se não estou em erro, não foram ilibados. Por outro lado, Sócrates só foi constituído arguido pela imprensa. Não há diferença nenhuma?

Bettencourt de Lima disse...

Politica canalha

Assente e aceite, baseada em lugares comuns, engodo fácil para néscios e gente amoral,
está a utilização sistemática da insídia, da calúnia, do vilipêndio para atingir adversários
políticos, vender jornais, gastar horas de televisão e, enquanto dura, promover figuras
públicas, com estatuto de «justiceiros». Algumas pessoas, que, passada a «onda»,
voltam necessariamente à vulgaridade.
São conhecidos os jornalistas, comentadores e pivôs de televisão que alimentam estes
processos.
Cientes das «verdades» insofismáveis de ditados populares como «não há fumo sem
fogo», «quem anda à chuva é que se alaga» etc., e cientes do peso que estes têm
na formação do pensamento dos mais incautos, lá estão eles sempre disponíveis,
pressurosamente disponíveis, para nos dar conta da «riqueza» do seu pensamento
enquanto arrastam a barriga pela lama, numa volúpia irreprimível.
Bom, assim é, assim será. Agora, o que não se pode esquecer e perdoar é uma
campanha política para as eleições europeias e legislativas conduzida na base
destas «técnicas» e que teve como protagonistas a anterior direcção do PSD, presidida
por Manuela Ferreira Leite e assessorada por Pacheco Pereira.

Politica canalha.

Para memória futura.

João Ricardo Vasconcelos disse...

João Pedro Lopes: Sim, naturalmente que existem diferenças nos processos e não só. Mas eu não comparo os processos, mas sim a incompetência da Justiça Portuguesa e o quão frágil pode ser a sua evocação como tira teimas. Essa é a ideia que tento passar.