A Gripe A contada (quase) na primeira pessoa

Imaginem que, três dias depois de chegarem de Madrid, o vosso filho de 15 meses fica subitamente com febre na casa dos 38,5/39. Chato, não é? Foi o que me aconteceu. Ligámos para a Saúde 24. Sublinhamos o facto de termos vindo de Madrid. Disseram-nos paa acompanhar a febre com ben-u-ron e tal e telefornarmos dentro de uma hora. Passaram-nos para a Linha de Saúde Pública. Ficámos 2 horas e 10 minutos em linha (e lá se foram 4 euros de chamada) à espera para sermos atendidos. Chateados com tanta demora, desligámos.

Voltámos a ligar para a Saúde 24. Falámos em tom agressivo das 2 horas e 10 minutos de espera. Lamentaram a demora na Linha de Saúde Pública e pediram-nos um minuto de espera (vulgo, iam dar um toque internamente. Mover uns cordelinhos, portanto) e pediram-nos agora sim para ligarmos. Passaram-nos a chamada e fomos logo atendidos (milagre!) Foi precisa a indignaão acima para as coisas começarem a andar. Tipico, não é?

Depois de explicarmos a situação, disseram-nos finalmente para irmos para a Estefânia para o nosso filho poder fazer o teste da Gripe A, para nos dirigirmos às Urgências que a informação já lá se encontrava e que estavam à nossa espera. Indicaram-nos que o pai deverá ficar com a criança no carro e a mãe deverá ir à Secretaria das Urgências e pedir para falar com a Dra. XXX.

.
Fomos para a Estefânia. Chegados lá, dissemos ao porteiro que iamos para as Urgências. A Paula (minha mulher) foi para às urgências, explicou que tinha um menino no carro com suspeita de Gripe A e pediu para falar com a Dra. XXX. A senhora do secretariado disse-lhe para entrar no corredor das urgências e procurar a Dra. A Paula achou estranho mas entrou e começou a perguntar pela Dra. XXX. No corredor, um grupo de médicas que estava a tomar cafezinho, disse-lhe arrogantemente que ela não devia estar ali, que se ela é a mãe da criança, está a infectar aquela zona toda. A Paula não mandou tudo para o outro lado porque respirou fundo. Disseram-lhe então para aguardar no carro.

Aguardámos no carro. O porteiro dirigiu-se a nós sublinhando que devíamos ter informado na entrada que vínhamos com um caso suspeito. Respondemos que fizemos exactamente o que nos foi dito pela Saúde 24. Respondeu-nos que a Saúde 24 está mal informada… (é sempre bom saber, não é?) Esperamos uma hora e tal no carro, com um bebé de 15 meses manifestamente impaciente. Não porque houvesse um fluxo de maior na Estefânia. Apenas havia um caso à nossa frente…

Depois de sermos chamados tudo correu melhor. Corredor de segurança para chegarmos ao gabinete, médico e enfermeiro mascarados com fatos a rigor. E, passadas 20 horas quinta-feira ao fim da tarde), recebemos uma chamada telefónica a dizer que o resultado era negativo. Tudo ok, portanto. Nada de Gripe A na família.
.

Mas este episódio contado na primeira pessoa apenas demonstra que muito ainda precisa de ser feito para responder ao problema da Gripe A. Contrariamente à imagem do “everything under control” que nos é passada por Ana Jorge, os serviços ainda estão muito mal articulados, com procedimentos muito mal definidos. E, sem obviamente desmerecer o resto do país, estamos a falar de Lisboa, julgo que do maior hospital pediátrico do país… Até ao início do Outono, período em que se prevê que a Gripe A comece a atacar seriamente, muito terá de ser feito. De outro modo, vai ser um bocadinho complicado, vai...

(Imagem: Carderninho Lilás)