quarta-feira, 4 de junho de 2008

Manuel Alegre e o Comício das Esquerdas

Realizou-se ontem o comício que juntou o Bloco, a Renovação Comunista e alguns históricos do PS, com destaque para Manuel Alegre. É positivo, sem dúvida, que haja esta união de posições à esquerda. Mas tal não inviabiliza constatação da desorientação em que se encontra há muito Manuel Alegre.

Vitalino Canas mostrou o desconforto do PS sobre a participação de Alegre. E tem razão. Por mais que se possa concordar com o posicionamento político de Manuel Alegre, é impossível não notar a sua contradição ao manter-se como militante e deputado socialista. Não há partido que possa admitir este tipo de pluralismos.

Alegre já teve diversas oportunidades para abandonar a militância socialista. No seguimento das presidenciais poderia inclusive ter levado muita gente atrás. No momento presente, parece ter-se confortado com a exposição mediática que adquiriu e com os aplausos em torno da sua espécie de "lirismo inconformado". É pena… E é pena, como seria previsível, que uma iniciativa destas tenha sido coberta sobretudo pelas polémicas em torno de Manuel Alegre.

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá. Discordo do post. Manuel Alegre é uma pessoa antes de ser um militante e talvez se os elementos dos vários partidos fossem mais pessoas com ideias próprias menos presas ao sistema partidário talvez isto andasse melhor. Não é um comício ou ideias sociais que faz com que tenha que sair de um clube e entrar no outro. A política devia era ser isso mesmo, associações a uns e outros conforme a validade e empatia pelos pontos de vista. :)

Rui Rebelo Gamboa disse...

Eu também não concordo com o post.

Manuel Alerge não tem que abandonar a militância, desde que, como é evidente, não participe em comícios ou campanha por outro Partido.

Não posso deixar de esconder uma certa admiração por Manuel Alegre e não é pelo "lirismo inconformando", é porque, apesar de tudo, nunca abandona as suas convicções e luta por elas, dentro de limites que eu considero aceitáveis. Por ser membro activo de um Partido que tem uma direcção que foi eleita, e porque a sua opinião é diferente daquela da direcção do Partido, ele tem que movimentar-se com cautela e é isso que faz.

O enfoque foi dado ao Manuel Alegre (inclusivamente aqui), porque não havia mais nada a dizer sobre usse evento. A esquerda nostálgica e distante da realidade de 2008 juntou-se. Ainda bem para eles. Espero que se tenham divertido.

Anónimo disse...

Caro JRV:

discordo por outro tipo de razões.

Penso que Alegre está a fazer

ao partido socialista

um inestimável favor, ao procurar ancorar o partido numa linha mais à esquerda e procurando evitar que o BE anda descaia mais para outros lados.

Está jogar no futuro e a fazer mesmo que M. Soares já fez há uns 15 anos atrás.

No PS como não se entende nada de política há muito tempo, chama-se-lhe traidor e outras idiotices do género.

Penso que a teoria de Alegre formar um partido é simplista. O homem não tem idade para isso nem apoios.

No entanto politicamente está a ver o que se passa e a perceber que o senhor Sócrates e o gang que o acompanha estão a partir em pedaços não só o partido como a área política de esquerda e é isso que ele quer evitar.

Pessoalmente penso que já não vai a tempo, porque existe um ponto de não retorno nesta questão.

O que está escrito acima é de facto o que ele está afazer - nada mais (e não é por eu o ter escrito) e todas as outras teorias caracterizando isto como manifestações de esquerda retrograda e restantes tretas não passam disso mesmo.

Há um vazio político de 2 milhões de votos entre o PS e o o BE e Alegre está a tentar meter ancoras de esquerda nessa zona.

Antes que a mesma passe para um qualquer partido neoliberal ou para a extrema direita ou se fixe definitivamente no BE ou no PCP.

Deixando o PS em tremenda má situação.

Ou se percebe isto e que isto é uma questão eminentemente política e de ocupação de uma zona política que está vaga ou não se percebe.
A blogosfera de esquerda ou que acha que é de esquerda não entende isto, porque foi atrás da cantilena da conversa da"Esquerda Moderna";que é absolutamente nada.

João Ricardo Vasconcelos disse...

Caro Desfocado: Compreendo o seu ponto de vista. E concordo naturalmente que existam posições divergentes dentro dos partidos. E que tais divergências sejam exteriorizadas. Mas, apesar de saber que o que se segue soará mal, julgo que os partidos necessitam também de alguma uniformidade, alguma coerência e mesmo alguma disciplina. De outro modo dificilmente seriam partidos. Sou daqueles que acha que há muita democracia para além dos partidos. Mas também sou daqueles que acha que não há democracia sem partidos fortes. :)

Caro Rui Gamboa: Acha mesmo que “cautela” é o adjectivo mais adequado para caracterizar a forma como Manuel Alegre se movimenta? Concordo com as posições que têm sido manifestadas por Alegre. Mas acho que o seu posicionamento não é sustentável no seio do actual PS. Envolve-o em contradições que rapidamente deslegitimam o seu discurso, ao mesmo tempo que provocam um desgaste sério no Governo do seu PS. Apesar de ser um grande histórico socialista, mantendo-se estes seus posicionamentos, seria mais coerente da sua parte entregar o cartão tal como fez Helena Roseta. Não para fundar um partido, mas para assumir uma corrente de opinião, um movimento político ou outra qualquer modalidade que o livre de todas as acusações de incoerência.

Relativamente à “esquerda nostálgica e distante da realidade de 2008”, um dia destes teremos de aprofundar e discutir melhor esta sua visão. ;)

Caro Dissidente X: Boa análise. Concordo com diversos aspectos do seu comentário. Mas acha mesmo que Alegre está a conseguir ancorar o PS a um determinado espaço político? Se calhar consegue que algum eleitorado ainda se considere do PS, embora de uma corrente em clara agonia. Neste aspecto tem razão. É bem possível que assim seja… No entanto, como julgo que concordará, a não ser que o PSD se assuma como real ameaça, o referido eleitorado não deverá votar PS em 2009. Ou abstém-se, ou vota à esquerda. E este último aspecto Alegre não poderá evitar com o seu actual posicionamento.

Rui Rebelo Gamboa disse...

Caro,

Cautela, no sentido que ele já poderia ter reagido a alguns episódios de forma a ter efeitos muito graves dentro do PS. Sim, porque se ele começa a disparar a consquência não será apenas ele abandonar o PS, será o PS ficar tb fragilizado (ainda mais).

JRV, evidentemente, foi uma pequena provocação essa da esquerda. Não dei atenção alguma ao evento em questão, por isso não posso manifestar-me. Mas quem olha de fora, como é o meu caso, e vê que vão celebrar "Abril e Maio"...

Anónimo disse...

JRV

""Mas acha mesmo que Alegre está a conseguir ancorar o PS a um determinado espaço político?""

A questão de conseguir ou não é - neste momento - ainda secundária.

Ele está a tentar.(Não quer dizer que consiga ou não consiga).

No entanto a entrevista de 5ºafeira foi reveladora.

Ele avisou claramente o gang de idiotas e o idiota mor, que se existirem mais provocações até 2009,e nao tiverem Juízo,ele considera mesmo a hipótese de sair do PS ,formar um partido e partir em pedaços o actual PS reduzindo-os a 10% ou menos.

Eu percebo o comentário de resposta, mas tenho dúvidas que o eleitorado considere o PSD como uma ameaça e por via disso vote PS.

Penso que é nisso que o actual gang do PS está a apostar, mas também penso que é isso que originará um tiro pela culatra ao PS.

É preciso sempre raciocinar baseado no facto de que as actuais pessoas do PS entendem muito pouco de política dura e de realidades concretas.

Alegre(e mais pessoas) perceberam que isto está a ameaçar explodir de forma catastrófica e estão a procurar fazer controlo de danos, sempre visando o futuro e o PS, como partido estável. É uma ideia que eles sempre tiveram muito enraizada de "o partido e defesa dos ideais do partido.

E quando a estabilidade do partido e os ideais são profundamente atacados, há uma claro traçar da linha.
Há mais de um ano e meio - INTERNAMENTE - que a facção mais à esquerda do PS tem estado a ser provocada para sair e formar um novo partido.

Eles recusaram sempre por duas razões: falta de líder e por experiências prévias que falharam
( ASDI e MES).

Mas agora as coisas estão claramente a ir longe de mais.E Alegre veio dizer isso mesmo e veio também dizer que não admite uma situação - de novo - em que o "grande líder " faz m*erda e depois foge para outro lado qualquer deixando para trás os restantes a apanhar cacos como se passou em 2001.

Alegre não poderá evitar que o eleitorado vote à esquerda já actualmente pelo menos na sua totalidade, mas poderá evitar que "a esquerda"(isto é, o Bloco) se encoste demasiado à esquerda,ou seja, ao PCP.

Alegre está a fazer o papel do "elástico"que tenta prender esticando até ao limite dois lados demasiado distantes.