Passados 32 anos da maior manifestação independentista açoriana, a temática parece ter desaparecido completamente da memória do arquipélago. O modelo de autonomia política adoptado votou a temática ao quase esquecimento. É paradoxal que assim o seja.É interessante verificar que, nos nossos dias, quando se fala em independentismo insular, os portugueses imediatamente pensam nas bombásticas e regulares declarações de Alberto João. Quando se aborda a temática dos movimentos independentistas insulares, a pouca população portuguesa que sabe alguma coisa a este respeito consegue referir a FLAMA. Sobre o independentismo açoriano, que surgiu no arquipélago com maior vigor do que o independentismo madeirense, os portugueses sabem muito pouco.
Se calhar convém que assim seja. Convém que a manifestação do 6 de Junho em Ponta Delgada seja recordada como mera curiosidade histórica. Representou, no entanto, bastante mais do que isso. O independentismo nos Açores foi um factor determinante, embora extremo, de afirmação da identidade regional. A forma como se construiu o modelo de autonomia açoriana, durante a conturbada transição para a democracia, foi também influenciada pela ameaça independentista que se fazia sentir em algumas franjas do arquipélago.
Por estas e outras razões, o independentismo açoriano deveria ser melhor recordado. Não numa perspectiva romântica e apaixonada, mas como fenómeno político e social que desempenhou, bem ou mal, um papel determinante na construção do sistema político açoriano.
Bem sei que os diversos partidos açorianos têm dificuldades em abordar a presente questão. Alguns foram actores, outras foram vítimas do independentismo. No entanto, passados 32 anos, se calhar já é tempo de encarar estas questões sem tabus. A História nunca deve ser esquecida. Há sempre muito a aprender com ela…