sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Voto da Vergonha

Depois de ter acusado outros de ultramontismo, confirma-se que o PS apenas queria desviar as atenções sobre o seu próprio ultramontismo. O dia de hoje será recordado como o momento em que a vergonha e o calculismo político extremo derrubaram por knock out a dignidade de um partido que se diz de centro-esquerda.
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Como se o voto contra e a disciplina imposta já não bastassem, Vitalino Canas veio ontem esclarecer que o PS não se compromete com a aprovação do casamento homossexual na próxima legislatura. Apenas garante que promoverá “um amplo debate nacional sobre igualdade e orientação sexual.” Exactamente o mesmo que consta no programa desta legislatura e com os resultados que estão à vista.
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Como é natural, Vitalino Canas dificilmente poderia dizer o contrário no contexto actual. Estranho seria se se comprometesse com alguma coisa nesta altura do campeonato. As suas afirmações apenas reflectem o beco sem saída em que o PS se meteu nesta questão. Qualquer afirmação que os socialistas venham a fazer no futuro sobre esta matéria será irremediavelmente marcada pelo triste posicionamento que hoje assumiram. É bom que o eleitorado não se esqueça disso.

10 comentários:

Planetas - Bruno disse...

Sou contra a decisão do PS sobre esta matéria, no entanto, tenho de reconhecer que não seria certamente a melhor forma de votar a proposta do BE sem uma verdadeira discussão pública.
Ainda assim, nada justifica a forma como foi imposta a disciplina de voto na bancada socialista!

Karl Macx disse...

Concordo completamente!

Quanto à discussão pública, que eu saiba ainda não é preciso referendo para fazer valer a Constituição. Esse é que é o grande debate. O PS vai aprovar uma inconstitucionalidade. Mais nada.

silvestre disse...

Acho triste a decisão de impor uma disciplina de voto. Acho que vai contra tudo o que a "verdadeira esquerda" defende.

Uma discussão pública como diz o planetas-Bruno seria interessante se houvesse uma vontade efectiva, por parte da classe política, de discutir seriamente o assunto.

Não vou entrara na teoria da conspitração e dizer que os Governos querem um povo ignorante para garantirem o poder com mais facilidade, mas o povo português é, de si, muito mal informado. Custa-me pensar que um povo mal informado e ignorante de certas matérias possa decidir sobre direitos fundamentais de outras pessoas.

Tenho a certeza de que muitas pessoas, ao conviver de perto com casais homossexuais com relações estáveis (que há imensos, apesar dos média apostarem na imagem mais sensacionalista)teriam uma ideia completamente diferente da que possuem. E seriam a favor não só do casamento, como também da adopção.

A questão é, estará o Governo disposto em apostar numa discussão pedagógica sobre este assunto? Estarão os média dispostos a dar visibilidade a casais com uma identidade resolvida e sociamente integrados?

Gostava que a política fosse mais do que o equivalente à luta das audiências televisivas entre a TVI e a SIC que resultam numa "estupidificação" das massas.

Anónimo disse...

Já agora deixo aqui uma notícia que poderá interessar a todos os "Blogueiros":

IV ENCONTRO DE BLOGUES

14 E 15 DE NOVEMBRO

UNIVERSIDADE CATÓLICA
Mais?...Seguir link,

Eu estou a pensar estar presente!

Anónimo disse...

Pode não ser exagero a existência da disciplina de voto. Um partido é uma organização ou deverá ser uma desorganização? Então torna-se num conjunto de indivíduos sem nada que os ligue? Depois a disciplina de voto não é regra, só é utilizada em casos excepcionais.
O casamento de homossexuais só parece ser importante para um pequeno grupo de citadinos. Os atrasadões (que também, apesar disso, são cidadãos) do interior se calhar têm opinião diferente. O problema é que são cidadãos tal como os prafrentex. Não tenho a certeza do que digo, por isso acho boa a ideia de um debate generalizado e sério antes das dicisões. Os homossexuais ajudam pouco no que respeita à seriedade com os seus desfiles folclóricos e apalhaçados. Debata-se a questão e depois tomem-se decisões!!

Anónimo disse...

De facto, vergonha é a posição do Ministro Amado (e de todo o governo) sobre os vôos da CIA. Não desvalorizemos as palavras e guardemos a "vergonha" para o que é vergonhoso.

... disse...

Como escrevo no meu livro (que terça-feira lanço), isto já não tem futuro nenhum

http://avarinhamagicadevalentimloureiro.blogspot.com/

R.L. disse...

Vergonhoso foi o B.E. ter-se abstido no momento de votar o diploma dos Verdes, que propunham exactamente o mesmo que os primeiros, tirando a parte da adopção.
Que coerência.
Mais uma vez se fez política, e da feia.

Anónimo disse...

"Mais uma vez se fez política" Mas o que havia de fazer-se? O homem não é um animal político? O homem passa a vida nisso não é?
Quanto à vergonha, também acho que é mau desgastar as palavras. Prefiro guardar a palavra vergonhoso para quando não há vergonha como diria o tal de Graco.

João Ricardo Vasconcelos disse...

RL: Atenção que não era exactamente o mesmo. Segundo li, Os Verdes propunham duas alterações: uma cirúrgica em que se deixava de definir casamento como uma união formal entre um homem e uma mulher. A outra restringia a adopção a um homem e a uma mulher.

Quanto à primeira alteração, o BE propunha algo bastante mais abrangente do que simplesmente "deixar cair" a questão do homem e da mulher". Logo, seria de estranhar se votasse a favor de um proposta diferente e mais restritiva do que a sua.

Quando à segunda alteração proposta pelos Verdes, é natural que o BE também não tenham votado a favor, uma vez que defende a adopção.