segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Inferno

Depois da operação, nenhum edifício do Hamas ficará em pé em Gaza”, afirmou o general Harel o chefe-adjunto do Estado-Maior israelita. “Esta operação é diferente das anteriores. Pusemos a fasquia muito alto a vamos nessa direcção”, acrescentou. “Não atingimos apenas os terroristas e os lança-morteiros, mas também o conjunto do Governo do Hamas. Visamos edifícios oficiais, as forças de segurança, e responsabilizamos o Hamas por tudo o que se passa, sem distinguir entre as suas diferentes ramificações” (Público, 29/12/2008)

Eis em todo o seu explendor o pior da mentalidade sanguinária e belicista que em Israel existe. Destruindo também edificios oficiais e das forças de segurança, o que restará em Gaza? O inferno, pouco mais do que o inferno... Admirem-se depois que o inferno lançe rockets e mártires contra Israel...

A Crise e o Aumento de Popularidade dos Governos

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“Os governos, especialmente naqueles países onde os dados da economia eram mais negativos, podem agora usar a crise internacional para serem parcialmente isentados de responsabilidades aos olhos das suas opiniões públicas. (...)

E para os governos, especialmente os de centro-esquerda, a oportunidade para reencontrar bases de apoio previamente alienadas por políticas de ortodoxia orçamental é demasiado boa para ser perdida. Se a isto adicionarmos o pânico social trazido por alguns aspectos desta crise e o reflexo imediato que ele tem em termos do aumento da confiança nos governos e do apoio a soluções de estabilidade política, é fácil verificar como as oposições têm a sua vida dificultada para os próximos tempos. (...)

As consequências políticas da crise já são visíveis. Por um lado, ela trouxe boas notícias para muitos governos europeus que estavam em acentuada crise de popularidade e que recebem assim um balão de oxigénio. Por outro lado, ela vem neutralizar os mecanismos de responsabilização dos governos pelo seu desempenho, limitar o espaço de contestação política e diminuir as possibilidades de alternância.”

Pedro Magalhães, Público 29/12/2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

Porque critico sobretudo Israel?

No seguimento dos rockets do Hamas, Israel contra-atacou fazendo mais de 280 mortos. O Hamas apela a uma nova Intifada. Israel, por seu turno, convoca reservistas com vista a uma eventual invasão terrestre a Gaza. And the show must go on...

O conflito aquece num déjà vu que há décadas nos habituamos a assistir. As direitas extremistas de ambos os lados rejubilam: como é sabido, este conflito é a razão da sua própria existência.

Na discussão que se gera todas as vezes sobre este conflito, convinha reter-se algo definitivamente: quando se critica Israel, não se está necessariamente a defender o Hamas, a Fatah ou o Hezbollah, fazendo dos palestinianos os bonzinhos e coitadinhos da fita. Colocar as coisas nestes termos parece a discussão da invasão do Iraque, em que alguns iluminados defendiam que quem criticava os EUA, estava com Saddam...

Em poucas palavras, critico sobretudo Israel porque apesar de tudo espero muito mais de um país dito ocidental e desenvolvido do que de um povo que nunca teve um Estado, que vive em permanente miséria e mergulhado no caos, sujeito a extremismos religiosos e belicistas que se alimentam do seu desespero.

Samuel Hungtington e a sua obra

Faleceu hoje (Sábado) um dos mais mediáticos politólogos da actualidade. Hungtinton (1927-2008) massificou-se sobretudo após a sua obra “The Clash of Civilizations”. Pessoalmente, apesar de ser interessante, não acho que seja a mais notável.

O Choque das Civilizações representa, a meu ver, um daqueles ensaios deveras ousados de um cientista social em fim de carreira. Está longe de constituir uma obra ciêntifica. Julgo aliás que esta obra de Huntington é tão científica como “O Fim da História e o Último Homem” de Fukuyama. Trata-se, no fundo, de um ensaio.

Neste contexto, enquanto obra marcante de Huntington destacaria, pelo contrário, “A Terceira Vaga”, obra que teoriza sobre as vagas de democratização ocorridas desde o século XIX até à actualidade. Foi esta obra de Huntington que apontou a transição para a democracia em Portugal como pioneira da Terceira Vaga de Democratização, que varreu depois a Europa do Sul (Espanha e Grécia), a América Latina, a Ásia e finalmente a Europa de Leste.

A Terceira Vaga é incontornável para os estudiosos da democracia. Para todos os interessados em dar uma vista de olhos nesta importante obra, poderão consultar parcialmente aqui no Google Books.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Israel: Um erro histórico?

O que se está a passar em Gaza é algo a que nos habituamos há gerações. Apenas se torna mais sintomático dada a sua dimensão: 200 mortos num ataque israelita.

Sem desculpar de modo nenhum as responsabilidades dos palestinianos (e outros povos árabes) numa guerra que dura há décadas, Israel demonstra mais uma vez o grande e triste erro histórico que foi a sua formação após a II Guerra Mundial (pelo menos naquele local).

Bem sei que serei considerado simplista e blasfemo por exprimir a convicção acima sem mais. Mas que outra conclusão se pode retirar de um Estado que, desde a sua formação, esteve em permanente estado de guerra com os seus vizinhos para justificar uma existência que lhe foi assegurada por decreto?

Como é evidente, um Estado nunca reconhecerá que a sua existência (naquele território) foi um erro histórico. Não podemos esperar isto de Israel e não se poderá evidentemente voltar atrás. De qualquer modo, a consciência de tal facto por parte da comunidade internacional poderia certamente ajudar a resolver o conflito em causa.

É a minha opinião, que reconheço ser muito dura e algo cruel. Não sou um especialista da história do Estado de Israel e do conflito israelo-palestiniano. De qualquer modo, gostava de saber a opinião de outros que por aqui passam.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Christmas Silly Season

Surgiu agora um suposto caso de indiciplina numa escola do Porto. Como não podia deixar de ser, foi devidamente inflamado pela disponibilização de um video no You Tube e por ter gerado uma manchete num jornal nacional (JN).

Quem vê o video acima no You Tube, dificilmente chega a grandes concusões. Tendo em conta as declarações da professora visada de que se tratou de um “brincadeira de mau gosto”, e a desvalorização subsequente do Conselho Directivo afirmando que se tratam de bons alunos sem precedentes de indisciplina, rapidamente inclinamo-nos a considerar que, à partida, trata-se de pouco mais do que um fait diver empolado por uma comunicação social com falta de notícias durante a época natalícia.

No entanto, no meio desta história, destaca-se sobretudo a inabilidade com que alguns responsáveis reagiram ao assunto, procurando retirar dividendos. Mário Nogueira esteve mal ao exigir que os alunos fossem rapidamente punidos. E pior ainda esteve o presidente da Federação de Associações de Pais do Norte ao insinuar que os sindicatos poderão ter “encomendado” a divulgação deste video. Enfim... Tudo indica serem efeitos da christmas silly season...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Oh oh oh! Boas Festas!

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Andava eu à procura de um video de Natal…

... e eis o que encontro no You Tube: "Santa vs Jesus".
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Curto Manifesto pelos Serviços Públicos


Na sequência da sua participação no Fórum das Esquerdas, Jorge Bateira, José Castro Caldas, André Freire, Alexandre Azevedo Pinto, José Reis e João Rodrigues (alguns dos Ladrões de Bicicletas) publicam hoje no Público um curto manifesto pela defesa dos serviços públicos. Uma vez que, na edição online, o artigo está reservado a assinantes, divulgo aqui o texto na integra. Subscrevo-o na integra.

Em defesa do público nos serviços públicos
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"Participámos no painel sobre economia do encontro Democracia e Serviços Públicos. O debate tornou claro que o pluralismo das esquerdas não tem de ser sinónimo de falta de diálogo e de cooperação. Este encontro demonstra que há muita gente (nos partidos de esquerda e independentes) que entende que a excepção portuguesa da incomunicabilidade e da ausência de cooperação entre as esquerdas não é um problema insuperável. As convergências fazem-se com diálogo aberto sobre os pontos de concórdia e discórdia. Entre as esquerdas, o pluralismo é positivo e enriquecedor, desde que sem sectarismos. Mais: muitos como nós pensam que a resposta política para boa parte dos problemas com que hoje o nosso país está confrontado passa por entendimentos entre as diferentes correntes da esquerda.
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No âmago da divisão entre esquerda e direita está a valorização da igualdade das condições e oportunidades de vida. Isto não significa que todas as direitas sejam necessariamente inigualitárias. Mas há uma direita para quem a única igualdade seria a igualdade perante a lei que, rejeitando a acção política para promover a igualização das condições e oportunidades de vida, prefere confiar fundamentalmente no mercado. As esquerdas, pelo contrário, olham para o Estado como um instrumento crucial da promoção da igualização das condições e das oportunidades de vida.

Não se trata de defender o predomínio do Estado sobre os indivíduos. Do que se trata é de defender um papel fundamental para o Estado na área dos serviços públicos (saúde, educação e segurança social) e também em sectores estratégicos da economia, nomeadamente nos chamados "monopólios naturais". Não se trata apenas de melhor servir o desiderato da igualdade. O que está em causa é também um modelo de desenvolvimento: o investimento privado é uma componente central da economia, devendo ser fortemente apoiado nos sectores que produzem bens e serviços transaccionáveis, não apoiado nos sectores protegidos da concorrência internacional e indesejável nos serviços públicos e nos monopólios naturais.

No processo de privatização da provisão de serviços públicos, o Estado transforma-se no que já foi designado de "Estado Predador" - uma coligação de interesses económicos rentistas que prosperam no quadro de um regime de acumulação baseado na expropriação dos recursos públicos. O caso português é ilustrativo. Na sequência do processo de privatizações (re)constituíram-se em Portugal grupos económicos que se caracterizam precisamente pelo acantonamento na produção de bens não transaccionáveis e pela penetração crescente na esfera da provisão de serviços públicos.

As consequências de tudo isto estão à vista nos países onde o processo foi levado mais longe: fractura social entre os que têm acesso (à saúde, ao ensino e à protecção face aos riscos de desemprego) e os que não têm. Onde o processo ainda vai a meio é patente o aumento do custo e a degradação da qualidade dos serviços (anteriormente) públicos. Em Portugal, que de há décadas a esta parte continua a situar-se entre os campeões das desigualdades na distribuição de rendimentos em toda a UE e onde os salários continuam tão baixos que um terço dos beneficiários do "rendimento social de inserção" trabalha, a qualidade e a universalidade dos serviços públicos está também sob pressão. Contrariando uma certa imagem construída pelos seus adversários, de que as esquerdas socialistas seriam um movimento "bota-abaixista" desprovido de propostas exequíveis, o debate permitiu identificar acordos em torno de algumas linhas de política:O reconhecimento da centralidade do papel do Estado. Esta centralidade não deve ser confundida com o papel que o Estado actualmente desempenha na socialização das perdas do sector financeiro. A designação "Estado estratega" foi já utilizada para caracterizar o que agora, em contexto de crise, mais do que nunca é necessário: um Estado que em nome do interesse público reassume o controlo de sectores estratégicos, se responsabiliza pela provisão de serviços públicos e pela gestão do território, e utiliza os meios de que dispõe para incentivar e enquadrar o investimento privado.

Valorização do serviço público. Em desacordo com as teorias e as práticas da "nova gestão pública", que tão influente se tornou entre nós dando origem a mais conflitos do que reformas, subscrevemos o que um de nós afirmou: "O nosso país não está condenado a escolher entre serviços decadentes e burocratizados, de um lado, e a erosão do Estado conduzida segundo a ideologia gestionária da modernização, do outro." Existem formas de modernizar a administração pública que, não reduzindo os servidores do Estado à condição de oportunistas e egoístas, podem nutrir os valores e os significados característicos da ética de serviço público. Os funcionários podem e devem ser mobilizados para garantir o sucesso de quaisquer reformas.

Combate à desigualdade pela valorização do trabalho. A direita procura reduzir o combate à desigualdade à provisão de mínimos de subsistência para os que não podem trabalhar, ou a uma redistribuição do rendimento compensatória. O caso português é ilustrativo das limitações das políticas sociais meramente reparadoras. Para a direita, a determinação do valor do trabalho deveria ser deixada ao mercado. Em alternativa, entendemos ser necessário promover a desmercadorização do trabalho através de regras que protejam os trabalhadores, combatam a precariedade e garantam salários dignos. O desemprego deixou já de ser o principal mecanismo gerador de pobreza, o próprio sistema produtivo voltou a produzir, a par de mercadorias, trabalhadores pobres.

Queremos acreditar que estes debates foram o primeiro passo de um processo que dê aos portugueses razões para enfrentarem o futuro com mais confiança. "

* Jorge Bateira, José Castro Caldas, Alexandre Azevedo Pinto, José Reis e João Rodrigues são economistas. André Freire é politólogo

Cenários para Lisboa


Ana Sá Lopes escreve hoje no Diário de Notícias sobre os desafios de António Costa em manter a Câmara de Lisboa para o próximo ano (ver aqui). Apesar de exclusivamente baseado em cenários (como não podia deixar de ser), o artigo reflecte bem o quanto o xadrez político actual poderá dificultar muito a tarefa a António Costa, beneficiando naturalmente Santana.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Prendinha de Natal


O Tribunal Constitucional "chumbou" hoje por unanimidade a norma do Código do Trabalho que alargava de 90 para 180 dias a duração do período experimental para a generalidade dos trabalhadores. (...) A declaração de inconstitucionalidade obriga à devolução do diploma à Assembleia da República, o que deverá inviabilizar a entrada em vigor do Código do Trabalho a 01 de Janeiro, como estava previsto. (Público. 23/12/2008)

Com este chumbo originado pelo pedido de fiscalização preventiva vindo de Belém, Cavaco oferece uma “simpática prendinha” a Sócrates. Não só corta simbólicamente pela esquerda as políticas do Executivo socialista, como permite que a temática do Código de Trabalho volte à agenda nos próximos tempos. Sócrates não deve caber em si de contente...

Salvem o Catolicismo

«O Papa Bento XVI indicou hoje que salvar a humanidade de comportamentos homossexuais ou transexuais é tão importante como salvar as florestas tropicais da destruição. “[A Igreja] deverá proteger o homem de se destruir a ele mesmo. É preciso uma espécie de ecologia do Homem”, disse o Sumo Pontífice num discurso perante a Cúria Romana.» (Público, 22/12/2008)

Em resposta, eu diria que salvar a Igreja do próprio Bento XVI, e do seu ultra-conservadorismo, é quase tão importante como salvar a camada do ozono. Quer queiramos, quer não, a Igreja Católica desempenha importantes papeis sociais. A sua influência dificilmente pode ser ignorada nas culturas de diversos países ocidentais.

O catolicismo sempre se caracterizou por ser conservador em diversos domínios sociais. Mas, depois de João Paulo II, assitir ainda a um intensificar do referido conservadorismo é mais do que lamentável. Bento XVI representa tudo o que o Catolicismo não precisa nos tempos actuais. Salvem o Catolicismo do próprio Bento XVI.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

As indisponibilidades de agenda...

Há dias, a Ministra da Educação recebeu 13 professores com um abaixo-assinado de 1500 assinaturas a favor do modelo de avaliação de desempenho.

Hoje, a ministra invocou indisponibilidade de agenda para receber um abaixo-assinado com quase 70 000 assinaturas que defende a suspensão do modelo de avaliação e a revisão do Estatuto da Carreira Docente. Ó meus amigos, não havia necessidade, pois não?

Parem tudo! António Costa discordou do Governo

Como é sabido, um dos principais pontos fracos do autarca de Lisboa tem sido a sua dificuldade em opor-se ao Governo em assuntos que afectam particularmente os interesses da cidade.

O novo aeroporto e a ampliação do porto de Lisboa são apenas dois exemplos paradigmáticos do encurralamento a que António Costa se tem submetido. Mas hoje, o n.º 2 do PS resolveu mostrar que consegue ser “irreverente”: discordou da construção de um novo Museu dos Coches (???). Enfim...

Sinceramente tenho pena que António Costa não esteja a conseguir convencer os habitantes de Lisboa. Esperava-se mais, muito mais desta sua presidência (mesmo com pouco dinheiro). É que os eleitores da capital podem não ficar satisfeitos que uma “formiga” governe a sua cidade. Como consequência, rapidamente poderão deixar-se levar (tal como já aconteceu) pelos cantigas das “cigarras” que por aí andam...

Concertação Social não existe em Portugal (Cap. MMCXXVII)

Como mais uma vez demonstram os resultados das negociações entre Governo e Sindicatos da Função Pública, a concertação social é algo que não existe em Portugal. Este é só mais um dos capítulos de um saga que parece não ter fim.

Todos os anos, ouvimos os Governos anunciarem uma determinada política de aumentos (ou congelamentos). Assistimos depois ao que ainda são denominadas como “negociações”. Vemos, por fim, os sindicatos a sairem chateados porque a posição do Governo foi irredutível, convocando greves ou outras formas de protesto. Ou seja, a denominada concertação social nunca funciona.

Muitos apontam irremediavelmente a responsabilidade deste não funcionamento aos instransigentes sindicatos portugueses. Uns malvados, que nunca estão satisfeitos, dominados por bandos de comunistas que se limitam a repetir cassetes sobres “os ataques do Governo contra os trabalhadores”.

Resta saber se algum dos Governos até à actualidade já cumpriu o seu papel no âmbito da denominada “concertação social”. Se já efectivamente negociou aumentos (ou congelamentos) com os sindicatos. Humm... Deixem-me ver... Nope, não estou a ver nenhum que o tenha feito... As políticas são anunciadas unilateralmente, sendo as reuniões de concertação social meras formalidades onde a parte que decide apenas comunica, não negoceia o que quer que seja.

Posto isto, quem são afinal os culpados por a concertação social não existir em Portugal, Governo ou sindicatos? Os sindicatos, a meu ver, limitam-se a fazer o seu papel. Os Governos farão o seu? Deixo sinceramente à consideração dos leitores deste post a resposta a esta questão.

sábado, 20 de dezembro de 2008

No meu tempo é que era! Mandava os Governos abaixo e mai nada!

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"Numa situação de crise como esta creio que não se justifica a dissolução da Assembleia da República. Numa situação diferente [essa hipótese] seria de considerar." (Ramalho Eanes, 18/12/2008)
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Bem... Ramalho Eanes conseguiu, de forma destacada, dizer o maior disparate de toda esta discussão em torno do Estatuto dos Açores. Mas enfim... Quem é que manda pedir opiniões a alguém que deixou de ser Presidente há 22 anos atrás? Dá nisto.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estará a ser irónica?

…em democracia há sempre soluções para os problemas.”
Manuela Ferreira Leite, na mensagem de Natal no site do PSD (via DN)

That's one small step for (a) man, one giant leap for mankind

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"O Presidente eleito norte-americano Barack Obama espera que, a meio do seu mandato, a prisão de Guantánamo já esteja fechada." (Público, 18/12/2008)
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O secretário americano da Defesa, Robert Gates, pediu à sua equipa que prepare um plano para o encerramento do centro de detenção de Guantánamo, anunciou hoje o seu porta-voz, Geoff Morrell.” (Público, 18/12/2008)

Sobre as supostas inconstitucionalidades do Estatuto dos Açores

Hoje deverá ser votado o Estatuto que tanta polémica tem causado. Para alguns, representará uma forte pedrada no charco da cooperação estratégica entre o Governo e Cavaco. Tudo porque Cavaco defende que, num dos artigos do Estatuto, as competências do PR estão a ser postas em causa. Será tanto assim?

O referido artigo sublinha a necessidade do Presidente da República auscultar, para além do Conselho de Estado e da Assembleia da República (previsto na Constituição), o Governo Regional e a Assembleia Legislativa Regional antes de proceder à dissolução do parlamento açoriano. Uma interferência que, segundo alguns, é inadmissível por parte de uma “lei ordinária”.

No entanto, há algum tempo atrás, Carlos César sublinhou algo importante no âmbito desta discussão que, vá-se lá saber porquê, não teve qualquer repercussão na discussão a nível nacional:
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“Desde 1976 que a Constituição estabelecia para a nomeação do Ministro da República (figura extinta em 2004) que o PR devia ouvir o Conselho de Estado, procedendo à nomeação sob proposta do Primeiro-Ministro e, desde 1980, e no texto ainda em vigor do Estatuto dos Açores, consta (…) dever o Governo da República ouvir o Governo Regional e o Presidente da República ouvir também a Assembleia Regional.”
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Ou seja, o dever de auscultação dos órgãos regionais, mesmo que tal não esteja explícito na Constituição, não é uma novidade. Antes pelo contrário. Existe um precedente que possui 28 anos. Como sublinha César, e bem, tal nunca gerou reservas por parte de constitucionalistas, analistas políticos, deputados ou comentadores. Muito menos por parte de Cavaco Silva, primeiro-ministro e líder social-democrata durante 10 anos. Porquê agora toda esta confusão?
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E mais. Como é sabido, o PSD governou a região durante 20 anos (1976-1996). As suas maiorias absolutas tornam-no um dos principais responsáveis pelas diversas versões do Estatuto dos Açores que, pelos vistos, incluía já auscultações que não estavam previstas na Constituição. Porquê agora toda esta confusão?

Resposta simples: não são as suspeitas de inconstitucionalidade que estão a gerar um braço de ferro entre o Governo e o PR; o braço de ferro entre o Governo e o PR é que está a impulsionar as suspeitas de inconstitucionalidade.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O Sapato e Bush - Jogos e Animações

Como seria de esperar, já começaram a surgir online as primeiras graçolas sobre o incidente do "arremesso" do sapato a Bush. Entre jogos e gifs animados, eis os que me pareceram melhor conseguidos até ao momento:

Sock and Awe
(Clicar para jogar. Vale mesmo a pena.)

Animação Matrix Style

Não tenho dúvidas que, nos próximos dias, muitas outras destas graçolas surgirão... ;)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Recados Anedóticos

Quando foram aprovados os 20 mil milhões de garantias, falar-se em contrapartidas foi considerado despropositado e quase absurdo. O importante era avançar-se rapidamente com um cheque em branco a Teixeira dos Santos e à banca. Depois logo se veria…

Como se não bastasse, o presidente da Associação das Pequenas e Médias Empresas veio denunciar que "As garantias públicas estão a ser usadas [pela banca] para limpar o crédito concedido, tal como já há muito tempo o capital de risco está a ser usado para transformar dívida em capital", em vez de se estar de facto a financiar a economia.
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Enfim… Eis os efeitos dos cheques em branco. Graças a eles, vemos agora quem desvalorizou e considerou inútil a definição inicial de contrapartidas a fazer um pseudo-papel de mauzão junto dos bancos. Um papel para comunicação social ver. É anedótico, mas sobretudo triste...

Santana é candidato. E agora?

Após um insólito suspense que parecia não ter fim, o PSD de Ferreira Leite confirmou a escolha de Santana como seu candidato a Lisboa. E agora? Que conclusões tirar da entrada na corrida do “menino” que é “guerreiro” e que possui uma incrível capacidade de ressurreição?

Tal como tem sido sublinhando em diversos locais, a escolha de Santana constitui um tremendo esforço na coluna vertebral de Ferreira Leite. Santana é tudo o que a líder do PSD criticou no âmbito do seu partido. Mas pronto, Santana está sempre disponível, o que é uma chatice. Ferreira Leite arriscou forte numa jogada cujo resultado é incerto no interior do PSD, mas não só.

É presentemente complicado fazer futurologia sobre quais as hipóteses que Santana tem contra António Costa. Se, tal como aconteceu quando foi primeiro-ministro, Santana tiver todos os líderes de opinião contra si (nomeadamente na comunicação social), gerar-se-á um efeito bola de neve de identificação de trapalhadas que rapidamente o descredibilizará junto da opinião pública.

Mas se Santana se mantiver relativamente discreto e revelar-se assertivo em termos políticos contra António Costa, beneficiando de alguma benevolência da comunicação social e de líderes de opinião, as favas não estarão contadas para o actual presidente da CML. No cenário actual, acredito sobretudo na primeira hipótese. Mas a segunda não deve ser descartada.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Um novo Herói


O gesto do jornalista iraquiano está a ter repercussões em todo o mundo árabe. Manifestações a exigir a sua libertação, mas não só… Muntazer al-Zaidi, 29 anos, jornalistas do canal Al-Bagdadia, tornou-se um herói devido a todo o simbolismo que o seu gesto implicou.

1 - “Na Arábia Saudita, um jornal relatou que o homem recebeu uma oferta de US$10 milhões por apenas um dos sapatos que certamente serão os mais famosos do mundo.
2 - "A filha do líder libanês Moammar Gadhafi concedeu ao atirador de sapatos, o jornalista Muntader Al-Zaidi, 29, uma medalha de coragem.
3 - "Um canal de televisão libanês, conhecido pelas suas posições contra os Estados Unidos, ofereceu um emprego ao jornalista que lançou um par de sapatos contra o Presidente norte-americano George W. Bush. (…) “… o jornalista será pago a partir do momento em que lançou (o primeiro) sapato.”

Eis um exemplo de como o simbolismo de um gesto vale mais do que não sei quantos atentados… Muntazer al-Zaidi ganhou as opiniões públicas. É um herói no mundo árabe e acredito que no resto do mundo também.

Soares tem ciúmes de Alegre?

Eu diria que sim, alguns pelo menos. Certamente desde as últimas presidenciais, mas que recentemente voltaram a vir ao de cima na sua critica aos posicionamentos de Manuel Alegre.

Quem lê as crónicas de Mário Soares no DN sabe que o seu discurso está bastante à esquerda. Entre críticas ao neoliberalismo, às desigualdades sociais, à política americana de Bush, à necessidade de perceber as aspirações da população, dos movimentos sociais, entre outros. Uma série de recados que vão sendo enviados para o Largo do Rato. O artigo de hoje no DN é mais um exemplo disso mesmo, tendo conseguido novamente destaque noutros órgãos de comunicação social.

No entanto, o “pai da democracia portuguesa” parece não gostar de competição no seu lugar de “consciência colectiva do PS e da Nação”. Só assim pode ser entendida a sua dualidade ao enviar constantes recados ao Governo ao mesmo tempo que critica quem, com ideias muito semelhantes, tem sido um pouco mais consequente com os recados que envia.

O padre Vítor Melícias?!?

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“As alegações finais do processo em que o administrador da Bragaparques, Domingos Névoa, é acusado de tentativa de corrupção pelo vereador da Câmara de Lisboa José Sá Fernandes, estão marcadas para hoje, três meses depois do início do julgamento.(…) Antes das alegações finais, serão ainda ouvidas testemunhas abonatórias de Domingos Névoa, entre as quais o padre Vítor Melícias...”. (Público, 16/12/2008)
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Desculpem a pequenez do comentário, mas a amplitude de amizades do padre Vítor Melícias consegue sempre surpreender-nos…

E a Grécia aqui tão perto... Nuances e Evidências

Os artigos de Rui Tavares e de Lionídio Paulo Ferreira (transcritos nos posts abaixo) demonstram que a realidade histórica, política e socio-económica grega não está tão longe da portuguesa quanto isso. No entanto, existem nuances importantes. A influência dos movimentos anarquistas é uma delas.

Tal como tem vindo a ser expresso pela comunicação social, são os movimentos de jovens anarquistas que têm dado projecção ao que há vários dias se passa Grécia. Quanto mais não seja porque um dos seus cocktails molotov vale mais do que mil manifestantes em termos de cobertura mediática.

E o anarquismo na Grécia, nomeadamente entre a juventude, possui um historial significativo que está a milhas do que podemos encontrar em Portugal. A este respeito, basta dar uma vista de olhos na Wikipedia, nomeadamente nos capítulos que focam a experiência anarquista grega desde os anos 60 até à actualidade.

De qualquer modo, os textos de Rui Tavares e de Lionídio Paulo Pereira recordam, e bem, que causas bastante mais estruturais determinam que o que se passa na Grécia não seja apenas um simples movimento de delinquentes urbanos. É bastante mais do que isso. Tem sido incendiado com cocktails molotov, é certo. Mas cada país terá certamente o seu tipo de cocktails molotov... E causas estruturais não faltam por esta Europa fora, estando Portugal muito longe de ser uma excepção. Antes pelo contrário.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

E a Grécia aqui tão perto... (II)

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“Imaginemos um pequeno país da Europa do Sul, com pouco mais de dez milhões de habitantes. Um país com uma história admirável que, aliada ao clima solarengo e à beleza da sua costa, atrai todos os anos milhões de turistas. Um país onde apesar dessas generosas divisas trazidas pelo turismo (que se somam às remessas da emigração), a economia é ainda frágil. E que, antes do grande alargamento a Leste em 2004, fazia parte do habitual trio dos mais pobres da União Europeia.
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Imaginemos um país onde a Igreja tem uma tradição de grande influência, que só se libertou da ditadura em 1974 e que viu o seu processo de democratização legitimado pela integração europeia na década seguinte. Um país onde subsistem as desigualdades sociais, em que se calcula que um quinto da população seja pobre e onde os jovens, mesmo com estudos superiores, têm pela frente a ameaça do desemprego ou do trabalho precário com os famosos salários na casa dos 700 euros.
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Imaginemos um país que se habituou a ser admirado pelas glórias do passado, mas que, num esforço de transmitir uma ideia de modernidade, organizou em 2004 uma grande competição desportiva internacional. Um país que nos últimos anos, graças em boa parte a um seleccionador estrangeiro, causou surpresa no mundo futebolístico e que exporta agora estrelas - a mais conhecida joga num clube que veste de vermelho.
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Imaginemos um país membro da NATO, onde duas forças políticas (uma socialista, a outra conservadora) alternam há três décadas no Governo, mas que continua a ter um partido comunista que resistiu à queda do Muro de Berlim e obtém votações de 8%.
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Se já respondeu Portugal, errou, mas não se desiluda. Podia perfeitamente ser. Na realidade trata-se da Grécia, um país que nos últimos dias tem sido assolado por uma vaga de violência que está a chocar a Europa.”
Leonidio Paulo Ferreira, DN 15/12/2008

E a Grécia aqui tão perto...


“Olhando para os jovens gregos, porém, fica claro que basta um pequeno rastilho para a situação perder a graça. Diz-se que esta é a primeira revolta da geração precária. Talvez seja a segunda: nos motins dos suburbios franceses foi fácil disfarçar a coisa com uma conversa sobre os filhos dos imigrantes, o multiculturalismo e o “politicamente correcto”. Agora que se trata de jovens gregos de gema, já não dá para disfarçar. Fica claro que nesta “Europa de Primeiro Mundo”, há muita gente – jovem ou menos jovem, imigrante ou nativo, desempregado ou precário – que se sente fora do contrato social. Em Portugal acrescentemos-lhe ainda os idosos e os pobres, o interior e os subúrbios.

É muita gente do lado de fora. Enquanto a economia crescia, foi-lhes dito que os beneficios não eram para eles. Era preciso manter a competitividade. Agora – quando a economia recua - dizem-lhes que é preciso salvar o sistema financeiro para evitar o pior”
Rui Tavares, Público 15/12/2008

Piadinha do Dia

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Com vista a celebrar a sua amizade com os irmãos mulçumanos, Bush impôs uma nova regra nas suas conferências de imprensa: tal como nas mesquitas, os sapatos ficam à porta.

Pontos de Vista sobre o Fórum das Esquerdas

Para a comunicação social em geral, o que saltou à vista no Fórum das Esquerdas foi o facto de Manuel Alegre não ter “negado a possibilidade de criação de um novo partido”. Enfim, um fait diver que acaba por abafar o cariz e simbolismo do evento.
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Um evento onde personalidades de diversas origens políticas no âmbito da esquerda reuniram, discutiram, traçaram diagnósticos e propuseram soluções. Um encontro de vontades que vale por isso mesmo, muito mais do que a polémica em torno do “diz que não disse que Manuel Alegre disse”.
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No momento actual, ter num mesmo evento personalidades da ala esquerda do PS, bloquistas, renovadores comunistas, sindicalistas, académicos e outros independentes tem um simbolismo incontornável que vale por si. Num mundo perfeito, esta deveria ser a manchete da imprensa. Num mundo perfeito, claro...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Em Portugal, a ressurreição começa a ser banal...

Portas foi eleito com 95% dos votos e encontra-se a ganhar pontos a olhos vistos nas sondagens. Quem diria, não é? Ressuscitou com uma pinta que deixou muitos boquiabertos. Eis mais um exemplo de como a ressureição política é um fenómeno relativamente normal em Portugal.

E, pelos vistos, é um fenómeno que abençoou os dois principais responsáveis do pior Governo que Portugal já teve. Quatro anos depois, Santana deverá ser apresentado esta semana como candidato do PSD à Câmara de Lisboa. Portas, por seu turno, conseguiu em pouco tempo recuperar o capital perdido junto do seu eleitorado tipico.

Formidável, não é? E porque hoje é Domingo e é de ressurreição que estamos a falar, julgo que faria sentido avançar-se com o processo de beatificação de Santana e Portas. Avançar desde já porque, como todos sabemos, o Vaticano é muito demorado no reconhecimento destes fenómenos...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Grande Êxito deste Natal

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"Salvem os Ricos! Ajudem os Milionários!"
Os Contemporâneos no seu melhor.

Vá, continuem assim...

Segundo a TSF, a reunião da Comissão de Orçamento e Finanças foi hoje cancelada por falta de quórum. Dos 9 deputados necessários ao quórum, apenas 8 compareceram, sendo desta vez o PS o partido com mais “gazeteiros”.

Com toda esta polémica em torno do abstencionismo dos deputados, e com a comunicação social em cima do acontecimento, era de esperar um esforço adicional por parte dos deputados. Pelo menos até a polémica desvanecer-se. Mas não… Lá em casa (o Parlamento), tudo na mesma… Como se a imagem do Parlamento para a opinião pública não fosse algo “simplesmente” central para a saúde do sistema democrático.
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A este respeito, vale a destacar o estudo apresentado esta semana pelos politólogos André Freire, Conceição Pequito e Diogo Moreira sobre a confiança dos portugueses no Parlamento (ver aqui e aqui). Sublinho apenas a seguinte conclusão do mesmo: “os portugueses têm uma confiança no Parlamento que é inferior à média dos países considerados e que se aproxima dos níveis de confiança médios registados nos países da Europa de Leste.” Animador, não?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Entrevista de Louçã

Num momento em que o Bloco continua bem cotado nas sondagens, Louçã foi à Grande Entrevista de Judite de Sousa (ver aqui no site da RTP). O que reter da referida entrevista?

Judite Sousa, bem ao seu estilo, metralhou Louçã com perguntas pertinentes e obviamente pouco fáceis para quem está a ser entrevistado. O que espera o Bloco de Esquerda para o próximo ano? Quer crescer para apenas ficar-se pela oposição parlamentar, é isso? Será apenas um partido de oposição? Se o Bloco está tão próximo politicamente do PCP, porque não uma maior convergência? E o comício das esquerdas com Manuel Alegre, que conclusões tirar daí? O Bloco abandonou Sá Fernandes?

Louçã torneou cada uma destas perguntas. Umas vezes melhor, outras de forma mais denunciada. Não escorregou mas também não apresentou qualquer novidade digna de manchete no dia seguinte. Destacou-se apenas, a meu ver, o assumir repetidamente a vontade de captar o eleitorado de esquerda desiludido com o PS (algo óbvio mas que se destacou por ser tão repedidamente assumido). De resto, nada digno de grande nota.

E não se podia esperar outra coisa. No momento actual, o Bloco tem de se mostrar convicto e ambicioso, mas também extremamente cauteloso, não arriscando perder o capital que tem vindo a ganhar nos últimos tempos. Judite Sousa fez bem o seu papel. Louçã também. Se calhar por isso a entrevista acabou por se revelar, à primeira vista, pouco interessante...

Baptista Bastos já não é o que era…


"O incidente do prolongado fim-de-semana dos 48 deputados dá que pensar. Pensar que a dignidade das funções, quaisquer que elas sejam, depende do carácter e da integridade de quem as exerce. E em torno destes princípio devemo-nos unir ou separar". (Baptista-Bastos, DN, 10/12/2008, citado pelo Público)

Confesso que anteriormente gostava de ler os pontos de vista de Baptista Bastos. Mas depois do episódio das casas da Câmara de Lisboa, nunca mais o consegui fazer da mesma maneira. Há episódios que custam muito caro a determinadas figuras, sobretudo as que recheiam as suas crónicas com palavras como “dignidade”, “carácter”, “integridade” e “princípios”...

Porque são os Portugueses tipicamente de Esquerda?

As sondagens favoráveis ao Bloco e PCP e a recente recuperação do PS têm gerado alguma reflexão neste domínio, com conclusões semelhantes em quadrantes políticos bastante diversos. As desigualdades sociais em Portugal são o motivo central apontado tanto por Rui Tavares como por Pedro Lomba.

Rui Tavares considera que hoje a “direita desistiu de dar resposta ao problema da desigualdade, ou simplesmente falhou. E o eleitorado vira-se para o outro lado.” Pedro Lomba, alguém assumidamente da direita liberal, considera que “Os portugueses são de esquerda porque, no essencial, são mal pagos; e não são mal pagos no meio de outros igualmente mal pagos. Os portugueses mal pagos trabalham todos os dias para os portugueses bem pagos.” Ou seja, enfatiza também a questão da desigualdade.
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Embora seja óbvia a importância das desigualdades sociais (ou a percepção das mesmas) para explicar o auto-posicionamento estrutural à esquerda de um eleitorado, outros factores podem revelar-se tão ou mais relevantes. A configuração do sistema partidário é um deles.
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Diversos estudos demonstram que o posicionamento na escala esquerda-direira do eleitorado resulta sobretudo das suas simpatias partidárias regulares (sublinho a questão da regularidade). Ou seja, e dito de forma muito simples, um eleitor auto-posiciona-se no centro-esquerda sobretudo porque é um simpatizante do PS, e não tanto porque o seu posicionamento político em questões fracturantes reflectir coerentemente a defesa de ideias de centro-esquerda.
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Se a isto juntarmos o facto das clivagens entre os dois partidos no centro político em Portugal serem relativamente reduzidas e o facto de a direita ser significativamente incipiente em termos ideológicos – o PSD continua por vezes a considerar-se um partido de centro-esquerda e o CDS um partido de centro – é natural que o eleitorado português se posicione tendencialmente mais à esquerda.
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Como é evidente, tal está longe de significar que o eleitorado vote sempre em partidos localizados à esquerda no espectro partidário. Tal acontece sobretudo quando as percepções de desigualdade estão mais salientes e os partidos à esquerda conseguem de forma mais ou menos coerente dar resposta às aspirações maioritárias da opinião pública.
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Aplicado o referido modelo ao momento actual em Portugal, é sobretudo a dificuldade de protagonismo do PSD e o afastamento das políticas de esquerda do Governo PS está a implicar que o centro-esquerda e a esquerda parlamentar possuam cerca de dois terços das intenções de voto, segundo as últimas sondagens. O grande parte do eleitorado típico do PSD está a deslocar-se temporariamente para o PS e o eleitorado mais à esquerda do PS está a rumar sobretudo ao Bloco, mas também ao PCP.
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Concluindo, uma vez que o post já vai muito longo, o posicionamento ideológico dos eleitores reflecte sobretudo as suas naturais simpatias com um determinado partido e não tanto o seu posicionamento estrutural sobre certos temas políticos, como a desigualdade social por exemplo. No momento actual em Portugal, é sobretudo o enfraquecimento do PSD que está a gerar uma perda do seu eleitorado para o PS. Por outro lado, a governação ao centro do PS está a gerar uma fuga do seu eleitorado mais à esquerda para o Bloco e para o PCP.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

O que há a dizer sobre esta Declaração? Tanta coisa que se torna mesmo complicado… Foi há 60 anos a sua aprovação. É um documento basilar na defesa da dignidade de cada ser humano. Representa o direito aos direitos. Está muito longe de ser cumprida em todo o mundo. Mas, sobretudo, nunca pode ser esquecida.
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Deveria até constituir uma espécie de religião, cujo culto consistiria na proclamação e interiorização matinal de cada um dos 30 direitos humanos constantes da Declaração. Sendo este desejo impossível (e contra mim falo), recomendo o visionamento dos vídeos da Youth for Human Rights (citada pelo Público).
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O vídeo acima é uma colectânea de spots dedicados aos primeiros 5 direitos humanos. Deixo os links para as colectâneas seguintes.
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Na impossibilidade de existir uma religião universal exclusivamente dedicada aos direitos humanos, ao menos aproveitemos os aniversários da Declaração para reflectir um pouco sobre os diversos valores que nos transmitem.

Desculpe, importa-se de repetir?!?

É a confusão geral. A lista dos deputados presentes no plenário de sexta-feira não coincide com a contagem feita pela mesa da Assembleia da República (AR) no início das votações desse dia, nem com o próprio resultado da votação dos deputados por braço no ar.” (Público, 10/12/2008)
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Mais uma ajuda de peso para a fraca reputação que o trabalho dos deputados e da Assembleia possui junto da opinião pública... É muito grave. Muito grave mesmo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Faz de conta que não estamos a recuar...

Na passada semana, o Ministério da Educação recuou ao admitir a subtituição deste modelo por outro em 2009. Há pouco Sócrates consegue um destaque no Público afirmando que o modelo de avaliação é para manter... Mas afinal ficamos em quê?
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Das duas uma: ou existe uma grande falta de comunicação entre Sócrates e a sua ministra (algo pouco plausível) ou entramos aqui no jogo do “faz de conta que não estamos a recuar”. Humm... Não sei porquê, mas inclino-me mais para a segunda hipótese... Porque será???

Nobre Guedes é muito à frente

O ex-ministro que há cerca de um ano demitiu-se da actual direcção do CDS (e que só há pouco se soube) vai agora apresentar uma moção no Congresso do partido. A contar pela entrevista dada ao Expresso, Nobre Guedes (NG) parece ter umas linhas de raciocinio um pouco estranhas...

Ora cita Obama... (algo insólito vindo de alguém do CDS)
NG: “Penso que o CDS deve ter outra estratégia. O primeiro ponto é o CDS provar que é capaz de ter um projecto sério e credível para a governação. O Obama diz o seguinte: “Temos que fazer outro tipo de política, que terá de reflectir as nossas vidas tal e qual elas são vividas. Não é mais uma qualquer política pré-fabricada e pronta a servir”. Se as pessoas entenderem isto, percebem o que eu quero dizer quanto a um programa sério e credível."

Ora propôe uma coligação com o PSD que depois reconhece ser impossível...
NG: “Até final de Abril o CDS tem de construir esse projecto. Depois, tem de ser capaz de apresentar as 50 medidas mais importantes para governar Portugal. Medidas concretas.” (...) “Uma vez isso feito, devemos ver se o PSD fez um trabalho idêntico. Se fez, o CDS deve propor que os dois partidos falem e vejam se é possível elaborar um programa comum, que deve ser reformista, de mudança, progressista.” (...)
Expresso: "Há ano e meio disse ao Expresso: “O PSD é um emaranhado de confusões, de trapalhadas e de interesses (…). O PSD, seja qual for o líder, não vai mudar porque não pode mudar. Está prisioneiro dos interesses”. Agora a sua opinião mudou e propõe uma coligação."
NG: "Não mudou. Isto é o que eu gostaria, mas não se vai verificar. Porque a situação actual no PSD não o permite. No PSD é mais importante o «day after» da derrota de Ferreira Leite do que protagonizarem um projecto para Portugal."
Expresso: "Ou seja, está a fazer uma proposta que sabe que o PSD não aceita?"
NG: "Não aceita porque as disputas internas são superiores a tudo o resto. O que não quer dizer que eu não o proponha.”

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Insólito da semana que passou...


Sócrates é o 6º mais elegante de 2008. (...) E este sexto lugar sabe ainda melhor se tivermos em conta a concorrência. O estilista Karl Lagerfeld é o mais elegante para o El Mundo, o tenista Roger Federer leva a medalha de prata e o futuro número um da América Barack Obama contenta-se com o terceiro lugar. Ainda com Brad Pitt e um príncipe norueguês à sua frente, Sócrates deve sentir-se satisfeito por estar à frente em elegância de Jude Law, do Príncipe Carlos e até do presidente francês Sarkozy.
JN, 4/12(2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

O PCP e a Questão Cubana

Regressado de Havana, vejo que o PCP voltou a glorificar no seu Congresso o regime cubano. Teve até direito à oferta de uma fotografia dos irmãos Castro. 1500 delegados aplaudiram de pé o delegado do PC Cubano com grandes ovações de “Cuba vencerá!”

Sem qualquer pretensiosismo, desejava que os comunistas portugueses fossem a Cuba e vissem a realidade para além da que lhes é mostrada pelos seus camaradas cubanos. Falassem com os cidadãos comuns, ouvissem o que os cubanos comuns têm a dizer sobre o regime. Se calhar aí pensavam vinte vezes antes de glorificarem tais amizades internacionais.

Estou muito longe de ser daqueles que acham que o PCP é um partido que pouco conta, ou que é apenas um "partido interessante" ou "importante para a democracia portuguesa". Se calhar por isso fico sempre tremendamente abismado quando vejo os comunistas portugueses a defenderem regimes como o chinês, o cubano ou o norte-coreano. O que ganha o PCP em persistir na defesa de tais ditaduras? Pseudo-coerência?

Viagem a Havana – Algumas Impressões

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De regresso após uma semana em Havana, julgo que deu bem para ficar com um panorama razoável sobre a cidade e o país. Torna-se naturalmente dificil exprimir em poucas palavras todas as impressões recolhidas. Deixo algumas notas para eventual comentário:
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Sobre Havana
1 – Não existe uma Havana, mas sim duas: uma para a fotografia e outra bastante menos fotogénica.
2- A primeira é formidável. Não por ser faustosa ou brilhante, mas por ser quase única. O seu misticismo é quase contagiante. Quem está em Havana apenas dois ou três dias a caminho dos resorts de Varadero leva certamente esta impressão da cidade. Não foi o meu caso...
3 - Fora dos pontos turisticos da cidade, o panorama é bastante desolador. E não é necessário ir para os arredores. A pobreza está bem no seu centro. Basta sair um pouco dos roteiros recomendados e caminhar a pé pela cidade.
4 – Estranhamente, ambas as Havanas parecem complementar-se na criação da aura romântica e rebelde em torno de Cuba. É triste que assim seja. Só um sentimento com alguma dose de sadismo pode ficar indiferente à pobreza ornamentada com alguns sorrisos nos lábios de toda uma população.
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Sobre Cuba e sua realidade:
1 – Como é sabido, relativamente a outros países das Caraibas ou da América Latina, Cuba não é dos piores casos em termos de qualidade de vida. A gratuiticidade e relativa qualidade do ensino e da saúde e o acesso à habitação assim o determinam. O acesso à cultura também é notório.
2 – O embargo americano deixa a economia destroçada, sem dúvida. Mas um sistema económico socialista que não permite a liberdade de iniciativa individual sequer para o mais pequeno dos negócios tem, obviamente, uma enorme responsabilidade.
3 – Existem duas moedas em circulação: o peso cubano e o peso convertível. O primeiro equivale a cerca de 1/26 de euro. O segundo equivale mais ou menos a 0,90 dólares.
4 - Os cidadãos recebem em pesos cubanos, podendo aplicá-los em bens essenciais como a alimentação ou outras necessidades básicas. Os restantes produtos têm de ser comprados em pesos convertíveis.
5 - Um operário fabril, por exemplo, recebe cerca de 170 pesos cubanos (cerca de 15 euros por mês). Agora imaginem o esforço que teria de fazer para comprar um litro de gasolina (caso tivesse um carro, claro!): custa cerca de 1,20 euros.
6 – O turismo apresenta-se como o principal recurso para a captação de capital pelo país. Os dirigentes cubanos sabem-no perfeitamente, daí a sua hipocrisia ao promoverem dois mundos: o dos turistas e o do cidadão comum.
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O peso da ditadura
1 – Das coisas que mais nos fazem relembrar que estamos perante uma ditadura é o bloqueio no acesso à informação que não a autorizada pelo regime. Os cubanos não têm acesso a imprensa estrangeira, não podem aceder à internet e são punidos caso tenham uma parabólica, por exemplo.
2 – O único diário autorizado é o Gramma, órgão oficial do Partido Comunista Cubano. Escusado será comentar a linha editorial dos seus conteúdos.
3 – Ou seja, a única visão que os cubanos têm do mundo é a que é veiculada pelo seu regime. Convido cada um dos leitores deste post a pensar bem no que constitui apenas poder ver o mundo segundo uma única fonte de informação (só por acaso, nada imparcial). É aterrador...
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Notas finais
1 – Fiz uma viagem sem resorts e sem guias turisticos. Tinha precisamente o objectivo de ver, sem filtros, a realidade de um país sempre polémico. O resultado da viagem é, sem dúvida, muito positivo. Os “trabalhos de campo” junto de realidades diferentes são sempre positivos.
2 – Não deve ser desprezado o esforço feito pelo regime cubano por garantir aos seus cidadãos o acesso à alimentação, educação, saúde, habitação e cultura. Num panorama como o das Caraíbas e da América Latina, tal esforço tem resultados que devem obviamente ser aplaudidos.
3 – Mas tal nunca pode justificar ou sequer minimizar o facto dos cubanos viverem sobre os espartilhos de uma ditadura. Por mais que esta se possa basear em visões românticas de rebeldia, inspirada em ideiais humanistas devidamente ornamentados com carismáticos Fideis e Ches, a sobrevivência da ditadura é uma afronta aos mais elementares direitos dos cubanos.
4 – A liberdade não tem preço: eis o valor central que qualquer democrata tem de possuir à partida. No entanto, nunca são demais as experiências que nos permitem reforçar ainda mais o valor da liberdade. Eis o que de mais positivo retiro desta viagem que agora realizei.