O Bloco de Esquerda não estará presente na cerimónia de recepção de José Eduardo dos Santos na Assembleia da República. As razões apontadas são evidentes : desacordo com o Governo Angolano “no que diz respeito a direitos humanos, à liberdade de imprensa e à própria concepção de democracia.”
Como é natural, a acção do BE será encarada como uma grande impertinência por parte de um partido português com representação parlamentar. Até podemos até questionar se a simples ausência da cerimónia é a forma mais eficiente de se protestar quanto aos atropelos do regime angolano. Não sei se tal acontecerá, mas a ausência deveria ser acompanhada de algum tipo de comunicação que sublinhe fortemente que o acto não é uma afronta aos angolanos, mas sim aos seus governantes.
De qualquer modo, este gesto do Bloco mostra bem que a política pode fazer-se sem salamaleques. Que as posições políticas não devem ser esquecidas nos momentos-chave. E que não se pode defender valores num dia e, no dia seguinte, apertar a mão ou sorrir a quem os espezinha diariamente. A política sai vencedora quando é exercida com coluna vertebral. E ter coluna vertebral pode ser uma opção estratégica e de realpolitik.
Como é natural, a acção do BE será encarada como uma grande impertinência por parte de um partido português com representação parlamentar. Até podemos até questionar se a simples ausência da cerimónia é a forma mais eficiente de se protestar quanto aos atropelos do regime angolano. Não sei se tal acontecerá, mas a ausência deveria ser acompanhada de algum tipo de comunicação que sublinhe fortemente que o acto não é uma afronta aos angolanos, mas sim aos seus governantes.
De qualquer modo, este gesto do Bloco mostra bem que a política pode fazer-se sem salamaleques. Que as posições políticas não devem ser esquecidas nos momentos-chave. E que não se pode defender valores num dia e, no dia seguinte, apertar a mão ou sorrir a quem os espezinha diariamente. A política sai vencedora quando é exercida com coluna vertebral. E ter coluna vertebral pode ser uma opção estratégica e de realpolitik.
5 comentários:
O problema é que os angolanos estão, provavelmente, digo eu, melhor informados sobre o que querem do que a elite dirigente do BE.
E manifestaram, de forma esmagadora, a sua preferência.
Toda a gente tem o direito de estar em desacordo, de não gostar do MPLA, de abominar o José Eduardo dos Santos.
Agora, de desrespeitar um chefe de estado de um país com o qual é absolutamente estratégico que Portugal mantenha as melhores relações, isso não.
Por fim, quanto aos atropelos do regime angolano, quais atropelos? Espere, não me diga! Foram relatados pelo Human Rights Watch e pela Amnistia Internacional. Acertei?
Tiago R, vamos por pontos:
1) Compreendo a questão sobre a vontade dos Angolanos. E sei que houve eleições. Mas, como concordará, um líder legitimado eleitoralmente após décadas de governo em ditadura não faz dele um democrata, nem faz do seu regime uma democracia. Ou seja, falar de vontade popular nestes casos é sempre muitissimo escorregadio.
2) Por outro lado, como concordará também, mesmo com legitimação eleitoral, tal não impede ninguém de discordar da opção de um povo (caso seja uma opção). A irmos por aí, e num patamar totalmente diferente, não criticariamos Bush, p/ex, com receio de estarmos a ofender o povo americano.
3) Precisamente por ser um país estratégico e com laços culturais tão grandes com Portugal é que considero contraproducente fechar os olhos ao que lá se passa ou pensar que se consegue alguma coisa apenas com palmadinhas nas costas e just business. É preciso ser-se exigente e mostrar desagrado quando necessário em prol do processo de democratização. De outro modo, a democracia Angolana só acontecerá lá para o final deste século.
4)Quanto ao boicote como acto desrespeitoso, admito que o possa ser. Mas não é isso que me procupa, mas sim o simbolismo do mesmo e as interpretações que o mesmo pode gerar. Em termos simbólicos, julgo que seria preferível lá estar e entregar pessoalmente a José Eduardo dos Santos um comunicado, um abaixo assinado, um posição escrita, onde se manifestaria profunda amizade pelo povo angolano, mas também profundo desagrado relativamente ao quadro democrático do país e à corrupção enraizada nas elites dirigentes.
5) Quais atropelos??? Respondo-lhe de forma irónica também. Não me diga que você acha que o que por tudo o mundo se noticia e relata sobre o regime angolano resulta apenas de uma tremenda "campanha negra". Acha mesmo, Tiago R?
Concordo com o Tiago.
Dantes o ocidente queria impor aos outros povos a palavra de Deus. Agora quer impor o que chama democracia (partidos eleições, etc.)Mas por que há-de impor? Eu gosto, mas se eles preferirem outra via? Há anos vi Miterand receber um chefe índio. Que não fora eleito nem a respectiva tribo sabia o que era isso de partidos políticos. Deveria Miterand recusar recebê-lo por não ter sido eleito? Quanto à campanha negra. Já reparou que se Bush tivesse sido um chefe de um país do terceiro mundo e supondo que conseguia fazer o que fez, seria hoje considerado um criminoso de guerra e pravavelmente julgado?
Já reparou que os críticos de Eduardo dos Santos gostam tanto de Savimbi? Ver Antónia Palla, João Soares, Pacheco Pereira...Mas quais as responsabilidades de Savimbi nas matanças? O Bloco deve respeitar Eduardo dos Santos como Presidente dos Angolanos. Digo respeitar, não digo concordar com ele. Mas não é a concordância que está em causa.
Vamos lá ver se eu percebo: estão a discutir democracia à volta do Bloco de Esquerda e de Angola?!!! Que tal juntarem Cuba e a Coreia do Norte e a igualdade de oportunidades em Rabo de Peixe?
Para quem não tem perspectivas de ser governo mas confunde princípios e causas com retórica moralista (formalmente, nunca o BE e o Vaticano foram deus e o diabo um para o outro como são hoje) não custa nada tiradas tão jeitosas (vejam como somos diferentes) quanto irresponsáveis: entre o colaboracionismo activo com regimes pseudo-democráticos como o de Angola e a pureza ética virginal do concílio bloquista existe uma coisa que se chama realismo crítico diplomático que os políticos responsáveis(não só por princípios retóricos mas também pelo interesse (que horror!)das populações) devem praticar. Ou seja: o BE propunha que cortássemos relações com Angola até Angola ser um regime irrepreensivelmente democrático (como Cuba, a Coreia do Norte),lá para as calendas africanas. Continuem que vão subir o,2%.
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