segunda-feira, 28 de abril de 2008

Resposta ao Dr. Paulo Estêvão sobre a Disciplina de Ciência Política

O Dr. Paulo Estêvão, líder do PPM Açores e Vice-Presidente do PPM nacional, respondeu ao desafio que lhe lancei, fundamentando a sua posição contra a obrigatoriedade de uma disciplina de ciência política no âmbito do ensino secundário. A discussão começou aqui, seguiu para aqui e aqui. Continua agora com o presente post.

Mas, antes de mais, devo sublinhar o seguinte. Pareceu-me que, de forma algo precipitada, e com vista a enquadrar a sua resposta, o Dr. Paulo Estêvão revelou uma grande facilidade na emissão de juízos de valor, ao mesmo tempo que demonstrou possuir um vasto e intrigante conhecimento sobre a minha pessoa:

1) “O autor do “Activismo de Sofá” é um auto-assumido preguiçoso”;
2) “O seu exemplo de “Activismo de Sofá” não será o melhor exemplo comunitário…”;
3) “[O autor do Activismo de Sofá] abstém-se de dar o seu contributo na “vida real”;
4) “[O autor do Activismo de Sofá] passa a vida a desancar nos desgraçados dos políticos que lhe aparecem na frente. Mas que alternativa oferece o senhor à sociedade? Falta-lhe algum conhecimento ideológico?”
5) “O que lhe falta a si é o mesmo que falta a muitos dos nossos jovens. Garanto-lhe que não resolve isso com aulas de Ciência Política.”

Bem… Confesso ter ficado surpreendido com o tom despropositado de algumas afirmações, que facilmente podem ser entendidas como acusações. Fiquei surpreendido sobretudo tendo em conta o seu autor que, a propósito, não revelou uma grande facilidade na identificação de ironias no discurso - e.g. ponto 1) e 2). Terei entendido mal o tom geral do post? Não me pareceu, mas admito naturalmente ser esclarecido a este respeito.

De qualquer modo, vamos então ao debate de ideias, Dr. Paulo Estevão, que se quer caloroso, mas sem resvalar para afirmações que possam parecer excessivas. Centrar-me-ei na temática da disciplina de ciência política, abstendo-me naturalmente de responder às considerações que teceu sobre este blogue e o seu autor.

a) No que à balcanização do sistema de ensino diz respeito, tendo a concordar consigo, embora não tenha uma opinião solidamente formada a este respeito.

b) Quanto aos conteúdos da disciplina de ciência política existirem em disciplinas como educação cívica e história, tenho as maiores dúvidas. Com o mesmo raciocínio, em última análise, poderíamos quase dizer que os conteúdos da disciplina de Português estão dispersos por uma série de outras disciplinas. Por outro lado, como julgo que concordará, a transmissão eficaz dos conhecimentos de uma determinada área académica faz-se com um corpo global de conteúdos coerentes, e não com a sua “balcanização” (expressão sua) por diversas disciplinas.

c) Quanto ao facto de considerar perigosa a existência de uma “disciplina estatal de explicação da hermenêutica política”, parece-me um argumento pouco sólido à partida. Posso concluir da sua afirmação que duvida do carácter científico da ciência política? Ou duvida do carácter cientifico na elaboração dos programas escolares?
No primeiro caso, é naturalmente livre de ter as suas opiniões, mesmo que as referidas esbarrem no reconhecimento indiscutível, a nível nacional e internacional, da área académica da ciência política.
No segundo caso, com o referido raciocínio, deveremos também acabar com os conteúdos que diz já existirem nas disciplinas de história e educação cívica?

d) Sobre as orientações pedagógicas, a respeito da abordagem dos programas em algumas escolas e municípios deste país, tendo a não ser tão pessimista como o Dr. Paulo Estêvão. Mais uma vez, a irmos por aí, invalidávamos a existência de uma série de outras disciplinas ou conteúdos das mesmas. Não é isso que pretendemos, pois não?

e) Por último, relativamente à solução que apresenta para o desinteresse dos jovens – “uma atitude diferente de todos em relação à vida cívica” – parece-me um contributo um pouco modesto para a “vida real” (expressão sua). Se me permite, neste caso concreto, parece que afinal foi aqui o activista de sofá a tentar apontar soluções de política pública, não caindo portanto em aspirações algo vagas de mudança da realidade social.

Saudações

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro JRV:
não me metendo nesta polémica, nem tomando partido pelo senhor Monárquico, uma vez que minha lógica é outra eu não vejo qualquer interesse numa cadeira de ciência política no ensino secundário.

Não sei muito bem qual é esta "súbita preocupação com os jovens", e nem sequer considero lógico ou como tendo nexo de causalidade para com o actual desconhecimento dos jovens dos problemas da Polis, a existência de uma eventual cadeira de ciência política para resolver esse problema.

O problema é político e de orientação de política.

Um estado bananal que deixa de exigir que a disciplina de filosofia seja considerada como apta para servir de escolha para se fazerem exames de acesso à Universidade, como o actual fez, o ano passado, é um Estado que, por analogia, não tem qualquer interesse em que os jovens ou os menos jovens saibam algo sobre o país.

E nunca será uma cadeira de ciência política que irá resolver esse problema.

O problema é de ensino e de fundo estrutural e não existe qualquer vontade política para o resolver.

Além disso revela a hipocrisia od Estado português especialmente da pessoa que ocupa o cargo de PR, que foi primeiro ministro durante 10 anos e nunca tomou qualquer iniciativa para combater esse problema, que já ocorria nos 10 anos em que a personagem foi primeiro ministro.

Agora de repente encontrou o Deus dos jovens que ao sabem coisas simples e mostra estes estados de alma?
Ora batatas...

Quanto às teorias de atitude diferentes relativamente à vida cívica elas são difíceis de ter ou de encontrarem justificação quando o país abandona à sua sorte e ao salve-se quem puder os jovens e os menos jovens.

Portanto é natural que as pessoas não tenham absolutamente nenhum interesse pala vida civíca.

O resto são apenas fundamentações teóricas para deleite intelectual, mas que não resolvem os problemas de fundo do regime, que é o facto deste estar a cair de podre, e agora andar a lançar apelos lancinantes e patéticos para que os jovens se interessem pela vida pública e salvem o regime da agonia em que este está.


Estes preferem ir para a praia porque foi aquilo para que os empurraram há duas dezenas de anos atrás quando eles queriam "participar".

O agora o ponto de não retorno foi ultrapassado.
Com discursos do senhor Silva ou sem discursos do senhor Silva.

samuel disse...

Assunto sem dúvida interessante... mas completamente esmagado por outro, esse verdadeiramente fascinante e que é a capacidade que algumas pessoas, como o autor deste post, têm, para se envolverem em polémica com dirigentes do PPM sem morrerem a rir.

Anónimo disse...

Resposta

Parte I – Retirando questões desnecessárias: http://pauloestevao1.blogspot.com/2008/04/retirando-questes-desnecessrias.html

João Ricardo Vasconcelos disse...

Caro Dissidentex: concordo na quase totalidade com o seu comentário. Faço apenas um esclarecimento. Como é natural, não acho que a introdução de um disciplina no secundário seja a solução para "todos os males" em questão. Apenas considero que poderá fazer parte de uma solução que necessitará de ser muito mais abrangente e estrutural.

Caro Samuel: A divergência profunda de ideias torna o debate muito mais interessante.

Anónimo disse...

"""Apenas considero que poderá fazer parte de uma solução que necessitará de ser muito mais abrangente e estrutural."""

JRV: pois é,pois é.

O problema é que não se quer fazer nenhuma solução mais abrangente e estrutural. (Especialmente estrutural)

Antes pelo contrário.

Anónimo disse...

Este Estevão deve ser o rei da sua casa, um mundo à parte! Será que é conde?