quinta-feira, 31 de julho de 2008

"Declaro aberta a Silly Season!"

Depois de um suspense que durou todo o dia de hoje, Cavaco falou ao país sobre o chumbo do Estatuto Político-Administrativo dos Açores… Ficará para a história como a mais insólita comunicação que um Presidente já fez ao País.

Falou sobre um domínio que dificilmente interessará ou conseguirá ser compreendido pela maioria dos portugueses. Não acrescentou qualquer novidade. Com uma linguagem jurídico-política recheada de “audições”, “equilíbrio institucional”, “órgãos de governo próprio da região”, Cavaco conseguiu deixar os repórteres e comentadores sem palavras…
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Com a proximidade das eleições regionais, tinha o intuito de clarificar o seu posicionamento sobre uma questão que assume contornos políticos bastante significativos. Mas foi pior a emenda que o soneto (ver comunicado aqui).
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No dia 31 de Julho, com o país já a banhos, Cavaco conseguiu inaugurar com pompa e circunstância a silly season. Está de parabéns…

O Maravilhoso Mundo dos Gestores Públicos

A TAP voltou aos prejuízos de muitos milhões de euros. Os combustíveis são a justificação apresentada. Se assim foi, que má gestão foi essa ao permitir que os custos crescentes não fossem reflectidos nos preços praticados? Arriscaria dizer que gestores desses existem ao virar de cada esquina.

O presente cenário de prejuízos já era esperado e um “plano de emergência” foi apresentado na semana passada aos trabalhadores. Apertar o cinto é a palavra de ordem. A administração pretendeu dar o exemplo com uma redução de 10% dos salários dos gestores da empresa.

No entanto, há umas semanas atrás, ficou-se a saber que, em cinco anos, o salário do Administrador da TAP quadriplicou. Fernando Pinto passou de 190 mil euros para 840 mil euros de vencimento anual. Um aumento de mais de 300 %. Nada mau…

Ou seja, com o regresso da empresa aos prejuízos, e depois de pelo menos um dos seus membros ter beneficiado de aumentos de 300 %, a administração dá agora o exemplo prescindindo de 10% dos seus vencimentos. É justo, não? É o maravilhoso mundo dos gestores públicos…

quarta-feira, 30 de julho de 2008

É uma chatice…

Em menos de dois dias, surgiram novidades sobre o respeito dos Direitos Humanos na China. O Comité Olímpico Internacional diz que vai ficar atento… Podemos presumir que não esteve até agora, correcto?

A Amnistia Internacional divulgou ontem um relatório que confirma que a China não respeitou o compromisso de cumprimento dos direitos humanos. Por seu turno, a organização dos Jogos confirmou hoje que a Internet para os jornalistas estrangeiros será censurada. Como se não bastasse, hoje soube-se que um professor foi condenado a trabalhos forçados por ter divulgado fotografias “não autorizadas” sobre o sismo de Sichuan.

Comentários para quê? A China endureceu a sua política de censura com o aproximar dos Jogos. Começa aliás a fazê-lo às claras, de forma totalmente descarada. Proclamações como “vamos ficar atentos” podem ser traduzidas por: “É uma chatice, mas agora já não há nada a fazer…

O Corporativismo Desenfreado da Ordem dos Médicos

O Governo quer impor um regime de exclusividade aos médicos no Serviço Nacional de Saúde. Detalhes ainda não são conhecidos. No entanto, tendo em conta a reacção corporativa que a Ordem dos Médicos se apressou a ter, quase arriscaria dizer que se trata de uma boa medida.

Como é evidente, uma medida deste teor não pode ser aplicada sem cautelas. Tem de ser evitada uma debandada maciça dos médicos do Serviço Nacional de Saúde. No entanto, tendo em conta que muitos dos privilégios da classe médica apenas resultam da escassez existente a nível nacional, é natural que se tente promover progressivamente a sua equiparação com a generalidade dos profissionais públicos.

O bastonário da Ordem do Médicos já veio avisar que a norma poderá ser inconstitucional. Mas não foi este mesmo Pedro Nunes que, há menos de uma semana, depois de anunciado o novo curso de medicina no Algarve, veio alertar para o risco de se estar a formar médicos a mais? Não foi também este bastonário que não queria rever a código deontológico dos médicos relativamente à interrupção voluntária da gravidez?

Pois é… Quando Pedro Nunes está contra uma medida, é porque o corporativismo da classe médica está a ser lesado. Podemos, portanto, formular a seguinte regra: Pedro Nunes contra, medida positiva para o país em 99% dos casos.

Chumbo do Tribunal Constitucional: Beneficia Quem?

Pelos vistos, Cavaco tinha parcialmente razão. Dos 13 artigos do Estatuto Político-Administrativo dos Açores que levantaram dúvidas, 8 foram considerados inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional. Resta saber como será gerida esta mini-crise pelo Governo Regional e pela oposição.

Aquando da aprovação do Estatuto na Assembleia Legislativa Regional, o PSD levantara dúvidas quanto à constitucionalidade de alguns artigos. As mesmas foram ignoradas pelo PS. Quando Cavaco mandou o diploma para o Tribunal constitucional, o PSD tentou capitalizar a referida decisão no minuto seguinte, afirmando que avisara o PS regional sobre tal possibilidade.

Confirmando-se agora muitas das dúvidas levantadas pelo PSD e por Cavaco, os sociais-democratas tentarão fazer ecoar bem alto a irresponsabilidade do PS regional e do seu líder, Carlos César. A pouco mais de dois meses das eleições regionais, este tropeção é bem-recebido pelo PSD. Mas por pouco tempo.

Olhando com um pouco mais de atenção para o que sucedeu, o PS regional transformará rapidamente este chumbo numa mais valia. Com eleições regionais agendadas para Outubro, um inimigo externo vem mesmo a calhar. O acentuar do discurso autonomista contra o “malvado” Presidente da República e o “maldito” Tribunal Constitucional (ver comunicado) poderá garantir muitos votos extra… Em política, há males que vêm por bem.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Jogos Olímpicos e Outros Jogos

A menos de 2 semanas da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, a contestação parece ter diminuído. A euforia desportiva que antecede a abertura dos Jogos justifica tal facto. Mas é lamentável que assim seja.

O aproveitamento dos Jogos Olímpicos para denunciar os abusos do regime chinês é também uma forma de impulsionar a abertura democrática na China. Eis então duas citações de dois artigos distintos do Público que nos ajudam a recordar outros jogos praticados pelo regime chinês.

…desde Abril de 2007 mais de 18 mil blogues e sites foram encerrados devido à aproximação dos Jogos Olímpicos - por serem críticos do maior acontecimento internacional organizado pela China, ou terem algum tipo de conteúdo mais subversivo, ou por veicularem demasiada informação, como aconteceu com a Wikipédia…” (Público, 27/08/2008)

Mais do que um Estado de direito, há um estado cheio de leis. Mas não só a maioria não tem acesso a advogados e há apenas entre 100 mil e 130 mil advogados para uma população de 1300 milhões, como o acesso destes aos tribunais é muito condicionado.” (Público, 27/08/2008)

Na Rota dos Blogs V

Algumas recomendações de leitura numa blogosfera que se aproxima vertiginosamente do período de férias:

"Renováveis", no Origem das Espécies, a propósito dos 35 € que os portugueses pagarão por ano para a investiagação no domínio das energias renováveis

"Um partido sem colhões", no Aspirina B, sobre o PSD e o incontornável circo no Chão da Lagoa

"É a Política, estúpidos!", no Canhoto, sobre um artigo de um prémio nobel que sublinha o oportunismo dos neo-liberais.

"Criancices", n’O Afilhado, sobre a reacção de Alberto Martins à entrevista de João Cravinho.

Arrogâncias...

A entrevista de João Cravinho parece ter agitado as águas no grupo parlamentar do PS. Às críticas sobre o diploma recentemente aprovado contra a corrupção, Alberto Martins respondeu com uma arrogância que apenas demonstra fragilidades .

A bancada do PS “não recebe lições de combate à corrupção do engenheiro João Cravinho”. O combate à corrupção “pratica-se e não vive de proclamações”, afirmou também Alberto Martins, acrescentando ainda que “quem faz deste combate uma bandeira, não o deixa a meio”.

O facto de Cravinho ter visto o seu pacote de combate à corrupção chumbado pelo próprio PS continua a ser um insólito parlamentar por explicar. Foi considerado demasiado radical, o que é estranhíssimo dadas as insuficiências mais do que conhecidas que continuam a rodear o combate à corrupção.

Perante um tão evidente paradoxo, o PS continua sem justificar o conservadorismo do seu posicionamento. Aliás, em vez de o fazer, prefere atacar impiedosamente um histórico militante e ex-ministro seu… Tentar abafar todas as vozes dissidentes parece ser a estratégia…

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Um Raro Exemplo de Celeridade na Justiça Portuguesa

Portugal foi condenado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do homem a pagar uma indemnização a um cidadão ucraniano por má condução do seu julgamento. Acusado de assassinar um taxista em 2002, o cidadão ucraniano foi, em poucas horas, condenado a 21 anos de prisão.

Pelo que agora foi apurado, o Tribunal de Braga “não garantiu os princípios da equidade e imparcialidade em processo penal, nem assegurou ao arguido o direito a ser informado em língua que entendesse, nem a assistência efectiva de um advogado”. Não percebendo português, Oleksandr Panasenko nem entedeu bem porque foi condenado. (ver em detalhe o artigo do Público).

É formidável como, afinal de contas, a Justiça Portuguesa até consegue ser célere em algumas condenações. Neste caso, sem advogado de defesa, e sem que o arguido percebesse português, tudo parece ter corrido com uma celeridade formidável. Só é pena esta condenação do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos… Enfim, não havia necessidade...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

É a economia, estúpido!

Em menos de uma semana, Sócrates esteve em Angola a elogiar o trabalho do Governo de José Eduardo dos Santos, esteve na Líbia a estabelecer acordos comerciais com Kadafi e recebeu Chávez em Lisboa. Bem… Quem se seguirá?

Os mais real politikos apreciarão certamente esta atitude de Sócrates. Afinal de contas, a crise está aí e cada país tem de fazer por si. Não deve existir qualquer tipo de preconceitos no que toca a aumentar a influência económica portuguesa.

Até porque a diplomacia económica é assim mesmo, não é? O mercado agradece sempre um empurrãozinho do poder político. E assim sendo, qual democracia, qual direitos humanos, qual quê? Portugal deve agir como qualquer país desenvolvido. Não há que confundir as coisas. É a economia, estúpido!

Poderia Obama ser Europeu?

Dezenas de milhares pessoas assistiram ao discurso de Obama em Berlim. O que leva tanta gente a querer ouvir o candidato democrata americano? Esperança no facto do senador poder representar uma viragem no gigante americano? Ou o mediatismo contagioso da sua figura e tudo o que parece representar?

Diria que ambas as hipóteses e muitas outras podem explicar a adesão europeia à febre Obama. Depois do cataclismo Bush, Obama representa tudo o que uma larga fatia do eleitorado europeu aprecia. O seu posicionamento mais à esquerda, mais europeu, em termos de políticas sociais e a sua oposição à guerra do Iraque são alguns dos factores determinantes neste sentido.

Mas é interessante verificar como o discurso da esperança e da mudança consegue arrecadar tantos fans deste lado do Atlântico. É que, goste-se ou não, Obama resulta também do modo de fazer campanha americano, com todo um aparato e espectáculo pouco usual na Europa. No caso de Obama, a fronteira entre o candidato e a pop star acaba por ser ténue.

Neste contexto, poderia uma figura como Obama aparecer no panorama político europeu? Dificilmente… De sonhador rapidamente passaria a populista e demagogo. No entanto, são precisamente estas características de sonhar e de acreditar que estão a ser tão apreciadas por estas bandas. Um curioso paradoxo, não?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Universalismo Americano

Obama encontra-se no Médio Oriente. É mais do que conhecido o “universalismo” americano. Mas, mesmo assim, não deixa de ser interessante verificar que a campanha para a presidência se desenvolve em todo o mundo.

Obama foi hoje recebido pela Autoridade Palestiniana, mas também pelo presidente israelita. Promete, caso seja eleito, ser um actor importante nas negociações e fazer avançar o processo de paz. Esta viagem surge na sequência de um périplo que incluiu também o Afeganistão, o Iraque e que passará ainda por Berlim (amanhã), prometendo transformar-se num verdadeiro espectáculo para os fans europeus.

O estatuto de super-potência detido pelos americanos, assim como todo o mediatismo em torno da campanha em curso, acabam por tornar este périplo de Obama como algo relativamente normal à vista desarmada. No entanto, se pensarmos que se trata de uma viagem no âmbito de uma campanha eleitoral (que, em última análise, apenas aos americanos diz respeito), constatamos que o “universalismo” americano não pára de nos surpreender…

Alguém consegue imaginar os candidatos de qualquer outro país do mundo a fazerem campanha muito para além das suas fronteiras? Only America

Frases Soltas III

É o coração, estúpido!
Ninguém que esteja com o coração limpo, com o coração aberto, pode concluir que esta proposta do Governo de Código de Trabalho não se destina a combater a precariedade e a defender os trabalhadores".
Sócrates, Público, 23/07/2008

O Sr. Silva não percebe nada disto.
«Há já "muitas semanas que tinha sido comunicado que a delegação [angolana] seria chefiada pelo primeiro-ministro angolano e não pelo Presidente da República."
Luis Amado, contradizendo totalmente o que Cavaco Silva afirmara no dia anterior. Diário de Notícias, 23/07/2008

Estranha Respeitabilidade...
Manuela Ferreira Leite "restituiu a respeitabilidade ao PSD. Embora não lhe conheça uma proposta ideológica que tenha marcado a política nos últimos 20 anos."
Pires de Lima, Diário Económico, 23/07/2008

Imagens que falam por si...

Manifestantes contra decisão de Rui Rio.
Fonte: Sol

terça-feira, 22 de julho de 2008

“Obrigado Quinta da Fonte!”

Algo estava a faltar no conjunto de reacções aos acontecimentos da Quinta da Fonte: o CDS andava muito brando… Hoje Portas demonstrou que não andou distraído. Esperou sim pacientemente pelo momento mais adequado para começar a capitalizar os acontecimentos ocorridos

Portas declarou hoje que: “Há um Portugal que trabalha, paga os seus impostos e luta duramente para pagar prestações no fim do mês; e depois há outro Portugal em que demasiadas pessoas vivem subsidiadas pelo Estado, estão no rendimento mínimo como forma de vida, beneficiam de rendas simbólicas e ainda se acham no direito de não as pagar” (…). “Os portugueses que trabalham e pagam impostos não têm de custear estes comportamentos”.

Sublinhando que os acontecimentos revelam falta de autoridade do Estado, defendeu a videovigilância nos “bairros sociais com maior incidência de conflitualidade e violência”.

O CDS já tinha reagido aos acontecimentos de há uma semana atrás. Mas, com as declarações de hoje de Portas, é oficial: a Quinta da Fonte será uma presença assídua no discurso do CDS por “muito muito tempo”…

Ferreira Leite e o Prometido Envolvimento nas Eleições Açorianas

Segundo o Expresso, Manuela Ferreira Leite afirmou que se iria empenhar pessoalmente nas eleições regionais açorianas. Dada a balança política regional, pergunto se Ferreira Leite empenhar-se-á mesmo? É que terá muito pouco a ganhar com esse envolvimento directo.

As eleições regionais de Outubro prometem ser um passeio para o actual Presidente do Governo Regional. É uma candidatura a um quarto mandato. Dada a baixíssima tendência de rotatividade nas eleições regionais, resta apenas saber qual a dimensão da maioria absoluta que Carlos César obterá. Para tal contribui também o fraco desempenho e as dificuldades de afirmação do seu oponente social-democrata.

Posto isto, o que ganhará Manuela Ferreira Leite com um “envolvimento pessoal” nas referidas eleições? Sendo a derrota uma realidade certa à partida, ficará como a primeira batalha eleitoral perdida pela nova líder do PSD. Uma estreia pouco invejável… Estará Ferreira Leite a falar a sério quando promete um tal envolvimento? Estranho será se assim for…

segunda-feira, 21 de julho de 2008

A Cereja em cima do Zero

O encerramento do caso Maddie terminou com o pior dos finais: arquivado sem que a investigação tenha sequer concluído se se tratou de rapto ou de um homicídio. Ou seja, trocado por miúdos: ZERO.

Mas estas últimas semanas conseguiram ser a cereja em cima do zero. A 1 de Julho, a PJ comunicou que dava o caso como arquivado. Mas Pinto Monteiro logo tratou de acalmar os ânimos: “Calma lá que ainda falta passar pela Procuradoria-Geral da República.” Na passada quarta-feira, o Procurador tratou de lançar algum suspense: na segunda-feira, às 16h, seria anunciado o resultado do processo. A comunicação social entreteu-se desde então com o suspense criado.

Chegados à esperada segunda-feira… Bem… Novidades novidades só no Continente. 14 meses depois, as redacções começam a despedir-se de um caso que tanta audiência garantiu. Deixará saudades nos Moita Flores de todo o país. No meio de tudo isto, lá se foi o mito urbano de que a PJ era uma das melhores polícias de investigação do mundo… Quanto à justiça portuguesa em geral, conseguiu arrecadar mais uma medalha. Adivinhem qual?

PS: Desculpem o tom algo trocista com que escrevi este post. Citando o We Have Kaos in the Garden: "Se há quem chore de alegria porque não haveremos de rir de tristeza"

“Os Ricos que Paguem a Crise”

Começa a ser de senso comum que dois sectores da economia são imunes a qualquer flutuação: os combustíveis e a banca. Se o clima económico é bom, eles estão bem. Se o clima económico aperta, eles estão tão bem ou melhor até.

Neste contexto, a expressão “Os ricos que paguem a crise” pode ser aqui aplicada. Como é óbvio, tal provocará arrepios a muitos magos da ciência económica. O aumento dos impostos em alguns sectores não só abranda ainda mais a economia, como acaba sempre por se reflectir nos consumidores. No entanto, se os aumentos forem aplicados nos sectores onde crise até gera efeitos positivos, não há razão para tal se reflicta nos consumidores ou no normal desenvolvimento económico.

A taxação dos lucros extraordinários das petrolíferas é, neste contexto, uma política positiva (quando aplicada com seriedade, como é evidente). Não se deverá ponderar a aplicação do mesmo modelo à banca? Como ontem referiu Jerónimo de Sousa, é um sector que tem beneficiado com as subidas constantes das taxas de juro. No momento actual, justifica-se que os referidos lucros extraordinários sejam taxados, obtendo-se eventualmente margem para aliviar a carga fiscal dos cidadãos.

domingo, 20 de julho de 2008

Progressismo com Telhados de Vidro

Aproveitando o vanguardismo da JS, Alberto Martins afirmou na sexta-feira que o casamento homossexual será um tema a abordar na próxima legislatura. Sócrates, por seu turno, aproveitou também para criticar o conservadorismo de Ferreira Leite sobre o casamento com fins procriadores. No entanto, nestes domínios, o PS critica o PSD possuindo telhados de vidro.

Fica sempre bem aos líderes socialistas irem ao congresso dos seus jovens darem provas de progressismo. É da praxe. Mas esta critica ao PSD encerra profundas contradições. Se o PS é assim tão progressista, se o PS apoia implicitamente que os seus jovens defendam o casamento homossexual, porque é que não inclui este tema na sua agenda durante esta legislatura? Como tenho sublinhado repetidamente nos últimos posts, porquê esperar para a próxima legislatura quando os socialistas possuem maioria absoluta na legislatura em curso?

Ah pois é… Não é um tema consensual no seio do próprio partido. Tenho a certeza inclusive que muitos dos seus dirigentes defendem ipsis verbis o que Ferreira Leite defendeu (veja-se, a título de exemplo, o caso dos Católicos Socialistas). Mas Sócrates sabe que a melhor defesa é o ataque. Atira pedras aos telhados do PSD contando que este não perceba que os do PS também são de vidro…

A JS e o Casamento Homossexual

O novo líder da JS inaugurou o seu mandato com um tema quente: o casamento homossexual. Fez muito bem, apesar deste vanguardismo estar já a provocar reacções negativas no seio da própria JS.

Duarte Cordeiro afirmou que o casamento homossexual é “uma imposição do princípio da igualdade”. Nem mais. A JS assume, mais uma vez, um tema fracturante no panorama esquerda/direita. O anterior secretário-geral, Pedro Nuno Santos, já o vinha fazendo à esquerda do seu partido, conseguindo que o casamento homossexual deixe progressivamente de ser um reduto “daquela esquerda radical à esquerda do PS”.

É positivo que assim seja. Aos poucos, o tema vai ganhando relevo e começa a entrar na agenda. No entanto, é conveniente que entre pelas mãos dos irreverentes jovens socialistas. Vão à frente, vão abrindo caminho aos poucos, para que o partido possa começar a ponderar qual a altura mais indicada para ele próprio integrar o tema na sua agenda. Uma forma de instrumentalização, sem dúvida. Mas que termina, normalmente, com resultados positivos.

As Jotas e a Idade dos seus Líderes

Durante este fim-de-semana, ocorreu o Congresso da JS e a comemoração do aniversário da JSD. Embora não seja uma questão determinante, fico sempre impressionado com a idade dos líderes das respectivas organizações. Considerá-los jovens é uma tarefa cada vez mais complicada.
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Segundo consegui apurar online, o actual líder da JSD – Pedro Rodrigues – possui 28 anos. Por seu turno, o novo líder da JS – Duarte Cordeiro – possui 29 anos.

Nos nossos dias, a condição de juventude em termos sociológicos é cada vez menos associada à idade. Factores como a emancipação financeira, a saída da casa do agregado parental ou a união institucionalizada com outra pessoa são factores mais determinantes do que a idade para traçar a barreira entre o jovem e o adulto

Posto isto, não sabendo (nem querendo saber) se os actuais líderes das juventudes partidárias se inserem ou não na categoria de jovens acima descrita, parece-me que a idade com que assumem este tipo de cargos de juventude salta cada vez mais à vista. É verdade que não é necessário ser-se jovem para se defender causas da juventude. Mas também é verdade que a principal razão da sua existência é o facto de serem organizações compostas e lideradas por jovens… Ou não?

sábado, 19 de julho de 2008

Quem controla a Agenda?

Sócrates cometeu na quinta-feira uma gaffe tremenda: elogiou o trabalho do Governo Angolano. Curiosamente, passados dois dias, pouco ou nada foi dito sobre este caso. Foi um tema que não entrou na agenda. Sócrates teve sorte, muita sorte…

No dia seguinte, outros temas encheram por completo a mesma. A imprensa reservou o seu espaço para temas como a condenação de Valentim Loureiro, as novidades sobre o caso Quinta da Fonte, a visita de Cavaco às regiões deprimidas, as previsões do FMI para a economia portuguesa ou o artigo de Menezes no Diário de Notícias.

A agenda mediática em democracia não é controlada por ninguém em especifico, embora alguns órgãos ou centros de comunicação possam ter um peso determinante neste domínio. Por vezes, e por razões diversas, os holofotes acabam por não focar um tema que, noutros momentos, teria enchido as manchetes. Uma questão de sorte? Sim, sobretudo uma questão de sorte na forma como se estrutura a agenda.

Ou seja, paradoxalmente ou não, a fiscalização política em democracia também é influenciada por factores tão voláteis como a sorte. Desta vez, Sócrates tem razões para estar contente…

António Capucho, o Casamento e a Propagação da Espécie

Depois de Ferreira Leite ter afirmado que o casamento visa a procriação, António Capucho brinda-nos hoje com a seguinte pérola: “O casamento tem todas as facetas que se quiser, mas uma delas assume um papel determinante: a propagação da espécie.

A afirmação de Capucho em entrevista ao Diário Económico de hoje surge como uma tentativa de minimizar as afirmações de Ferreira Leite. Conseguiu algo notável: uma das piores emendas que qualquer soneto alguma vez teve.

É formidável o que se descobre quando são abordados temas fracturantes da divisão esquerda/direita. O PSD consegue, deste modo, afirmar sinais de um profundo conservadorismo.

Mas seria também interessante saber a posição do PS a este respeito. É que não basta dizer que este é um tema a abordar na próxima legislatura, apelidando os sociais-democratas de reaccionários. Porque não nesta legislatura, aproveitando a maioria absoluta? Ah pois é…

Frases Soltas II

Quero dizer… No fundo… Não me importava…
Se tivesse que tomar hoje uma decisão sobre um segundo mandato, diria ‘sim’ (...) assumindo, claro, que teria o apoio dos Estados-membros e do Parlamento Europeu.”
Durão Barroso, Público, 18/07/2008

Quando a emenda é tão má como o soneto
O casamento tem todas as facetas que se quiser, mas uma delas assume um papel determinante: a propagação da espécie.”
António Capucho, Diário Económico, 19/07/2008

A esperança é o caminho
A doutora Manuela Ferreira Leite lançou temas que são importantes para o debate político e agora precisa de dar um passo mais, de dizer a todos os portugueses que pode haver uma esperança, que pode haver um programa diferente, de alternativa, protagonizado pelo PSD.
Passos Coelho, Público, 18/07/2008

Porquê só na próxima legislatura se agora têm maioria absoluta?
É tema de um debate que deve ser feito na próxima legislatura.
Alberto Martins a propósito do casamento homossexual, Sol, 18/07/2008

Estranhas e Lamentáveis Coincidências

No espaço de um dia, o país obteve novidades sobre as recandidaturas de dois dos seus mais polémicos autarcas. Há coincidências estranhas e lamentáveis, não há?

No meio das reacções à sua condenação a três anos de prisão com pena suspensa, Valentim Loureiro aproveitou para afirmar que será candidato a Gondomar em 2009. Um momento oportuno, sem dúvida. Eis a política à portuguesa: num minuto é-se condenado, no minuto seguinte anuncia-se uma candidatura.

Segundo um comunicado ontem enviado à Lusa, a Comissão Política do CDS de Marco de Canavezes anunciou que Avelino Ferreira Torres será o candidato do partido nas próximas autárquicas. Hoje, o gabinete autárquico do CDS já tratou de desmentir a Comissão Política do concelho, afirmando que Avelino não será o candidato. Desentendimentos ainda por explicar.

As autárquicas de 2009 prometem… Ficam apenas a faltar as confirmações de Isatino Morais e Fátima Felgueiras para que o cartaz fique composto.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Frases Soltas

“O facto de o racismo ser protagonizado por quem é sistematicamente discriminado pela maioria em função da sua aparência étnica ou da sua pertença cultural não deve torná-lo menos digno de nota e censura nem, obviamente, desculpabiliza ou "explica" o racismo e preconceito maioritários. Sendo isto óbvio, deve sê-lo também o facto de o conflito da Quinta da Fonte não constituir necessariamente um conflito de contornos racistas (aliás, será que alguém já percebeu que conflito é aquele, exactamente?).”
Fernanda Câncio, Diário de Notícias, 18/07/2008

“Nem quero imaginar o que se escreveria sobre o anterior líder social-democrata se ele, em escassas seis semanas, não tivesse divulgado uma proposta, estivesse em hibernação enquanto os camiões bloqueavam o País e culminasse tal período de ausência com a pomposa declaração de que o casamento era um magistério virado em exclusivo para a procriação!”
Luis Filipe Menezes, Diário de Notícias, 18/07/2008

“É para os gondomarenses que eu quero dar uma palavra de agradecimento, de gratidão, por toda a solidariedade que, durante todo este tempo, têm tido comigo. E de certeza que, perante o que aqui se passou, vou ser candidato a novas eleições, vou ganhar e vou continuar em Gondomar!”
Valentim Loureiro, SIC Notícias, 18/07/2008

Na Rota dos Blogs IV

A pedido de muitas famílias, eis algumas sugestões de leitura blogosférica:

Um Abuso, no País do Burro, sobre as condenações hoje divulgadas no futebol português;

Editologia”, n’Os tempos que Correm, sobre o editorial de José Manuel Fernandes hoje no Público

O Elo mais Fraco, no …bl-g- -x-st, sobre o endividamento das famílias e do país.

O País do Encosta, no Geração de 60. Um desabafo assumidamente catastrofista sobre o comportamento dos portugueses

Então é Isto, via Arrastão e Ramdom Precision, sobre os misteriosos cânticos das missas;

O Silêncio de Menezes II

Na segunda-feira, após o Congresso, Luis Filipe Menezes remeteu-se ao silêncio até 2009, não querendo comentar a situação no PSD. A sua posição foi entendida como uma posição de respeito para com a nova direcção. Mas já tratou de mostrar o tipo de silêncio que manterá…

Segunda-Feira, 23 de Junho: "Não vou falar do PSD. Só falarei quando entender ser oportuno e nunca antes de Outubro de 2009", afirmou Menezes numa cerimónia de entrega de Bandeiras azuis no seu concelho.

Quarta-feira, 25 de Junho: a alta velocidade é uma “matéria que por vezes é difícil discutir com quem não percebe nada e com quem nunca a estudou”. Menezes acrescentou ainda que quem afirma que o projecto da alta velocidade não deve avançar não sabe do que fala e não estuda os dossiers sobre os quais se pronuncia.

Sexta-feira, 18 de Julho: “Não tenho dúvidas de que éramos mais representativos, intelectualmente mais sólidos, culturalmente mais bem preparados, politicamente mais experientes, ideologicamente mais esclarecidos, mais carismáticos e melhores comunicadores.” (artigo no DN aqui)

Luis Filipe Menezes é de facto um ex-líder que o PSD não esquecerá tão cedo. A propósito, vale sempre a pena recordar o vídeo com as suas afirmações sobre o “canalha” Pacheco Pereira no dia das eleições no PSD.

PS: Este texto constitui uma mera actualização de um post publicado a 26 de Junho aqui no Activismo de Sofá. Temo que novas actualizações se seguirão nos próximos tempos…

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sócrates e os Graves Elogios ao Governo Angolano

Há dois meses atrás, na sequência das declarações de Bob Geldof, conseguiu gerar-se algum debate sobre os sérios problemas do governo angolano. Sócrates demonstra agora preferir uma política de elogio rasgado… É triste.

No âmbito da sua visita a Angola, Sócrates aproveitou para destacar o trabalho notável do governo daquele país. Segundo Sócrates, todos os indicadores demonstram isso mesmo. Acrescentou que o trabalho do Governo Angolano tem “permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados”.

Como é natural, não esperamos que o primeiro-ministro português vá a Angola apontar o dedo ao Governo do país sobre a corrupção, sobre o desrespeito dos direitos humanos, sobre a falta de democracia. A diplomacia não se faz assim. Mas também não se faz elogiando o trabalho económico desenvolvido por um governo sem legitimidade democrática. Um governo com um currículo nada invejável. É muito grave que Sócrates se tenha desmanchado neste tipo de elogios que assumem um carácter incontornávelmente político. É muito grave, é lamentável, é vergonhoso…

Multa do BCP sofre redução de mais de 80%

Durante a semana passada, anunciou-se que o BCP ia ser punido exemplarmente pelas irregularidades que cometeu. 3 milhões de euros de multa foi o “castigo” anunciado. Hoje, com vista a premiar a actual administração, a multa sofreu uma redução de mais de 80 %...

Segundo o Público, a decisão da CMVM visa premiar as "boas práticas adoptadas pela nova administração liderada por Carlos Santos Ferreira, durante o ultimo aumento de capital”. “Visa premiar ainda a iniciativa da actual equipa de gestão de abrir negociações com os seus clientes/pequenos investidores, para os ressarcir de eventuais prejuízos decorrentes da compra de acções BCP”.

Ora vejamos: comete-se uma irregularidade; é-se apanhado; mas como nos andamos a portar bem nos últimos tempos, o juiz premeia-nos com uma redução de mais de 80% da multa que fora anunciada na semana antes. Não está mau… Não está nada mau...

Taxa Robin dos Bosques ou Taxa Pinóquio?

São diversas as dúvidas levantadas em torno da Taxa “Robin dos Bosques”. No seguimento das declarações da Galp, presumiu-se que a nova taxa é uma simples antecipação do IRC já cobrado às petrolíferas…

Augusto Santos Silva voltou a sublinhar que se trata de uma taxa autónoma e que o Governo prevê arrecadar 100 milhões de euros. No entanto, o à vontade das petrolíferas tem indicado o contrário. Aliás, a certeza com que o Governo afirmou que a nova taxa não faria aumentar os preços dos combustíveis continua a ser intrigante.

Escudo será dizer que, caso se confirmem minimamente as dúvidas da oposição, esta medida revelar-se-á no maior atentado à inteligência dos cidadãos. Uma gravíssima manobra de engano dos contribuintes. Robin dos Bosques ou Pinóquio, a dúvida permanece…

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Nuclear?!? O Governador do Banco de Portugal?!?

A sensibilidade do tema nuclear parece ter sido quebrada no país. Por quem? Pelo Governador do Banco de Portugal… Vitor Constâncio surpreende-nos com os seus silêncios sobre as taxas de juro. Mas, pelos vistos, energia nuclear é com ele (ver video aqui).

Durante esta semana, Beslusconi ameaçou os países produtores de petróleo com a possibilidade de apostar em energias alternativas. Para o primeiro ministro italiano, o nuclear é a sua alternativa… Parece que o discurso berlusconiano conseguiu ter eco em Portugal.

E não foi junto do Ministro da Economia, das Finanças, ou de um centro de investigação universitário. Teve eco no Banco de Portugal. Se calhar, não era mau que alguém desse uma dica a Vitor Constâncio. É que existem outras matérias nucleares com as quais o governador do Banco de Portugal se devia preocupar e pronunciar. As subidas das taxas de juro é uma delas.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Casino de Lisboa… Aliás, Bolsa de Lisboa cai 5%

Os mercados estão novamente instáveis. Até ao meio dia, o PSI 20 caiu mais de 5 %. Uma maravilha para os aficionados do jogo. “Emoções fortes” e “adrenalina ao rubro” bem poderiam ser os slogans para captar novos investidores para os mercados bolsistas.

As flutuações nos mercados internacionais estão a ditar mais um dia para cardíacos na Bolsa de Lisboa. No espaço de duas semanas, eis outra sessão que promete ser histórica. Gente a ganhar, a perder, a jogar enfurecidamente milhões e milhões de euros num jogo que garante emoções fortes.

Confirmando-se as regras deste jogo, as descidas de hoje transformar-se-ão em subidas amanhã. Não tenhamos dúvidas que estes são "dias animados” para os investidores. Pelo menos para os mais aficcionados. A estabilidade é uma chatice. É com alguma instabilidade que se consegue dinheiro fácil.

Não percebo como é que a Estoril Sol ainda não se lembrou de lançar o Casino da Bolsa de Lisboa. No fundo, um casino para multimilionários que arriscam uns milhões em troca de emoções fortes. O Berardo certamente alinharia. Um dia destes, envio-lhes esta sugestão…

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Betão rima pouco com Integração Social

As imagens do que se passou no barro Quinta da Fonte trouxeram ao de cima graves problemas de integração social (ver vídeo aqui). Desentendimentos entre membros de comunidades distintas deram lugar a confrontos armados nas ruas de um bairro social. O país ainda está a absorver o que se passou…

São mais do que conhecidos os problemas de guetização que ocorrem em diversos bairros sociais de Lisboa. Grandes prédios são construídos, populações muitas vezes problemáticas são lá alojadas. Deduz-se que, com o fim das barracas, os problemas ficam resolvidos… No entanto, para espanto de alguns, os problemas insistem em não desaparecer. Acabam por ficar apenas camuflados pelo betão que se ergueu à sua volta.

Com os acontecimentos agora ocorridos, os clamores de maior policiamento proliferam. Como se o policiamento conseguisse resolver problemas estruturais… Esperemos que os incidentes da Quinta da Fonte consigam relembrar que é preciso muito mais do que betão para se promover a integração social.

Ops, Vírus e o Mercado das Revistas Políticas

Num momento em que escasseiam as revistas políticas, surge hoje a Ops, revista online ligada ao movimento de Manuel Alegre. Há uns meses atrás surgiu a Vírus, também online e ligada ao Bloco de Esquerda.

O mercado das publicações de ideias políticas não tem andado famoso. São poucos os títulos que sobrevivem. A Atlântico deixou de sair. A Ideias à Esquerda desapareceu. A Manifesto e a Vértice permanecem, embora com uma regularidade imprevisível. O Le Monde Diplomatique e a Nova Cidadania acabam por ser dos únicos títulos disponíveis.

As publicações online são uma solução para um mercado que teima em não se afirmar. Do mal, o menos…

Boas Práticas: Como é que ninguém se lembrou disto antes?

Há umas semanas atrás, o bloqueio das empresas de camionagem exigia a comparticipação pública para obter gasóleo mais barato. Hoje, a nova Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas (ANTP) está a negociar directamente com as gasolineiras com vista a obter preços mais baratos do que em Espanha.

Eis um exemplo lúcido de como a intervenção estatal, nomeadamente do Orçamento de Estado, pode ser substituída por bons modelos de entendimento entre os diversos actores presentes no mercado. Neste caso, ANTP está lucidamente a fazer valer junto das gasolineiras o peso do sector que representa. E arrisca-se a obter excelentes resultados…

O mercado é implacável em alguns domínios, tornando a intervenção estatal incontornável. No entanto, a organização de alguns sectores e a capacidade de jogarem com o seu peso no mercado consegue gerar resultados surpreendentes. Veremos no que a negociação acima referida dará.

domingo, 13 de julho de 2008

Os Bobos do PSD

Hoje Jardim afirmou que ele é que é a verdadeira oposição ao Governo… Na passada semana, Luis Filipe Menezes voltou a criticar as restrições às obras públicas defendidas pelo seu partido. Estes são apenas alguns exemplos dos diversos bobos que a corte social-democrata possui.

Fazem barulho, estão acima de qualquer disciplina partidária, não tem quaisquer problemas em colocar o seu interesse acima do interesse do partido. E, sobretudo, são conhecidos na opinião pública pela sua postura “indomado-populista”.

Estes bobos distinguem-se claramente do baronato (outro tipo de espécimen social-democrata) que agora tomou o poder no partido. Não gostam do estilo sério que este último pretende transmitir. Não gostam de ser considerados “provincianos” pela elite tecnocrática do partido que habita na capital.

Apesar do PSD apresentar traços de união como há muito não se via, a liderança de Ferreira Leite será sempre incomodada por estes bobos. A luta entre barões e bobos faz parte do modo de ser do partido. As tréguas apenas acontecem quando cheiro a poder comece a alastrar para os lados dos sociais-democratas… Até lá, não há volta a dar.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Há males que vêm por bem?

Segundo a Estradas de Portugal, Lisboa está a receber menos 60 mil carros por dia, quando comparado com igual período do ano passado. Paradoxalmente ou não, a crise consegue o que milhões de campanhas de sensibilização tendem a não conseguir…

Quando comparados os dados entre Junho do ano passado e Junho deste ano, há um decréscimo de 10% no número de carros que entram diariamente na capital. No mesmo período, o famigerado IC19 registou quebras de tráfego na ordem dos 25% (menos 35 mil carros por dia).

Estranhamente, segundo apurou o Diário Económico, as empresas de transportes públicos não registaram aumentos. Poderá o carpool explicar uma tão grande redução? Estranho seria se assim fosse. De qualquer modo, é sempre interessante constatar o lado positivo de alguns males...

O Estado da Luta Política

No rescaldo da debate de ontem na Assembleia da República, o que há a dizer sobre o estado da luta política? O Governo quer fazer tábua rasa da sua postura nos últimos três anos. O PSD, apesar de não ter ideias, está unido e está empenhado. A próxima sessão legislativa promete uma luta taco a taco por cada ponto nas sondagens.

Sócrates apresentou-se com a roupagem que já tinha dado a conhecer na sua entrevista da RTP. Anunciou medidas sociais positivas, apesar de cirúrgicas e retalhadas tendo em conta a situação económica do país. Sabe que tem de trabalhar bastante para que o eleitorado esqueça a imagem negativa que foi passada nos últimos três anos. Está ultra-empenhado na referida tarefa.

O PSD, por seu turno, está a ser igual a si mesmo. A dimensão populista sobre as obras públicas demonstra que é um partido que faz tudo pelo poder. Não apresenta novas orientações estratégicas quanto ao futuro do país. Apenas demonstra que está unido e que sabe que 2009 está à porta. Bem ao seu estilo, quer demonstrar à opinião pública que consegue ser tão medíocre como os socialistas. Isso chega-lhe para sonhar com a antecipação da regra do rotativismo já em 2009.

O CDS tem feito bem o trabalho de casa. No entanto, as sondagens não enganam: a imagem de Portas está muito desgastada. Precisará de muito mais para conseguir seduzir as franjas do eleitorado a que normalmente se direcciona. Veremos se a persistência de Portas será suficiente. Nunca se sabe…

Quanto ao PCP e ao BE, esta nova postura do Executivo poderá ameaçar os bons resultados alcançados nas sondagens. Temem que o eleitorado tenha memória curta quanto a Sócrates. E têm toda a razão. Esse será, sem dúvida, o seu desafio nos próximos tempos.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Ilegalidades na Banca e sua Fiscalização

Depois de vários meses em que recaiam apenas suspeitas sobre operações de gestores de BCP, parece que finalmente algo irá acontecer. Pelo menos é o que promete Vítor Constâncio, adiantando mesmo que alguns gestores serão inibidos de exercer.

Irregularidades diversas na gestão, veículos em offshore, entre outras operações pouco ortodoxas parecem estar na mira do Banco de Portugal. O BCP é, para não variar, o arguido de todo este processo.

As operações da banca e dos mercados de capitais, sempre doseadas de “off-shores” e de relatórios e movimentos pouco claros, acabam por ser dos crimes menos identificados a nível nacional. A sua fiscalização é no mínimo dúbia, acabando normalmente por apenas capturar um ou outro bode expiatório, visando saciar os clamores de justiça vindos da opinião pública.

Este aparato agora gerado por Vítor Constâncio e pelo Conselho Nacional de Supervisão e Auditoria terá um resultado diferente? Temos todas as razões para achar que não. Veremos se a montanha não irá parir um rato…

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Uma Verdade Inconveniente

Segundo o DN, a biografia de Berlusconi que a Casa Branca incluiu no seu dossier de imprensa para ser entregue no G8, dizia que o actual primeiro ministro italiano é um dos líderes "mais controversos", um "amador" em política que chegou ao poder porque usou da sua influência nos media.

A biografia descrevia Berlusconi como “um empresário, proprietário de numerosas companhias e empresas, com grande e poderosa influência nos media internacionais, considerado por muitos, como um amador em política, e que conseguira ser eleito graças à sua interferência junto dos órgãos de comunicação nacional.

Como é natural, a Casa Branca já veio pedir desculpas públicas e formais por ter cometido a referida gaffe. Estará All Gore interessado num segundo capítulo do seu bestseller “Uma Verdade Inconveniente”? Até ao fecho deste post, não conseguimos confirmar a referida informação…

A Igreja que temos…

O Vaticano considerou que a decisão da Igreja Anglicana de nomear mulheres bispos é um entrave ao diálogo. Sublinhou ainda que a decisão vai contribuir para aumentar os obstáculos à reconciliação entre os anglicanos e católicos… Desculpe, importa-se de repetir?!?

Como justificação para o referido posicionamento, o Vaticano defendeu que as mulheres não podem ser ordenadas porque Cristo só escolheu homens como apóstolos. Poderoso argumento...

Que o Vaticano considere que as mulheres são seres “diferentes” que não podem ser ordenadas padres, muito menos bispos, é um disparate que há muito sabemos. Que a posição progressista anglicana nestes domínios incomoda seriamente a Igreja Católica, também é algo que parece evidente.

Mas que o Vaticano venha posicionar-se publicamente sobre tal facto, ameaçando com supostos obstáculos à reconciliação entre católicos e anglicanos, parece-me uma das maiores anedotas dos últimos tempos. A Igreja Católica está a perder fiéis a olhos vistos, não é? Lamento, mas só me ocorre o seguinte máxima da sabedoria popular, “cada um tem aquilo que merece”…

terça-feira, 8 de julho de 2008

Eleitoralismo rumo a 2009

A SEDES lançou um novo documento alertando para o eleitoralismo do Governo… Estranho seria se o Governo ficasse indiferente ao aproximar de 2009, ano em que ocorrerão três actos eleitorais. Será o ano do “tudo ou nada”.

Legislativas, Autárquicas e Europeias: eis os desafios agendados para o próximo ano. Como é de senso comum, a proximidade dos actos eleitorais poderá implicar que os eleitores adoptem um comportamento semelhante nas diversas eleições. Ou seja, quem votar PS nas legislativas, fá-lo-á certamente nas europeias e tenderá a fazê-lo também nas autárquicas. Como é evidente, o contrário também poderá acontecer.

Apesar da crise que assola o país, apesar do mal-estar difuso, o Governo e o PS tudo farão para não serem fortemente penalizados. A mudança de postura que lhes tem sido apontada é, aliás, um sinal inequívoco neste sentido. Maior sensibilidade social, maior disponibilidade para o diálogo e maior folga no cinto até agora apertado, serão tendências que se acentuarão nos próximos tempos. Esta mudança de estilo será suficiente? A ver vamos…

Um Retrato da Avenida da Liberdade

A propósito do incêndio deste domingo, o Público divulga hoje uma peça sobre a grande Avenida de Lisboa. Os seus símbolos, as suas gentes, as suas vergonhas, os seus paradoxos. É um retrato que, apesar de não ser extraordinário, consegue fazer-nos pensar.

A Avenida da Liberdade é, sem dúvida, uma das mais nobres da cidade. Como sublinha o artigo, é povoada por nobres lojas, hotéis, bancos e seguradoras e sociedades reconhecidas. É o palco de grandes acontecimentos, desde as marchas às grandes manifestações e protestos nacionais. É um símbolo da cidade, mas é também uma metáfora da mesma.

Lado a lado com os grandes edifícios estão prédios devolutos que conseguem o olhar mais aterrador dos turistas. A componente rodoviária da Avenida é uma imensa SCUT digna de ser apreciada. Consta até que é uma das avenidas mais poluídas da Europa.

Nas suas contradições, a Avenida da Liberdade consegue ser um retrato da cidade e do país. É lamentável que assim continue. Não era mau que, a pretexto do incêndio agora ocorrido, se aproveitasse para pensar melhor este espaço nobre da cidade. Será pedir muito? Temo que sim...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Incêndio em Lisboa e a Praga dos Prédios Devolutos

O incêndio que ontem deflagrou na Avenida da Liberdade veio colocar novamente na agenda a praga de prédios devolutos que Lisboa possui. Não é um assunto novo, antes pelo contrário. Mas parece ser necessário um susto grande para que este assunto volte a ser encarado com alguma seriedade.

Os prédios devolutos são um problema antigo da capital. E são algo que salta à vista em qualquer das grandes artérias da cidade. Prédios de valor inestimável encontram-se abandonados. Ferem a vista mas constituem também um perigo iminente para as áreas circundantes.

Como é natural, os seus proprietários deveriam ser melhor responsabilizados e, em última análise, os processos de expropriação deveriam ser dotados de maior celeridade. No entanto, a celeridade parece ser algo que não prolifera na autarquia lisboeta. Segundo o Público, Lisboa tem 4600 edifícios devolutos, metade dos quais a aguardar licenciamento para reconstrução.

Ou seja, a autarquia e suas burocracias têm fortes responsabilidades no cenário actual. Esperemos que o incêndio que ontem deflagrou impulsione algumas mudanças neste sentido. Curisosamente, o Simplis é lançado hoje. Há coincidências que deviam ser aproveitadas...

As Graves Afirmações do ex-Coordenador do Caso Maddie

Na semana em que se antecipou um vergonhoso desfecho do caso Maddie, Gonçalo Amaral, entrevistado pelo Expresso, faz algumas afirmações muito graves sobre a forma como foi conduzido o processo.

Sobre a decisão que ditou o seu afastamento, afirma que saiu “por causa do rumo que a investigação estava a tomar.” Questionado sobre se o rumo da investigação, baseada no homicídio, estava a incomodar o poder político, responde que “Este caso foi mais político do que policial”.

Sobre se algum político o pressionou, a sua resposta é lacónica: “Eu não fui pressionado, fui demitido.” Sobre a responsabilidade da decisão de constituição do casal McCann como arguidos (decisão esta que poderá ter estado na base da sua demissão), o ex-inspector afirma que a decisão foi de “Todos. E o director nacional era informado de todas as decisões.”

Como manda a tradição nos grandes processos de investigação em Portugal, o caso arquiva-se sem que sejam apuradas responsabilidades. Ficam as dúvidas, as suspeições, as afirmações graves sobre os meandros do processo… E fica também, para não variar, a badalada constatação que algo de muito mau se passa na justiça portuguesa. Uma espécie de doênça crónica que o país já se habituou. É triste…

domingo, 6 de julho de 2008

Na Rota dos Blogs III

Algumas sugestões de leitura e de visionamento. Entre a ironia e a sinceridade, o espírito vai sendo alimentado:

"Um Inesperado Momento de Sinceridade", no Zero de Conduta, sobre uma afirmação intrigante de Manuel Pinho...

"Compromisso (para Lixar) Portugal", no Cantigueiro, sobre as últimas posições do grupo de António Carrapatoso.

"Pessoa, de Fátima", no Esquerda Republicana, a propósito do escrito recentemente divulgado do grande poeta português.

"Ministro da Administração Interna enfrenta fogos de Verão", no Edição Extra. Reportagem sobre a nova estratégia de Rui Pereira para enfrentar os fogos que poderão assolar o país.

Novo Partido de Manuel Monteiro: à terceira será de vez?

Segundo o Diário Digital, Manuel Monteiro vai formar um novo partido de direita. Ocorreu-me que se podia tratar de um erro. Um destaque que, por lapso, teria ido buscar a 2003 a notícia da fundação da Nova Democracia. Mas não, não se tratou de qualquer erro. É mesmo verdade…

Manuel Monteiro vai auscultar várias pessoas descontentes do PSD e CDS no sentido de ser formado um novo partido de “direita ampla”. Segundo afirmou, “tem em suas mãos uma lista de 35 pessoas de Norte a Sul do país.” Caso obtenha sucesso, Manuel Monteiro vai «propor a extinção da Nova Democracia» e convidar os seus membros a «integrarem a nova força».

Bem… Manuel Monteiro é, no mínimo, persistente. Chateou-se com o seu CDS-PP e formou a Nova Democracia. Começou a aborrecer-se com a Nova Democracia e propõe-se agora fundar outro novo partido. O espaço da direita política encontra-se mal preenchido em Portugal. Mas estranho será se o problema se resolver com este tipo de experimentalismos monteiristas.

Betão ou não Betão, eis a Questão

Segundo noticiam o Sol e o Público, Cavaco Silva não está satisfeito com a estratégia do Governo em termos de obras públicas. O presidente encontra-se “preocupado” (vulgo desagradado) com os grandes investimentos prometidos pelo Executivo.

Não deixa de ser interessante constatar que tal acontece num momento em que as obras públicas têm estado no centro do debate PS/PSD. Cavaco assume assim exactamente o mesmo discurso do seu partido que, por acaso, é agora liderado por alguém que lhe é bastante próximo.

Por outro lado, o posicionamento de Cavaco vem também demonstrar o insólito de toda esta discussão das obras públicas. Para além de uma das ministras de referência do cavaquismo, temos agora o próprio Cavaco a contestar a política do betão. Do outro lado da barricada, temos um governo socialista a defendê-la como esforço necessário para a criação de riqueza no país. Curioso, muito curioso...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Entre a Forma e o Conteúdo

Na sequência da entrevista feita a Judite Sousa, Sócrates conseguiu que o seu pacote de medidas fiscais para as classes mais necessitadas fizesse manchetes na imprensa do dia seguinte. Dois dias depois, o Público fez contas e concluiu que a montanha ameaça parir um rato

Na entrevista, Sócrates não quis avançar com pormenores. Não avançou com a abrangência das medidas, seus impactos efectivos e seus custos. Limitou-se a anunciar vagamente o que pretendia fazer com vista a demonstrar a sua sensibilidade social. Prometeu pormenores para o debate do Estado da Nação do próximo dia 10.

No entanto, nas contas hoje feitas pelo Público, o aumento das deduções fiscais para a habitação não terá resultados significativos, uma vez que, em média, as famílias com rendimentos mais baixos não pagam IRS. Por outro lado, relativamente ao IMI, as famílias mais carenciadas já possuem isenção. As famílias não tão carenciadas poderão sofrer reduções marginais… (ver o artigo do Público para maior detalhe).

Depois de uma entrevista que, em termos de forma, foi positiva (Sócrates é um mestre das entrevistas), o conteúdo da mesma começa a criar problemas. Esta coisa da política não se limitar à forma e ter de possuir algum conteúdo é uma chatice…